
Igreja de S�o Francisco de Assis, na orla da lagoa da Pampulha, e Pra�a Carlos Chagas, que abriga a Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Com at� nove meses de atraso nas obras de revitaliza��o, esses dois espa�os p�blicos da maior import�ncia na vida cotidiana de Belo Horizonte est�o em descompasso com a expectativa de moradores e de turistas, que passaram a vir mais � capital mineira depois da notoriedade da Copa do Mundo de 2014.
Durante o feriado prolongado do Dia do Trabalho, o entorno da Igreja de S�o Francisco de Assis recebeu muitos visitantes, diante da expectativa do reconhecimento do conjunto modernista da Pampulha como Patrim�nio Cultural da Humanidade. Desde 2006, a Pampulha � candidata ao t�tulo, mas nunca esteve t�o perto como agora, quando Paraty (RJ) est� fora do p�reo. O conjunto arquitet�nico � agora o �nico candidato brasileiro, o que j� era previsto pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Em 1944, o inventor das formas arredondadas da famosa igrejinha escreveu o seguinte trecho, gravado na placa de inaugura��o: “Foi nossa inten��o, ao projetarmos as obras da Pampulha, que elas ficassem, tanto quanto poss�vel, como uma express�o da arte e da t�cnica contempor�nea”.
Nove meses depois do an�ncio do in�cio das obras de revitaliza��o do espa�o, que estavam previstas para come�ar em junho do ano passado, saiu finalmente o sinal verde do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) autorizando a PBH a fazer a licita��o do projeto de restauro da capela. “Em seis meses, t�o logo esteja licitada, a igrejinha j� est� pronta. J� temos os recursos garantidos, inclusive para a restaura��o dos jardins do entorno”, garantiu Le�nidas Oliveira, presidente da Funda��o Municipal de Cultura.
Com a revitaliza��o do adro, a pra�a em frente da igrejinha ficar� interligada com a lagoa da Pampulha, inclusive com o tr�nsito de ve�culos sendo desviado naquele trecho. A prioridade ser� dos pedestres, que v�o poder ter mais tranquilidade para se locomover e apreciar tamb�m os jardins de Burle Marx, que ser�o refeitos fielmente ao projeto original da Pra�a Dino Barbieri, “T�o logo acabe a revitaliza��o da igrejinha, vamos iniciar a recupera��o dos jardins. A verba j� est� liberada, mas se fizermos agora, os tapumes podem destruir as plantas. Vamos ter de esperar”, explicou Oliveira.
“Oba!”, comemorou o menino Arthur, de 9 anos, ao ser informado de que a alameda vai praticamente ligar o tradicional Parque Guanabara � igrejinha da Pampulha. Apesar de j� ter ido diversas vezes ao parque de divers�es, ele n�o se lembrava de j� ter visto os azulejos brancos e azuis de Candido Portinari, que comp�em a fachada da igreja. O menino, que est� estudando pontos hist�ricos de BH, fez quest�o de registrar o momento com uma foto dos pais, Viviane Rezende e No� J�nior, com a tia Delaine de Rezende, em frente � igrejinha. “Acho legal essa intera��o do parque com a lagoa. Antes, era desanimador atravessar as ruas movimentadas com as crian�as para chegar at� o outro lado”, comentou o pai dele e professor No� J�nior.

INFILTRA��O
Antes de conseguir chegar aos jardins, as obras da igrejinha incluem a��es urgentes de reparo no templo, que j� havia passado por restaura��o completa h� 20 anos. “Acontece que a junta de dilata��o cedeu um pouco mais do que devia, infiltrando �gua em um dos frisos da madeira, que ser� recuperada. Tamb�m as pastilhas v�o passar por uma limpeza geral”, detalhou o presidente da FMC. “Chegamos hoje a BH. Depois de almo�ar no Mercado Central, viemos conhecer a igrejinha, que j� vimos tanto em fotos”, explicaram os amigos naturais de S�o Paulo, o gerente comercial Gustavo Pinhal e o estilista Est�fano Hornhardt, de 30 e 28 anos, que se mostraram impressionados ao ver uma capivara com filhotes. “Nunca tinha visto uma capivara antes”, confessou Gustavo.
Est� marcada para a quarta-feira uma reuni�o entre a Funda��o, Iphan, Iepha e Copasa para tratar da retirada do esgoto da lagoa. A PBH fez o desassoreamento do espelho d’�gua e falta a Copasa concluir as obras para intercepta��o de esgotos. “Essa � a �nica pend�ncia do dossi� de prote��o da Unesco, que j� est� fazendo a an�lise do pedido para conceder o t�tulo de Patrim�nio da Humanidade”, afirmou Le�nidas Oliveira, assegurando que recursos de R$ 150 milh�es j� est�o previstos para tal. Segundo ele, o Iate T�nis Clube tamb�m assinou um termo de coopera��o, comprometendo-se a iniciar as obras de adequa��o do pr�dio ao projeto inicial de Niemeyer.
