
A entrega do objeto sacro, divulgada ontem, ocorreu em 10 de fevereiro, depois que uma pessoa ligou para o CPPC “dizendo que tinha uma coisa para entregar”, conta Marcos Paulo. Foi ent�o que compareceu � sede da institui��o, no Bairro Barro Preto, na Regi�o Centro-Sul da capital, um homem levando a escultura enrolada em jornais antigos. Sem dispor de muitos dados, ele se limitou a informar que a imagem estava com a sua fam�lia havia mais de 30 anos e queria devolv�-la, “pois todos estavam incomodados e achavam que a pe�a deveria voltar � comunidade de origem”, diz Marcos Paulo.
“A decis�o da fam�lia foi tomada, segundo o homem, depois da publica��o da reportagem no Estado de Minas, em 22/11/2014, sobre a devolu��o ao CPPC, por duas pessoas, de oito pe�as que pertenceram � Igreja de Nossa Senhora da Concei��o, erguida na segunda metade do s�culo 18 e hoje em ru�nas na Fazenda da Jaguara, ou Jagoara, em Matozinhos, na Grande BH. O templo tem a arte de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), cujo bicenten�rio de morte era lembrado naquele m�s. “Ao que tudo indica, a imagem de Nossa Senhora do Ros�rio ficou embrulhada e guardada por mais de duas d�cadas no jornal, que � uma edi��o do EM da d�cada de 1990”, revela o promotor de Justi�a.
Pelas formas e demais caracter�sticas da escultura de 55 cent�metros de altura, 32cm de largura e 20cm de profundidade, ela pode ter pertencido a templos cat�licos de Sete Lagoas e Curvelo, na Regi�o Central, ou Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. “Uma das possibilidades � de que seja da Capela de Nossa Senhora do Ros�rio, do distrito de Tom�s Ant�nio Gonzaga, em Curvelo. J� fizemos contato com o padre de l�. Nesse momento, � fundamental a participa��o da comunidade, principalmente dos mais antigos moradores, que podem ter alguma fotografia, se lembrar de celebra��es, enfim, ter essa mem�ria ”, orienta Marcos Paulo. De acordo com o Departamento de Cultura e Patrim�nio da Prefeitura de Curvelo, a capela do distrito � do in�cio do s�culo 18, tem tombamento municipal e passa por vistorias peri�dicas.

NOVO TEMPO Com certeza, acrescenta o promotor de Justi�a, a escultura saiu do altar de uma igreja, pois traz na base um cravo que a prendia � peanha (pedestal de madeira). “Temos um mist�rio a desvendar”, ressalta. A imagem j� passou por um processo de higieniza��o e a pr�xima etapa ser� encaminh�-la para diagn�stico ao Centro de Conserva��o e Restaura��o de Bens Culturais M�veis da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor/EBA/UFMG). Os testes dever�o identificar o tipo de madeira, que se assemelha ao cedro. T�o logo seja restaurada, a escultura ser� integrada ao patrim�nio cultural de Minas.
De grande beleza e obra de qualidade, segundo a equipe do CPPC, a imagem est� infestada de cupins. Para evitar maior degrada��o, partes como o rosto da santa, o bra�o do Menino Jesus segurando o globo e outras foram acondicionadas separadamente, assim como a coroa de metal, considerada “muito bem trabalhada”.
A devolu��o mostra um novo tempo na hist�ria do resgate de pe�as desaparecidas, ao longo de d�cadas, de igrejas, capelas, museus e outras institui��es de Minas. “Houve mudan�a na postura das pessoas. Em seis meses, tivemos tr�s devolu��es espont�neas”, afirma Marcos Paulo. A campanha em Minas deslanchou em julho/agosto de 2013, quando a Associa��o Cultural Comunit�ria de Santa Luzia, na Grande BH, ajuizou a��o para recuperar tr�s anjos pertencentes ao Santu�rio de Santa Luzia e que iriam a leil�o no Rio de Janeiro (RJ).
Com a decis�o judicial favor�vel, as esculturas do s�culo 18 retornaram ao estado e ficaram sob guarda do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG), podendo hoje ser admiradas na Matriz de Santa Luzia. Um dos principais efeitos dessa luta foi a cria��o de uma for�a-tarefa para cuidar especificamente dos bens desaparecidos e, na sequ�ncia, estabelecimento de uma pol�tica espec�fica para o setor. Minas Gerais j� perdeu mais de 60% do seu patrim�nio, devido a roubos, vendas ilegais etc. e, nos �ltimos anos, as autoridades conseguiram recuperar mais de 600 pe�as – muitas voltaram aos locais de origem e outras est�o guardadas em reservas t�cnicas.
Mem�ria
Pe�as devolvidas

Em seguida, outro colecionador, tamb�m de nome n�o divulgado, surpreendeu a equipe do CPPC ao entregar um conjunto de portas frontais, com duas bandeiras e duas partes superiores (sobrebandeiras), de madeira, e o conjunto de portas laterais. O ponto de partida para entrega das pe�as ocorreu em 20 de mar�o de 2014, quando o coordenador do CPPC, Marcos Paulo de Souza Miranda, publicou no EM o artigo “Jaguara: igreja m�e”. Os objetos devolvidos foram encaminhados pelo promotor de Justi�a ao Museu Mineiro, em Belo Horizonte.
SERVI�O
PARA DENUNCIAR
Quem tiver informa��es sobre pe�as desaparecidas pode acionar os seguintes �rg�os
Minist�rio P�blico de Minas Gerais
» e-mail: [email protected] e telefone (31) 3250-4620. Pode tamb�m enviar correspond�ncia para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte. CEP 30.140-062
Iphan
» Para obter ou dar informa��es, basta acessar o www.iphan.gov.br e verificar o banco de dados de pe�as desaparecidas. Den�ncias an�nimas podem ser feitas pelo telefone (21) 2262-1971, fax (21) 2524-0482, pelo e-mail [email protected], ou no pr�prio banco online
Iepha/MG
» www.iepha.mg.gov.br ou pelo telefone (31) 3235-2812 ou 2813
