
O clima de inseguran�a no c�mpus da Universidade Federal de Minas Gerais, na Regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte, n�o se limita � Faculdade de Filosofia e Ci�ncias Humanas (Fafich), onde traficantes ocuparam parte do pr�dio para a venda de drogas, conforme o Estado de Minas vem denunciando desde a �ltima sexta-feira. Com o corte de verbas da Uni�o, a crise financeira que se abateu sobre a maior universidade do estado se traduziu, entre outras baixas, em demiss�o de funcion�rios terceirizados. Equipes de seguran�a est�o desfalcadas e, especialmente � noite, o medo se tornou companheiro da comunidade universit�ria. A inseguran�a, admitida pelo pr�prio diretor da Fafich, Fernando Filgueiras, levou a mudan�as de comportamento. Estudantes passaram a se deslocar em grupos, professores n�o se ausentam sem trancar salas onde estejam objetos como notebooks e pesquisadores preferem carregar consigo diariamente equipamentos que, deixados em carros ou salas, poderiam ser alvo de ladr�es.
Para piorar, o refor�o na vigil�ncia da Fafich, anunciado na sexta-feira como rea��o � den�ncia de tr�fico, tende a deixar mais expostas outras partes do c�mpus Pampulha. Entre os que frequentam o espa�o, muitos temem que a comunidade universit�ria fique mais vulner�vel, j� que n�o h� restri��es � circula��o de pessoas no local. � essa a preocupa��o da aluna do quarto per�odo de farm�cia Danielle Melo, de 31 anos. Ela considera que sempre foi arriscado andar pelo c�mpus � noite, mas diz que a situa��o ficou mais cr�tica com as baixas na seguran�a. “No meu curso, precisamos nos deslocar para quatro pr�dios. Antes, no trajeto entre a Faculdade de Farm�cia e os outros edif�cios, era comum passar por pelo menos tr�s seguran�as. Agora, n�o avisto mais nenhum. Se antes era arriscado, agora ficou ainda pior”, afirmou.
Para Danielle, a falta de investimento em vigil�ncia pode atrair criminosos. “O c�mpus � um espa�o p�blico; n�o tem como restringir a entrada de pessoas que n�o estudam aqui. Uma linha de �nibus passa pela UFMG e n�o h� como controlar quem entra ou sai. O pr�dio do curso de farm�cia fica em um local bem escuro. O jeito � contar com a sorte.” Sua colega Tayza Grazielle Costa, de 21, do quinto per�odo, evita circular sozinha, principalmente na hora de ir embora. “� percept�vel que o n�mero de seguran�as diminuiu. Eu me sinto mais insegura para ir embora, quando o movimento de estudantes � menor”, pontuou. Guilherme Ribeiro, de 20, da mesma turma da universit�ria, chama a aten��o para as guaritas vazias. “Com a demiss�o dos funcion�rios, algumas portarias est�o fechadas e j� n�o h� vigil�ncia nas guaritas que ficam em pontos de maior movimenta��o. Espero que isso n�o contribua para a��es de criminosos.”
“Medo” � a palavra que a professora Ana Liddy Magalh�es, do curso de engenharia de sistemas, usa para definir o clima que a comunidade universit�ria enfrenta � noite no c�mpus. “O corte de verba afetou v�rios setores, mas estamos administrando a situa��o. Por�m, com rela��o � seguran�a, para alunos e professores que saem aqui no fim da noite a situa��o � preocupante. Quando as aulas acabam se esticando at� as 23h, os estudantes se prontificam a me acompanhar at� o estacionamento”, contou.
Segundo ela, desde que foi lecionar na universidade, h� tr�s anos, ouviu recomenda��es para evitar ser alvo de ladr�es. “Principalmente agora, me cerco de cuidados. Se saio de minha sala para ir ao banheiro, tranco tudo. Nunca tive nenhum objeto de valor roubado, mas colegas meus j� passaram por esse tipo de situa��o. Os notebooks s�o bem visados pelos criminosos”, explicou. Com rela��o � movimenta��o de pessoas estranhas no pr�dio da Engenharia, Ana Liddy diz que o quadro � bem mais tranquilo do que na Fafich. “Os alunos, principalmente da noite, s�o bem focados no curso. Houve h� alguns anos umas festas aqui no pr�dio, com som alto, que atra�am pessoas de fora. Mas a situa��o foi resolvida.”
O medo de circular pelo estacionamento � noite n�o se restringe � professora. O dentista Fabiano Tadeu Alves, de 34, que faz p�s-gradua��o na Faculdade de Odontologia, afirma que a redu��o de vigilantes deixou todos inseguros. “N�o deixo qualquer objeto dentro do carro. Prefiro circular com malas pesadas, com todo o material que uso no curso”, assinalou. Adilson dos Santos, de 42, que trabalha como funcion�rio administrativo no Departamento de Odontologia, refor�a o temor. “Nosso pr�dio est� em uma �rea mais afastada e h� risco de roubos”.
ENTENDA A CRISE
Redu��o nos repasses do governo federal deixou a maior universidade de minas em dificuldade
Novembro e dezembro de 2014
» A UFMG sofre corte or�ament�rio de R$ 30 milh�es nos repasses feitos pelo governo federal. Pagamentos de contas de �gua e luz s�o suspensos e prestadores de servi�os, demitidos. Pelo menos 80 seguran�as foram dispensados, segundo funcion�rios do setor.
» Cerca de 250 trabalhadores das �rea de limpeza e portaria tamb�m foram demitidos, pelos c�lculos dos servidores, que temiam mais 100 dispensas.
7 de janeiro
» Por determina��o do Decreto Federal 8.389/2015, o valor dispon�vel para execu��o or�ament�ria mensal de todos os �rg�os e entidades ligados ao Poder Executivo federal, incluindo a UFMG, ficou restrito a 1/18 do total .
» A medida representa um contingenciamento de 33% do or�amento previsto para 2015, que duraria at� a aprova��o da lei or�ament�ria deste ano.
17 de mar�o
» Lei do Or�amento Anual � aprovada, possibilitando, teoricamente, a retomada do escalonamento de repasse mensal de 1/12. Ainda assim, a regulariza��o n�o garante a normaliza��o imediata das atividades da universidade.
» Por causa dos compromissos atrasados, que devem ser quitados nos pr�ximos meses, o plano emergencial de redu��o de custos se mant�m.
» N�o h� previs�o de regulariza��o do d�fict de R$ 30 milh�es. Apesar da vota��o do or�amento, a UFMG informa que os repasses ainda v�m sendo feitos na propor��o de 1/18.