“N�o me arrependi de absolutamente nada que fiz, entretanto n�o faria novamente”. Essa � a conclus�o do homem que chutou um ladr�o na Savassi, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, no �ltimo dia 11 de fevereiro. A agress�o, na esquina das ruas Sergipe com Fernandes Tourinho, foi filmada. O homem revelou ao em.com.br que agiu por “impulso, raiva e revolta” tudo isso em um “ato de boa vontade em ajudar” a mulher que teve o celular roubado.
Em entrevista, o agressor afirma que o ladr�o “ofereceu grande resist�ncia” at� a chegada da PM. Segundo ele, o motivo pelo qual se envolveu na confus�o foi “o �mpeto de querer ajudar uma pessoa que estava sendo injustamente prejudicada pelo ato de outra”. O v�deo mostra o homem chutando Evandro, mas o entrevistado afirma que “o marginal foi ‘agredido’ por diversas pessoas, inclusive por pessoas que sequer participaram da persegui��o”.
O roubo aconteceu por volta das 13h50. De acordo com o boletim de ocorr�ncia da PM, Evandro abordou a v�tima – sem arma – e tomou o celular. Testemunhas correram atr�s do ladr�o e conseguiram peg�-lo ainda na Fernandes Tourinho. Evandro foi detido e apanhou das testemunhas do roubo, antes da chegada da PM. A mulher recuperou o celular e deixou o local do crime sem esperar o registro da ocorr�ncia pela pol�cia. Segundo a PM, ao tentar fugir antes de ser capturado por populares, Evandro danificou o retrovisor e o porta-malas de um carro estacionado na rua.
Leia na �ntegra a entrevista com o homem que chutou o ladr�o:
1) O que o levou a se envolver no caso?
O que me levou a envolver no caso foi o �mpeto de querer ajudar uma pessoa que estava sendo injustamente prejudicada pelo ato de outra. Infelizmente, sempre que vejo alguma injusti�a acontecendo eu n�o me sinto bem e procuro ajudar da melhor forma que posso, mas foi a primeira vez que me envolvi em uma situa��o como a que ocorreu no �ltimo dia 11.
2) Como tudo aconteceu?
Eu tinha acabado de me sentar � mesa para almo�ar em um restaurante pr�ximo ao fato quando escutei gritos e vi o marginal correndo em sentido contr�rio ao do tr�nsito, enquanto outras pessoas corriam atr�s e gritavam “pega ladr�o, pega ladr�o!”. Ent�o, no �mpeto de querer ajudar, sai correndo de dentro do restaurante na dire��o do marginal, deixando l� meus pertences e o prato de comida que eu tinha acabado de servir. No cruzamento da rua Fernandes Tourinho com a rua Sergipe, conseguimos alcan�ar o marginal, ocasi�o em que o mesmo apresentou grande resist�ncia diante das tentativas de imobiliz�-lo por parte de outras pessoas que tamb�m estavam ali no local. Foi tudo muito r�pido, lembro-me que quando ele foi derrubado v�rias pessoas o chutaram, inclusive pessoas que n�o participaram da persegui��o. At� ent�o eu n�o tinha desferido nenhum soco ou chute contra o mesmo. Em poucos minutos o local j� estava completamente cercado por diversas pessoas que expressavam suas opini�es, umas no sentido de que n�o era para agredir o marginal e, a maioria, no sentido de que o mesmo merecia ser “castigado”. Eu que estava mais pr�ximo daquele lembro-me de ter dito aos demais que o estavam agredindo que n�o precisava mais, uma vez que j� estava dominado. Da� pedi para que ele ficasse deitado no ch�o, de bru�os, com as m�os para tr�s, aguardando a policia chegar. Naquele momento, diante da recusa do marginal, bem como pelo fato de que ele tinha, durante a tentativa de fugir, me agredido com uma cotovelada que acertou meu peito, por impulso, raiva e revolta, acabei desferindo um chute contra ele. Logo ap�s ter dado o �nico chute no marginal ele me disse: “voc� vai ver quando a pol�cia chegar!” A partir de ent�o, ficamos ali aguardando a policia chegar para que fossem tomadas as provid�ncias cab�veis. Quando a PM chegou ao local fomos procurar a v�tima do furto, entretanto a mesma infelizmente n�o aguardou a chegada dos policiais e acabou frustrando todo o acontecido. Ato cont�nuo a PM fez ali o seu trabalho e inclusive teve que conter novamente o marginal que por um momento tentou escapar dos policiais.
3) O v�deo mostra apenas o senhor chutando o ladr�o. Ele foi agredido anteriormente, pelo senhor ou por outras pessoas?
