Mateus Parreiras e Valquiria Lopes

Viagens bem mais r�pidas e seguras em ve�culos confort�veis e com ar-condicionado para muitos passageiros. No sentido oposto, longas filas, baldea��es, grandes intervalos entre as viagens e esta��es superlotadas para outros tantos usu�rios. Maior aposta da prefeitura para melhorar o transporte p�blico em Belo Horizonte, o sistema BRT/Move (bus rapid transit em ingl�s transporte r�pido por �nibus), com investimento de cerca de R$ 1 bilh�o, completar� um ano de opera��o no domingo. Para avaliar o desempenho do sistema, o Estado de Minas inicia hoje uma s�rie de reportagens sobre a satisfa��o dos passageiros, a rotina das viagens e a estrutura oferecida. Depois de tr�s anos de obras e sete datas para inaugura��o, o Move come�ou a funcionar em 8 de mar�o de 2014, com �nibus articulados e inicialmente com 23 quil�metros de malha vi�ria em tr�s corredores exclusivos nas avenidas Cristiano Machado, Ant�nio Carlos/Pedro I, Santos Dumont e Paran�. Chegar ao primeiro embarque, no entanto, n�o foi f�cil. Quando o corredor Cristiano Machado estava praticamente pronto, em 2013, v�rias esta��es de transfer�ncia precisaram ser mudadas de lugar, por causa de erros de projeto. Em plena Copa do Mundo, a queda do Viaduto Batalha dos Guararapes matou duas pessoas e atrasou o cronograma da Avenida Pedro I. De l� pra c�, o Move avan�ou. S�o 450 ve�culos e 3,6 mil viagens feitas por dia por 500 mil passageiros em 19 linhas troncais – que partem das esta��es de integra��o em dire��o ao Centro – e em 73 que alimentam esses terminais, vindas dos bairros.
Uma viagem feita em corredor exclusivo e em �nibus com ar-condicionado que nem de longe lembra a pen�ria de ficar horas parado em irritantes congestionamentos. Andar de Move em Belo Horizonte apresentou o lado bom do transporte coletivo aos passageiros, que sempre conviveram com ve�culos convencionais, de motor dianteiro e desconfort�veis. Na lista de vantagens h� ainda redu��o no tempo das viagens. A BHTrans, que gerencia o transporte e o tr�nsito na capital, afirma ter havido diminui��o de 47% no corredor Ant�nio Carlos e de 43% na Avenida Cristiano Machado, resultado do aumento da velocidade m�dia nas duas pistas.
Enquanto nas pistas mistas coletivos circulam a 17km/h, na cidade, as linhas diretas chegam a 44km/h e as paradoras, 30km/h. O veloc�metro mostra que trafegar com a m�nima interfer�ncia das longas filas de carros, motos, caminh�es e outros coletivos do sistema de transporte p�blico ganhou a simpatia dos passageiros dos novos e modernos �nibus. Mas o sonho dourado do transporte p�blico n�o dura toda a viagem. Andar no Move em BH � conviver ainda com esta��es lotadas, longas filas de espera para embarque, baldea��es que atrasam deslocamentos e inseguran�a, j� que n�o h� presen�a policial, da Guarda Municipal ou de agentes particulares nos terminais.
Passageiros est�o divididos entre os benef�cios e as dificuldades. H� quem diga que o conforto dos novos coletivos supera qualquer problema, que na avalia��o do empres�rio Pascoal Pimenta da Silva, de 60 anos, eram muitos antes da nova frota. “S� de ter ar-condicionado nesse calor estarrecedor de BH j� est� �timo. As viagens no meu caso, que vou de Venda Nova ao Centro, tamb�m ficaram mais r�pidas por causa dos corredores exclusivos.”
O recepcionista Cl�ber In�cio de Oliveira, de 51, fala em redu��o de at� 50% no tempo de viagem na Cristiano Machado. Ele mora no Bairro Tupi, Regi�o Norte, e elogia a rapidez do sistema. “Da minha casa at� o Centro, gastava cerca de uma hora. Agora, mesmo tendo que fazer uma baldea��o na Esta��o S�o Gabriel, gasto metade do tempo”, garante.
Vizinha da Avenida Cristiano Machado, a dona de casa Geovana Silva, de 33, que mora no Bairro Cidade Nova, Regi�o Nordeste, tamb�m diz que n�o tem nada a reclamar. “Sempre que ia ao Centro, ficava presa em congestionamentos, a qualquer hora do dia. Hoje, mesmo no hor�rio de pico, quando as outras pistas est�o paradas, fa�o o percurso em tempo m�nimo. � muito bom”, afirma.
Para o militar Ronaldo Fernandes dos Santos, de 46, as vantagens do Move ainda n�o superam a lota��o do sistema. “Todos os dias as esta��es do Centro est�o supercheias. A gente vive se espremendo nas filas de embarque e quem chega nos outros �nibus n�o tem espa�o para sair. � uma situa��o terr�vel. Todo mundo apertado, mulher, crian�a, idoso, doente, deficiente, gr�vida. � um caos toda hora. O tempo de deslocamento tamb�m piorou demais. Tenho de pegar quatro �nibus para ir do Mantiqueira ao Centro, em uma hora e 30 minutos. Antes, pegava o 61 e eram 40 minutos”, lamenta.
O confeiteiro Fabiano Campos de Souza, de 25, tamb�m est� insatisfeito: “Tenho de esperar sentado na base dos pilares da Esta��o Pampulha at� o meu �nibus, da linha 64, para a Esta��o Vilarinho, chegar. S�o mais de 30 minutos e n�o tem bancos nem cadeiras. Minha vida piorou demais” Ele completa dizendo que antes resolvia tudo com um �nibus e agora precisa pegar tr�s, dependendo do lugar para aonde vai. “E o pior � que se estou em Venda Nova e quero ir para outro lugar da regi�o, preciso pegar um �nibus do bairro para a esta��o e voltar para Venda Nova. A gente anda para tr�s.”