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Estado de Minas

Mineira que faz careta para evitar ass�dio levanta discuss�es sobre feminismo e machismo

Mineira faz sucesso na internet ap�s levantar o l�bio e mostrar os dentes para evitar ass�dio nas ruas do Centro de BH


19/03/2015 06:00 - atualizado 19/03/2015 07:16

Débora Adorno mostra como faz para evitar assédio: depois de se sentir agredida ao passear pela Rua Oiapoque e virar alvo de cantadas, ela passou a mostrar os dentes. Texto sobre a 'tática' publicado na web ganhou milhares de curtidas (foto: Euler Júnior/EM/DA PRESS)
D�bora Adorno mostra como faz para evitar ass�dio: depois de se sentir agredida ao passear pela Rua Oiapoque e virar alvo de cantadas, ela passou a mostrar os dentes. Texto sobre a 't�tica' publicado na web ganhou milhares de curtidas (foto: Euler J�nior/EM/DA PRESS)

A rea��o bem humorada da estudante de administra��o p�blica D�bora Adorno, de 22 anos, ao ass�dio verbal demonstra que a cantada �s mulheres nas ruas n�o significa elogio. Cada vez mais, as mulheres entendem que � agress�o. Na �ltima sexta-feira, na Rua Oiapoque, no entorno dos shoppings populares do Centro de BH, a jovem foi v�tima dos dizeres de homens que passavam e trabalhavam na regi�o. Indignada com o ato de invas�o de sua privacidade, descobriu uma forma divertida de desviar olhares masculinos: mostrou os dentes, comprimindo o l�bio sobre a gengiva. A careta foi a arma que ela encontrou para afastar as abordagens indesej�veis.

O relato de D�bora foi postado em seu perfil nas redes sociais e amplamente comentado por internautas brasileiros – at� o fechamento desta edi��o passavam de 24 mil curtidas e 3,4 mil compartilhamentos. A atitude e o desabafo na internet integram a��es de muitas jovens que querem dar um basta no famoso “fiu-fiu”. “Tem homem que v� a cantada de rua como um elogio. Pensa que a mulher gosta e que est� na rua para isso mesmo”, diz a estudante. Independentemente da roupa, do tipo f�sico ou estilo, as mulheres est�o sujeitas a sofrer com a aproxima��o indesejada de estranhos. Muitas desviam o caminho quando veem uma concentra��o de homens, pois temem ser cantadas.

Assediada desde os 13 anos por homens nas ruas e criada com os irm�os em uma fam�lia tradicional, D�bora percebeu o tratamento diferenciado entre homens e mulheres. Sentia-se incomodada com a liberdade que os irm�os tinham, mas que a ela era concedida com restri��es. Somente aos 18 anos, ela se emancipou. Encontrou-se com o feminismo, passou a estudar e atuar para a igualdade entre os g�neros. O mesmo espa�o que ela usou para divulgar o desabafo tamb�m foi onde encontrou informa��es sobre a luta das mulheres. A jovem se tornou leitora ass�dua de diversos sites que defendem o feminismo e condenam o machismo.

Com cabelos negros e longos, alta e esguia, olhos grandes expressivos, � imposs�vel n�o notar a presen�a de D�bora. No entanto, a jovem faz quest�o de dizer que o ass�dio n�o est� associado � sua beleza. Para ela, � pr�tica cultural em uma sociedade patriarcal, na qual o homem tem papel determinante, e que o corpo da mulher � hipersexualizado. Ela lembra que a cultura brasileira alimenta a imagem da mulher como objeto. Ent�o, para ser v�tima do ass�dio nas ruas, n�o precisa ser bonita, n�o � necess�rio usar decote, n�o � exclusividade de alguns locais .

Basta ser mulher e estar no espa�o p�blico para, em algum momento da vida, ou v�rios, receber cantadas masculinas. “N�o � porque a rua � p�blica, que o meu corpo tamb�m � p�blico”, diz. Feminista por convic��o, ela pondera que a luta das mulheres por igualdade costuma ser deslegitimada como se fosse histeria ou drama. No entanto, ela frisa que o machismo est� permeado em todas as rela��es sociais. Conta que o irm�o, que � bombeiro de porte atl�tico, recebe cantadas de mulheres e se sente muito invadido. Ele pr�prio reconheceu, no entanto, que � muito menos assediado do que qualquer mulher. Enquanto para os homens, o fiu-fiu � algo eventual, para as mulheres faz parte da rotina.

O epis�dio leva muitas meninas a pensarem sobre uma palavra pouco conhecida, mas que � fundamental na emancipa��o feminina: sororidade. O termo quer dizer que as mulheres s�o solid�rias e se apoiam em diversas situa��es. Ao contr�rio de uma ideia de que elas est�o sempre competindo uma com as outras, o feminismo revela que pode haver mais comunh�o entre elas. D�bora tem certeza que foi isso que ocorreu para que seu relato ganhasse o Brasil. O apoio tamb�m parte de suas colegas de faculdade, que aderiram ao m�todo do dentinho.

SEM PRECONCEITO

A estudante Lu�sa Souza Costa, de 20, tamb�m j� sofreu ass�dio nas ruas. Uma das situa��es mais constrangedoras ela passou ao lado de sua irm� g�mea, Larissa. As duas foram paradas na rua de casa por um sujeito, que come�ou a falar palavras obscenas, que a jovem sequer tem coragem de repetir. Recordar o caso a deixa nervosa. “� muito desconfort�vel. Evito vestidos e saias. Quando vou para a faculdade e pretendo sair mais tarde, levo a roupa na bolsa”, conta.

Cada vez mais, as mulheres tomam coragem de encarar o ass�dio. A estudante Isadora Ribeiro, tamb�m de 20, sempre fica s�ria e encara o assediador. Mas ela lembra que muitas ainda preferem desviar o olhar ou baixar a cabe�a. Para ela, a forma encontrada por D�bora � bem descontra�da, mas n�o retira a seriedade do enfrentamento. “Muitas mulheres interpretaram o detinho e a careta como uma brincadeira, uma forma de banalizar o ass�dio. Foi a maneira que ela encontrou. Toda mulher tem que reagir como lhe for mais confort�vel.” A jovem tamb�m se considera feminista. “N�o � preciso super estudar o assunto ou ser ativista. O feminismo tem que ser demonstrado no dia a dia.”

Depois do sucesso no post, D�bora escreveu para responder alguns coment�rios que questionavam se ela n�o estava ridicularizando pessoas que tinham essa defici�ncia f�sica. A jovem reafirma que � contra qualquer tipo de discrimina��o, inclusive o preconceito motivado por padr�es de beleza.

TRECHOS DO POST
“Foi a� que um cara que passava na dire��o contr�ria da minha veio me olhando... me encarando, e da�, antes de ele falar alguma coisa, fiz a careta do dentinho. O cara estranhou e passou reto.”

“Nessa hora choveu um arco-�ris dentro de mim, porque de uma hora para outra n�o era mais eu quem estava desconfort�vel, de uma hora pra outra n�o era mais eu quem estava desviando o olhar, n�o era mais eu quem estava apertando o passo!!! E eu me senti t�o bem, t�o segura, t�o dona da situa��o, e ,cara, eu tava mesmo! Sa� dessa rua espec�fica e continuei o caminho at� meu ponto de �nibus, feliz demais e com o dentinho l� � mostra e nenhum cara mexeu comigo, absolutamente nenhum, em um caminho de uns 10 minutos pelo Centro da cidade.”

“E para os homens, eu j� cansei de falar sobre isso, apenas parem. N�o � um elogio, � uma agress�o.”


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