Impasse
Na pista de cooper no contorno da Pra�a Carlos Chagas, conhecida como Pra�a da Assembleia, centenas de pessoas costumavam caminhar antes do in�cio da reforma do espa�o, patrocinada pela Assembleia Legislativa. Hoje, o espa�o est� cercado com tapumes. Trabalhadores do Movimento dos Sem-Terra aproveitaram para instalar barracas no imenso cal�ad�o que surgiu com a interdi��o da via que interliga as ruas Rodrigues Caldas e Martim Carvalho. Em 2 de junho, faz um ano que as obras come�aram, com previs�o inicial de entrega para fevereiro passado, o que n�o ocorreu. J� com tr�s meses de atraso na conclus�o, a revitaliza��o do espa�o deve ser conclu�da ainda no primeiro semestre deste ano, segundo a Sudecap.
No fim de semana, apesar do feriado emendado, o movimento era m�nimo no entorno da pra�a, que se tornou um imenso canteiro de obras. O engenheiro S�rgio Farah Villa�a era a �nica pessoa que insistia em se exercitar no local. Depois de se mudar para Nova Lima, ele aproveitou a folga para matar a saudade da Pra�a da Assembleia, que frequenta desde a inf�ncia. “Uma obra como esta n�o precisaria durar mais de quatro meses para ser conclu�da. A grama foi replantada e j� est� at� precisando de manuten��o”, disse o empres�rio, criticando a demora dos trabalhos. Em rela��o �s melhorias, aprovou a troca das pedras portuguesas pelo piso de cimento batido, em toda a extens�o da pista.
Quatro meses foi o tempo que durou o impasse entre a Assembleia e a da organiza��o social Caritas Paroquial Nossa Senhora de F�tima, vinculada � igreja de mesmo nome. Com a licen�a vencida para o funcionamento do Royal Park, que atendia aos frequentadores do templo, a diretoria da C�ritas conseguiu a promessa de que as obras ficariam interrompidas at� que se chegasse a um acordo sobre a redu��o das vagas internas de 60 para 30, com a queda na arrecada��o. “O repasse das verbas da Assembleia ficou paralisado, mas vimos que as obras j� foram retomadas e que o estacionamento � sem volta, pois j� furaram espa�os para instalar bancos de pra�a no lugar. J� estamos nos conformando”, afirmou Selma Maria Ribeiro Ara�jo, presidente da Caritas. Um abaixo-assinado foi encaminhado � Assembleia para reativa��o do estacionamento.
A entidade informa que os trabalhos sociais n�o ser�o suspensos, apesar do corte no repasse do estacionamento, que destinava quase todo o valor arrecadado para os cofres da igreja, cobrando apenas taxa de administra��o. “Nosso drama agora � outro. Al�m de obrigados a parar o carro longe, os paroquianos mais idosos e volunt�rios enfrentam a inseguran�a em rela��o ao muro constru�do na parte posterior da igreja. Como j� hav�amos avisado, o corredor criado atr�s do muro, sem qualquer prote��o, tornou-se uma esp�cie de banheiro p�blico para moradores de rua”, denuncia ela, que j� encontrou pontas de cigarros e at� camisinhas usadas no lugar, sem falar no forte odor de urina.
MUROS Entre os frequentadores das missas, o espa�o para a instala��o de um painel art�stico ganhou at� um apelido. Na �ltima edi��o do informativo Voz de F�tima, a paroquiana Maria Laura Alves Machado publicou um texto, reproduzido na primeira p�gina pelo padre Tadeu, titular da par�quia. “Ao me dirigir � Igreja de Nossa Senhora de F�tima, atravessando a Pra�a da Assembleia, algo estranho chamou-me a aten��o: uma grande muralha havia sido constru�da entre a pra�a e a igreja. Aquele muro lembrou-me de dois outros – o de Berlim, que oprimia o povo e o impedia de se aproximar do poder, e outro, o Muro das Lamenta��es, de que talvez eles precisem, quando sentirem falta da prote��o de Deus”, afirmou.
A reportagem procurou a dire��o da Assembleia, mas a assessoria de comunica��o alegou que as informa��es a respeito das obras deveriam ser repassadas pela Sudecap, que fiscaliza a execu��o do projeto. O padre encontrava-se em retiro espiritual em Tiradentes, durante o recesso. Segundo a Sudecap, o projeto de requalifica��o contempla a cria��o de um novo playground e um espa�o para lazer de idosos, enquanto os jardins projetados por Burle Marx, tombados pelo patrim�nio hist�rico, ser�o preservados. O projeto foi concebido a partir de uma pesquisa feita com moradores e frequentadores da pra�a, assim como integrantes da Associa��o de Moradores do Bairro Santo Agostinho. Ao todo, foram colhidas 6 mil sugest�es a partir de junho de 2011.