Revigoradas, pra�as de BH viram locais de lazer e conviv�ncia
Espa�os p�blicos em diversos bairros da capital fazem a alegria dos moradores e contribuem para humaniza��o da cidade
postado em 17/05/2015 06:00 / atualizado em 17/05/2015 13:16
Porteiro de um pr�dio em frente � Pra�a Cairo, Vicente de Paula cuida das plantas do local com muito carinho e garante que n�o desperdi�a �gua no esfor�o que faz para manter os jardins bonitos e vi�osos (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Em uma Belo Horizonte cada vez mais verticalizada e com menos �reas verdes, a popula��o est� redescobrindo as pequenas pra�as p�blicas dos bairros como importantes espa�os de conv�vio social. Nos �ltimos anos, esses locais foram sendo abandonados pelos belo-horizontinos, principalmente a partir da d�cada de 1980, com a inaugura��o do primeiro grande shopping da cidade, mas agora a situa��o est� mudando e as pessoas est�o retornando para esses pequenos o�sis, que s�o de grande import�ncia no cotidiano urbano segundo a arquiteta da UFMG Natacha Rena. %u201CAntes, a divers�o era frequentar espa�os confinados, como pra�as de alimenta��o de shopping, mas a gente est� assistindo novamente ao regresso da popula��o para os espa�os abertos da cidade%u201D, disse Natacha.
Para ela, BH est� vivendo um esgotamento dos espa�os privados e crian�as e adultos j� n�o ficam mais t�o confinadas em pilotis de pr�dios ou diante do computador o tempo todo. %u201CA pra�a possibilita a conviv�ncia com as diferen�as e com pessoas de outras classes sociais que n�o s�o do seu ciclo fechado%u201D, comenta. Para a arquiteta, estudos comprovam que quanto mais as pessoas participam da cidade, mais a viol�ncia diminui. %u201CQuando voc� tem muita gente nesses espa�os, cria uma sensa��o de seguran�a, de conforto%u201D, conclui.
O Estado de Minas visitou oito pra�as das regi�es Centro-Sul, Leste, Pampulha e Nordeste da capital e constatou que muitos moradores adotam as pracinhas como uma extens�o das suas casas. A Pra�a Cairo fica no ponto mais alto do Bairro Santo Ant�nio, na Regi�o Centro-Sul, e � l� que todos os dias o engenheiro Marcelo Maia, de 71 anos, faz caminhada. %u201CEssa pra�a representa muito para os moradores do bairro. Crian�as, bab�s, idosos, animais de estima��o. Aqui todo mundo se encontra%u201D, comenta Marcelo. A dentista aposentada Marlene Rios de Castro, de 75, mora em um pr�dio de frente para a pra�a e � ela quem cuida dos canteiros. %u201CAdotei essa pra�a h� muitos anos, mas hoje todo mundo do pr�dio contribui. O dia todo tem movimento%u201D, diz Marlene. Porteiro de um pr�dio ao lado, Vicente de Paula Soares, de 55, se encarrega de regar as plantas da pra�a. Mas, diante da crise h�drica, segundo ele, os aspersores ficam ligados no m�ximo por sete minutos.
Ver galeria . 8 FotosPra�a Urup�s, Bairro Renascen�a, na Regi�o Nordeste de BH
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press )
Os frequentadores contribuem com a limpeza do espa�o e n�o deixam sujeira no ch�o. %u201CDonos de c�es sempre carregam sacolas pl�sticas para recolher as fezes dos animais. A pra�a � ponto de encontro de muitas senhoras do bairro. H� um clima de interior. � muito interessante essa rela��o dos vizinhos. �s vezes, voc� mora em um pr�dio e nem sabe quem mora no apartamento ao lado%u201D, disse Marcelo. %u201CPrecisamos criar o h�bito de frequentar mais as pracinhas. As pessoas est�o muito individualistas%u201D, critica. O engenheiro conta que a Pra�a Cairo lembra a sua inf�ncia no Bairro Carlos Prates, na Regi�o Noroeste de BH, onde todo fim de tarde as senhoras iam para as varandas e conversavam com as pessoas que passavam na rua.
