Traficantes vigiam boca de fumo. Ou�a as grava��es.
A noite de s�bado come�a com o movimento intenso de consumidores de entorpecentes e traficantes nas bocas de fumo do Aglomerado da Serra, maior conjunto de favelas de Belo Horizonte, na Regi�o Centro-Sul. Os maiores pontos de drogas ficam na Vila Mar�ola, na Rua Bandoneon, pr�ximo � Pra�a do Cardoso, e na escadaria da Rua Sacramento, com Rua Guaxup�. Por volta das 19h, a Pol�cia Militar inicia suas opera��es. Uma viatura da Rotam chega por um lado, da Regi�o Leste, pela Avenida do Cardoso, e outro carro, do 22º Batalh�o (Centro-Sul), vem pelo Bairro Serra. A inten��o � cercar as bocas de fumo.
Por�m, um quil�metro antes de chegar aos espa�os de comercializa��o de t�xicos, as equipes policiais s�o vistas por uma rede de r�dios dos traficantes. Do alto das lajes dos barracos e usando olheiros a p� que se disfar�am entre os moradores, os criminosos monitoram cada passo das for�as policiais e evitam apreens�es e pris�es. A PM vai embora e o tr�fico � retomado, a todo vapor, numa situa��o que tem sido recorrente. A cena descrita acima ocorreu no dia 11 e est� em uma s�rie de intercepta��es de r�dio dos traficantes de entorpecentes � qual a reportagem do Estado de Minas teve acesso (leia as transcri��esa lado).
Os traficantes vigiam a movimenta��o dos policiais por meio de r�dios transceptores port�teis, conhecidos pela abreviatura inglesa HT e que custam cerca de R$ 50 em qualquer camel� da cidade. S�o equipamentos n�o homologados pela Ag�ncia Nacional de Telecomunica��es (Anatel) com alcance de at� 3,5 quil�metros e que podem ser apreendidos. Esses aparelhos t�m dado vantagem aos grupos criminiosos que agem no morro e prejudicado a repress�o policial.
O sistema de monitoramento organizado pelos traficantes funciona da seguinte forma: uma central de tomada de decis�es, que opera no local chamado pelos criminosos de “Pra�a 7”, recebe as chamadas dos olheiros. O QG est� instalado numa boca de fumo da Pra�a do Cardoso, que tamb�m � chamada de “Principal” e “Pra�a”. Na noite em que as conversas dos criminosos foram interceptadas, os olheiros detectaram a presen�a de policiais do Batalh�o de Rondas T�ticas Metropolitanas (Rotam) chegando ao conjunto habitacional do Programa Vila Viva, na Rua S�o Jo�o.
O primeiro alerta foi emitido por um vigia postado numa passagem de pedestres da Avenida do Cardoso, que os bandidos chamam de “Viaduto”. “Principal que tiver na escuta a�, �. Uma Rotam subindo a (Rua) S�o Jo�o a�, �. Rotam subindo a S�o Jo�o”. A central informa que tomou ci�ncia do fato e uma olheira � designada para perambular por l� e monitorar os militares de perto.
Minutos depois, outra viatura do 22º Batalh�o aparece perto de uma boca de fumo menor chamada de “Pocinho”, em alus�o a um parque em �rea de risco de mesmo nome. “Piou (apareceu a pol�cia) l� no (Parque do) Pocinho. Entrou no Pocinho. Entrou no Pocinho, Z�. Copiou? Pano quente (a pol�cia) entrou na (Rua da) Passagem”, informou o sentinela dessa �rea. A central pergunta como est� a vis�o dos sentinelas e um deles avisa que h� policiais a p�, correndo de um ponto para o outro, e que s�o chamados de “atletas da Olimp�ada de Londres” pelos traficantes.
O ve�culo policial volta a se movimentar e os alertas s�o disparados de v�rios pontos. “A�, �: pode correr. Pode correr, do ponto (de �nibus) para a Pra�a 7 (Pra�a do Cardoso) a�, �. Galo doido (pol�cia na �rea) a� Pra�a 7, �. Galo doido, galo doido, do ponto para a Pra�a 7 a�, �. (A pol�cia). T� subindo a� de bicho (com vontade) a�, �. T� subindo de bicho, f�o. T� subindo � de bicho. Do ponto para a Pra�a 7 � galo doido”. A central ent�o determina medidas para garantir a manuten��o da opera��o de venda de drogas e recomenda “s� o necess�rio”, que significa n�o enviar muitas pessoas para um mesmo lugar desguarnecendo outros pontos.
Traficantes monitoram a chegada da pol�cia no Aglomerado da Serra
Em seguida, a central do crime ordena que olheiros a p� sejam enviados para acompanhar a movimenta��o dos policiais do 22º Batalh�o. “� Pocinho, passa a caminhar nesses (perto dos) pol�cias de a p� a�, Z�!”, comanda a central. O olheiro, com voz adolescente, responde pelo r�dio. “Eu tava de ca� (disfar�ando), tava monitorando eles (policiais) aqui da rua de cima. Eles est�o aqui no beco que d� para o Pocinho, t� ligado? Mas tem vis�o, n�s temos vis�o (da opera��o)”.
As transmiss�es terminam com um recado da central, que mostra o qu�o perto os policiais estavam de uma grande apreens�o e de pris�es importantes. “S� o necess�rio a�, gente, que miss�o dada � miss�o cumprida. Passa a vis�o a�, que voc�s t�o ligados que o Pai (dono da boca de fumo) chegou, n�?”.
TRABALHO COMPROMETIDO De acordo com o consultor em seguran�a p�blica coronel Wilson Chagas Cardoso, a vigil�ncia exercida pelos traficantes por meio dos aparelhos de comunica��o compromete o fator surpresa da PM, permite fuga de suspeitos e a oculta��o de armas e drogas. “Para combater isso, s� com a fiscaliza��o e apreens�o dos equipamentos. A pr�pria PM faz o recolhimento desses r�dios quando os encontra, mas at� para encontrar esse material � preciso o fator surpresa”, disse.
O especialista diz que o monitoramento da frequ�ncia fechada da PM por parte dos traficantes tamb�m ocorre e preocupa. “H� anos a PM tenta investir numa rede digital, que � mais segura, mas n�o tem recursos. Enquanto a comunica��o for anal�gica, ser� preciso trabalhar com estrat�gias de sil�ncio de r�dio (interrup��o das transmiss�es quando uma opera��o se inicia) durante as a��es e tamb�m fazendo contraintelig�ncia, que � difundir informa��es falsas para induzir os criminosos a fazerem o que se quer”, afirma Cardoso.
Traficantes acompanham movimenta��o no Aglomerado da Serra