
Uma parte da hist�ria da arte de Minas Gerais foi parar no Vaticano. Com o objetivo de ressaltar a relev�ncia da arte sacra mineira para o mundo, o governador Romeu Zema (Novo), presenteou o Papa Francisco com um conjunto de palmas barrocas. Confeccionada em chapas met�licas e banhada a ouro, a obra � considerada Patrim�nio Hist�rico da cidade de Sabar�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, �nica cidade a desenvolver e deter at� hoje uma tradi��o pr�pria de confec��o das palmas barrocas.
Trazidas de Portugal no s�culo 18, as palmas barrocas se tornaram um item muito utilizado na ornamenta��o de orat�rios e altares no per�odo colonial. Foi em Sabar� que a tradi��o resistiu e ganhou for�a, quando na d�cada de 1980, atrav�s do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (IPHAN), a produ��o dos arranjos florais foi resgatada pelas m�os dos artes�os e se tornaram um dos s�mbolos da cidade.
O estilo de arte foi atualizado em 1998 quando o artista pl�stico George Helt desenvolveu e introduziu uma nova t�cnica de confec��o. O artista conta: “Quando eu conheci as palmas em Sabar�, as artes�s ainda fabricavam elas com papel e tecido, ent�o n�o tinha durabilidade, n�? Eu inventei essa t�cnica em que a palma � cortada na folha de cobre, depois � modelada e encrespada e recebe um banho de ouro. Ent�o ela dura por muito tempo e fica uma beleza tamb�m.”
Com o desenvolvimento da nova t�cnica, George repassou o novo modo de fazer as palmas barrocas atrav�s de cursos ministrados para as artes�s de Sabar�. “Eu continuei a trabalhar com as mulheres l� de Sabar� para que a tradi��o permanecesse l�. E eu ainda combinei com elas: ‘essa � uma t�cnica que eu t� ensinando para voc�s, n�o passem esse conhecimento para diante, porque � para ficar aqui’. Ai conseguimos fazer essa trabalho de manter a tradi��o na cidade”, conta. Al�m da utiliza��o do metal e do banho de ouro na confec��o, as flores e folhas das palmas s�o comportadas por um vaso de pedra sab�o que, de acordo com o artista pl�stico, reafirma a origem mineira da obra.

Foi justamente o precursor da t�cnica que assinou o conjunto de palmas entregue ao Papa Francisco. Ele conta como foi a sensa��o ao ver o presente no Vaticano: “Voc� n�o pode imaginar, loucura. Eu abri a boca para chorar, o que que eu ia fazer? Nossa, senhora � emo��o demais, n�? Porque de repente voc� tem um produto que voc� fez, criou chegando na m�o do Papa. Ent�o isso para mim foi um pr�mio, n�?”.
Al�m dele, o s�cio Reny Da Fonseca, tamb�m assina o presente recebido pelo l�der religioso. Enquanto George foi o respons�vel pela cria��o do modo de produ��o, Reny a aperfei�oou, aumentando ainda mais a durabilidade da obra. “Quando eu vi o trabalho que estava sendo feito foi amor � primeira vista. Eu falei com o George: ‘se voc� me der uma chance, n�s vamos modificar e eternizar as palmas’. Como eu trabalho na �rea da joalheria, eu sugeri soldar e cravar pedras no mesmo sistema de um anel de brilhante. N�s transformamos a palma em uma j�ia”, conta Reny.
Atualmente, � Reny que fica respons�vel pela produ��o das palmas barrocas. O artista concorda com o s�cio e afirma que a emo��o foi alta ao ver a obra chegando nas m�os do Papa. “� uma emo��o sem compara��o. Depois de todo esse per�odo produzindo � como se eu tivesse chegado no auge. Eu n�o tenho mais para quem oferecer as palmas porque para mim n�o tem ningu�m acima do Papa. � uma alegria incontrol�vel, vou te contar que nem estou conseguindo trabalhar hoje”, conta rindo.
De acordo com o artista, as fotos n�o fazem jus ao que � visto ao vivo: “Por foto, eu acho que n�o consegue traduzir, n� a delicadeza, a riqueza de detalhes. Ent�o s� vendo em m�os, voc� vai ver quanto a pe�a � linda.”. O n�mero de palmas produzidas diminuiu gra�as ao trabalho que George e Remy realizam no Instituto Cultural Boa Esperan�a, que promove a��es de qualifica��o profissional para pessoas de baixa renda. Mas para aqueles que desejam ver as palmas ao vivo, os s�cios costumam fazer algumas exposi��es na cidade, tendo ficado expostas no Pal�cio das Artes e em uma feira realizada no Bairro Gameleira, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte.
Em Sabar�, a obra � perpetuada pela restauradora e artes� Herc�lia Batista Herculano, aluna de George Helt. A artista possui mais de 40 anos de experi�ncia na elabora��o dos refinados buqu�s de flores e foi uma das principais respons�veis pelo movimento de tombamento das palmas como patrim�nio imaterial de Sabar�.
Como elas s�o feitas
- Em primeiro lugar, � preciso cortar a l�mina de cobre em tiras
- Em seguida, as tiras ser�o levadas ao fog�o a g�s, num processo denominado “queima”, o que torna o metal mais macio e male�vel
- Com uma ferramenta chamada boleador, o artes�o vai dando formato �s flores. Para as folhas, ser� usado o frisador
- O pr�ximo passo ser� mandar para uma empresa, a fim de dar o banho de ouro ou prata nas pe�as
- A �ltima etapa ser� fazer as palmas, amarrando as flores e folhas com arame dourado e um cabo no mesmo tom. O acabamento pode ser com um la�o dourado
Fonte: Dirl�ia Concei��o Neves Peixoto