Como disse na resposta anterior, o marginal foi “agredido” por diversas pessoas, inclusive por pessoas que sequer participaram da persegui��o, tal fato pode ser constatado no pr�prio v�deo que foi veiculado pela m�dia, ao final, quando sobressai um �udio (aos 1min54seg) de um Sr. dizendo: “Foi todo mundo que chutou, n�o foi s� ele n�o, foi todo mundo!”. O meu ato impensado de dar aquele chute foi motivado, como j� dito, pela agress�o anterior que sofri e tamb�m pela recusa do marginal em se manter inerte e sem resist�ncia. Acho que aquele chute tamb�m foi motivado pela postura prepotente daquele marginal que a todo momento se comportou como certo de que aquele seu ato n�o lhe traria maiores consequ�ncias, ou seja, por ser um bandido “experiente” tinha consigo a certeza da impunidade.
4) O ladr�o mostrou resist�ncia?
Sim, ele ofereceu grande resist�ncia. Em que pese as imagens que foram veiculadas mostrarem t�o somente a parte “final” dos acontecimentos, as rea��es dos populares, inclusive a minha, foram proporcionais � a��o do marginal que tentou fugir por diversas maneiras, inclusive fui alvo de uma cotovelada que me acertou no peito.
5) O senhor est� arrependido de ter se envolvido no caso e de ter chutado o ladr�o?
Se eu disser que me arrependi de ter me envolvido naquela situa��o e de ter chutado o marginal eu estaria mentindo. N�o me arrependi de absolutamente nada que fiz, entretanto n�o faria novamente, pois, em que pese ter sido um ato de boa vontade em ajudar, foi um ato impensado de minha parte, afinal de contas, como conhecedor da legisla��o, sei que infelizmente a Lei penal � muito branda ao punir o indiv�duo que comete aquele tipo de crime. Minha rea��o foi t�o impensada que expus minha pr�pria integridade f�sica a risco, afinal de contas naquele momento sequer cheguei a me preocupar com a possibilidade daquele marginal estar armado.
6) Caso o fato ocorresse hoje de novo, o senhor faria o mesmo ou n�o?
Como se extrai de minha resposta anterior, infelizmente hoje o cidad�o de bem tem somente duas op��es diante de situa��es como aquela, a primeira � fechar os olhos, virar para o outro lado e fingir que n�o est� vendo e, a segunda, � tentar ajudar da melhor forma que vier � mente naquele instante. Infelizmente diante do atual panorama a melhor alternativa � fechar os olhos e adotar a conduta individualista que a maioria adota, individualismo este que est�, a cada dia, nos distanciando do real sentido de civiliza��o.
7) Como o senhor v� a situa��o da seguran�a p�blica atualmente?
Acho que tal pergunta ficaria ainda melhor se a express�o “seguran�a p�blica” fosse substitu�da pela “inseguran�a p�blica”. Atualmente, o cidad�o de bem encontra-se, valendo-me aqui de uma express�o popular, em um “mato sem cachorro”, afinal de contas n�o pode contar com a prote��o Estatal e tampouco disp�e de meios pr�prios e l�citos para garantir sua pr�pria integridade f�sica e defender a sua propriedade. O Brasil caracteriza-se por ser um dos pa�ses com a maior produ��o legislativa do mundo, entretanto parece-me que at� agora n�o percebeu que o problema n�o se resume em ter Leis, brandas ou severas. N�o adianta ter leis sem mecanismos efetivos e c�leres que garantam a aplicabilidade do texto legal. A lei penal, ao contr�rio do que muitos pensam, n�o visa, precipuamente, punir aquele indiv�duo que a transgrediu, mas sim, desestimular o indiv�duo a praticar o delito, por isso pode-se dizer que no momento em que o indiv�duo cometeu o crime o Estado, atrav�s da Lei penal, falhou, afinal de contas n�o conseguiu alcan�ar seu objetivo prim�rio. Aqui no Brasil a Lei penal j� n�o mais consegue desestimular ningu�m a praticar o delito e, infelizmente, j� n�o mais consegue punir devidamente aquele transgressor, especialmente pela atual (des)estrutura das nossas valorosas pol�cias e especialmente do Poder Judici�rio. A meu ver, o Brasil est� muito longe de conseguir dar ao cidad�o de bem a seguran�a que merece, afinal de contas para que isso ocorra s�o necess�rios investimentos em diversos setores, especialmente e principalmente na Educa��o, necessidade esta que n�o se mostra muito atraente para os governantes, afinal de contas uma popula��o mais instru�da necessariamente ser� uma popula��o mais questionadora. Concordo plenamente com aqueles que dizem que a viol�ncia n�o � o melhor caminho, entretanto, entendo que no atual contexto