Algumas pracinhas ganham at� %u201Cprefeito%u201D. � o caso da Pra�a Carlos Villani, no Bairro Prado, Regi�o Oeste, onde um senhor idoso cuidava do espa�o p�blico, mas ele faleceu h� tr�s meses e o local j� d� sinais de abandono. O mato cresceu, as lixeiras est�o cheias e h� sujeira por todo lado. Seu Brand�o, como ele era conhecido, deixou de heran�a um orat�rio que ele mesmo construiu na pracinha, para abrigar as imagens da Sagrada Fam�lia. Muita gente passa pelo local e reza. Alguns deixam flores.
Uma frondosa �rvore da Carlos Villani ganhou abrigos para p�ssaros em seu tronco. S�o casinhas de madeira colorida, onde as aves fazem ninhos. %u201CDe vez em quando, m�sicos se re�nem na pra�a para tocar viol�o e cantar. Em feriados religiosos, as prociss�es dos bairros Prado e Calafate se encontram aqui. H� muitos jovens, garotada namorando ou matando aula, mas nada incomoda a vizinhan�a%u201D, comenta o analista de sistemas Arnaldo Alvarenga, de 61, que mora em frente.
A Pra�a Coronel Jos� Persilva, em Santa Tereza, Regi�o Leste, � ponto de encontro dos moradores �s quintas e s�bados. Nas manh�s de s�bado, � realizada uma feirinha de hortigranjeiros pelos antigos comerciantes do Mercado Distrital do bairro. Nas noites de quinta, o movimento � maior, com uma feira de alimentos. O lugar � aconchegante e charmoso. Os bancos de cimento s�o revestidos com mosaicos coloridos. Os canteiros � que precisam de mais cuidado. Eles s�o pisoteados e n�o h� grama. %u201CAs pessoas chegam e passam a manh� e a tarde sentadas na pracinha%u201D, conta a funcion�ria de uma banca de jornais, Dirlene Draher, de 30. A aposentada C�lia Bastos, de 66, se considera uma privilegiada por morar perto de uma pracinha. %u201CDe vez em quando fico mais de meia hora esperando o �nibus e aproveito um pouco a pra�a. As �rvores s�o antigas e muito bonitas%u201D, conta.
CEN�RIO CINEMATOGR�FICO Ainda na Regi�o Leste, mas no Bairro Floresta, a Pra�a Comendador Otac�lio Negr�o de Lima tamb�m encanta pelo seu charme. O espa�o j� serviu de cen�rio para o filme O grande mentecapto, de Oswaldo Caldeira, com o ator Diogo Vilela. Atualmente, o sistema de irriga��o do lugar passa por reparos e a expectativa dos frequentadores � que ela fique ainda mais bonita. %u201CFa�o caminhadas todos os dias aqui. Ela fica lotada de manh� e � noite%u201D, conta a aposentada Gra�a Gomes, de 65. O fot�grafo Fl�vio Charchar, de 29, se diverte na pra�a com os seus dois c�es, que ficam soltos e fazem a alegria da crian�ada. %u201CAcaba que fico amigo de donos de outros c�es. A pra�a � o melhor lugar para voc� conhecer seus vizinhos%u201D, diz Fl�vio. A vendedora Sandra Vasconcelos, de 40, vai � pra�a todos os dias para tirar um cochilo no seu intervalo do almo�o. %u201CMuito tranquila. Pouco barulho e as pessoas s�o agrad�veis%u201D, comenta.
O estudante Vitor Godinho Lopes, de 23, diz que a Pra�a Negr�o de Lima o faz reviver um pouco sua cidade natal, Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, de onde saiu h� tr�s anos para estudar. Ele conta que n�o resiste quando volta do ber��rio com a filha Lu�za, de oito meses, e leva a crian�a para brincar. %u201CEla p�e os p�s no ch�o, tem contato com a terra. Adora os c�es. Para ela, a pra�a � divers�o garantida%u201D, conta o pai. %u201CNo interior, as pessoas sempre conversam umas com as outras. Belo Horizonte � diferente. As pessoas nem se olham. Mas, sempre acabo fazendo amizades na pracinha. Ela cria uma certa intimidade%u201D, observa Vitor.