de elevada criminalidade, a mesma somente ser� combatida atrav�s de solu��es a curto e a longo prazo. A curto prazo, precisamos de um Estado que adote uma postura mais opressora diante da criminalidade, por exemplo, atrav�s de policiais mais bem treinados, remunerados e aparelhados, realmente aptos a combater o crime e os criminosos, pois n�o se vence uma guerra distribuindo buqu�s de flores. A longo prazo precisamos de investimentos em pol�ticas sociais, em educa��o e na estrutura��o do Poder Judici�rio, especialmente atrav�s da amplia��o do n�mero de Magistrados e de uma reconstru��o do sistema penitenci�rio brasileiro que atualmente nada mais � do que uma escola para o crime. Precisamos tamb�m refletir s respeito desta idiotice que se tornou a Lei do Desarmamento aqui no Brasil, que serviu unicamente para desarmar o cidad�o de bem que mantinha ali em sua resid�ncia uma arma de baixo calibre. Os bandidos est�o a�, a cada dia que passa, portando armas que, muitas vezes, a pr�pria pol�cia n�o porta e desconhece. � um argumento tolo e ultrapassado aquele no sentido de que possibilitar ao cidad�o de bem a aquisi��o e o porte legal de arma de fogo ir� aumentar os �ndices de viol�ncia, afinal de contas basta analisar os �ndices de crimes cometidos com armas de fogo em pa�ses cujo o comercio e o porte � acess�vel � popula��o de bem, para ver que este n�o � um fator que contribui para o aumento da criminalidade. Acredito que se tiv�ssemos aqui uma legisla��o que realmente possibilitasse ao cidad�o de bem, ap�s o cumprimento de certos requisitos, dentre estes a comprova��o de aptid�o t�cnica e psicol�gica, adquirir e portar uma arma de fogo ou outros mecanismos de defesa, o marginal pensaria duas vezes antes de sair cometendo crimes. A atual legisla��o, em que pese tecnicamente n�o proibir, praticamente impossibilita ao cidad�o alcan�ar tal direito, especialmente pelo elevado custo e pela discricionariedade dada � Pol�cia Federal que atualmente � a respons�vel por conceder ou n�o a autoriza��o para a posse e porte de armas de fogo.
8) E em Belo Horizonte, especificamente?
Belo Horizonte, a meu ver, n�o se diferencia muito dos demais centros urbanos. Em que pese n�o ser natural de BH, eu vivi nesta cidade por muitos anos a ponto de aprender a admira-la. Belo Horizonte � uma cidade que possui absolutamente tudo para ser a melhor capital para se viver, entretanto vem perdendo seu brilho em fun��o da criminalidade que a assombra. H� aproximadamente 4 anos eu deixei de residir em Belo Horizonte e fui para o interior, sendo que a cada dia que se passa torna-se, para mim, mais evidente que a minha escolha de ter retornado para o interior foi correta. Considero que viver em BH atualmente � muito dif�cil, por distintos e diversos motivos, dentre estes a viol�ncia que n�o se resume � criminalidade. Cito aqui o exemplo do tr�nsito em BH, � um absurdo, ningu�m tem bom senso e as pessoas parecem disputar uma corrida irracional, todos contra todos. N�o � raro de se ver a situa��o onde voc� est� dirigindo, liga a seta do ve�culo para trocar de faixa e o motorista que est� atr�s, na outra faixa, acelera o ve�culo para que voc� n�o passe. Isso � irracional, � uma postura muito mais violenta e idiota do que a minha conduta de ter chutado aquele marginal em um momento de revolta.
Por fim, gostaria aqui de deixar um recado para a pessoa que filmou e cedeu as imagens � m�dia: Se eu errei ao chutar aquele marginal, pelo menos eu errei durante um ato de solidariedade com uma pessoa que sequer conhe�o. Pelo menos eu sa� da minha zona de conforto para tentar ajudar algu�m; se errei, eu errei tentando acertar, tentando contribuir de alguma forma positiva para que este mundo se torne melhor. E voc�, o que voc� faz para tentar melhorar o mundo, ou ao menos o local onde mora? Por que voc� n�o interferiu na situa��o para ajudar, ao inv�s de se limitar a filmar o fato de forma tendenciosa? Sugiro que da pr�xima vez voc� n�o se esconda atr�s de uma tela de celular e saia de sua zona de conforto para contribuir de alguma forma positiva para o mundo, afinal de contas o mundo j� est� cheio de revolucion�rios de redes sociais e pessoas covardes que se escondem atr�s de seus celulares para captar imagens de acontecimentos do dia-a-dia sem outra inten��o que n�o a de expor e/ou julgar algu�m ou, ainda, de receber curtidas em perfis de redes sociais.