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Estado de Minas

Nossa hist�ria: mestre Valentim, o mineiro sem fronteiras

Nascido no Serro h� 270 anos, educado em Portugal e com grandes obras no Rio de Janeiro, mestre Valentim foi um dos maiores artistas do per�odo colonial, comparado a Aleijadinho


postado em 30/05/2015 06:00 / atualizado em 30/05/2015 07:14

Busto de mestre Valentim no Passeio Público, no Rio de Janeiro: para especialistas, o mineiro era um artista avançado para seu tempo(foto: Raul Ribeiro/Divulgação)
Busto de mestre Valentim no Passeio P�blico, no Rio de Janeiro: para especialistas, o mineiro era um artista avan�ado para seu tempo (foto: Raul Ribeiro/Divulga��o)
O Brasil lembrou em novembro o bicenten�rio de morte do mestre do barroco Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), e j� tem outro mineiro importante a ser reverenciado. Desta vez, ser�o os 270 anos de nascimento do escultor, entalhador, arquiteto e urbanista Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813), natural do Serro, no Vale do Jequitinhonha, e ainda pouco conhecido no estado natal. Para estudiosos da arte colonial brasileira, o mineiro, que viveu na antiga Vila do Pr�ncipe at� os tr�s anos, morou em Portugal e depois se estabeleceu na capital fluminense, � considerado o “Aleijadinho do Rio de Janeiro”, com trabalhos em pedra (m�rmore e granito), metal e madeira, alguns de destaque no Jardim Bot�nico da cidade.

“Mestre Valentim era um artista avan�ado para seu tempo e at� hoje � citado apenas por quem conhece hist�ria da arte com profundidade. Com a comemora��o dos 270 anos do seu nascimento, temos uma excelente oportunidade para os brasileiros conhecerem seu legado”, diz o restaurador e historiador Carlos Magno de Ara�jo, de S�o Jo�o del-Rei, na Regi�o do Campo das Vertentes, autor de pesquisa sobre artistas que trabalharam nas Gerais nos s�culos 18 e 19. A professora de hist�ria da arte da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Adalgisa Arantes Campos, autora do livro Arte sacra no Brasil colonial, tamb�m enaltece o autor de obras p�blicas e religiosas.

“No Brasil, Mestre Valentim atuou especificamente no Rio, trabalhando com um barroco tardio, o rococ�, e o cl�ssico”, diz Adalgisa, explicando que o classicismo, que chegou oficialmente ao Brasil com a miss�o francesa em 1816, se caracterizava pela harmonia, simetria, serenidade das express�es, sequ�ncia r�tmica e valores greco-romanos. “O filho ilustre do Serro teve forma��o portuguesa e clientela no Rio de Janeiro, que era a capital”, afirma a professora. Na capital fluminense, Valentim foi autor do projeto original do Passeio P�blico, primeiro jardim aberto � popula��o da cidade, que guarda o busto do artista em bronze. E mais: construiu chafarizes e fontes para abastecimento da popula��o e das embarca��es que ancoravam no porto e trabalhou nas igrejas de S�o Francisco de Paula, Santa Cruz dos Militares, Nossa Senhora da Concei��o e Boa Morte, Mosteiro de S�o Bento e Ordem Terceira do Carmo.

Minas n�o tem obras do mestre Valentim, apenas uma c�pia, feita do molde original, inaugurada no in�cio do m�s no Museu Casa dos Ottoni, no Serro. Mas muita gente p�de conhecer o tra�o do mestre, no ano passado, na mostra Barroco It�lia-Brasil – Prata e Ouro, na Pra�a da Liberdade. Na ocasi�o, estiveram expostas pe�as representando os evangelistas S�o Jo�o e S�o Mateus, pertencentes ao acervo do Museu Hist�rico Nacional, com quase dois metros de altura, em madeira, que ornamentavam a fachada da Igreja de Santa Cruz dos Militares, no Centro do Rio.

AL�M-MAR Filho de um portugu�s contratador de diamantes e de uma negra, o mulato Valentim foi levado pelo pai, em 1748, a Portugal, onde ficou at� os 25 anos. Em terras lusitanas, aprendeu o of�cio de escultor e entalhador. O nome do artista aparece pela primeira vez como entalhador na obra de decora��o da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, em 1772, como disc�pulo de Lu�s da Fonseca Rosa. A talha dourada sobre fundo claro do ret�bulo-mor � amplamente decorada com motivos rococ�s como guirlandas, buqu�s de flores, la�os e cabe�as de querubins. Os anjos-meninos se caracterizam pelo rosto arredondado, fei��es levemente amulatadas, bochechas e olheiras marcadas, l�bios com contornos definidos, pesco�o grosso e curto, olhos saltados e ca�dos, cabelos abundantes e fios marcados.

Na capela do noviciado da ordem, cuja decora��o foi executada entre 1773 e 1780, Valentim apresenta todos os elementos de seu estilo. Trata-se de um sal�o de planta retangular e teto abobadado revestido de talha dourada sobre fundo branco, formando uma unidade decorativa �mpar. No �mbito da arte civil, Valentim foi respons�vel tanto por obras de embelezamento p�blico quanto de saneamento e abastecimento de �gua. Os estudiosos ressaltam que, de todos os projetos, o mais marcante � o conjunto formado pelo Passeio P�blico, al�m do Chafariz das Marrecas, de 1785 e destru�do em 1896. Neste, ele se reportou �s ideias iluministas de bem-estar, civilidade, higieniza��o e progresso. Em 1789, Valentim trabalha na reconstru��o do pr�dio do Recolhimento do Parto, que sofrera um grande inc�ndio.

RESTAURA��O Quatro esculturas de autoria de mestre Valentim – as primeiras obras de arte fundidas no Brasil – est�o sendo restauradas no Jardim Bot�nico do Rio. S�o elas Eco, Narciso e duas aves pernaltas, esculturas originalmente projetadas para o Chafariz das Marrecas e o Chafariz do Jacar�. No s�culo 19, as fontes serviram para abastecer a cidade de �gua e embelezar o Passeio P�blico. Datadas de 1785, as pe�as foram produzidas na Casa do Trem, local onde eram confeccionados e reparados os armamentos na �poca, que hoje integra o conjunto arquitet�nico do Museu Hist�rico Nacional. De acordo com informa��es da institui��o, as esculturas se encontram deterioradas pelo tempo e umidade. O restauro poder� ser acompanhado pelo p�blico, num ateli� aberto, a partir do pr�ximo dia 13.

LINHA DO TEMPO

1745

Valentim da Fonseca e Silva nasce na Vila do Pr�ncipe, hoje Serro, no Vale do Jequitinhonha. Era filho de um portugu�s contratador de diamantes e uma negra

1748

Com tr�s anos, Valentim segue com o pai para Portugal, onde aprende os of�cios de escultor e entalhador

1770

Com 25 anos, Valentim retorna ao Brasil e se estabelece no Rio de Janeiro, com loja, oficina e resid�ncia

1772

At� 1800, trabalha na decora��o interna da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no Rio, na qual projeta e executa capela-mor, obras do trono e talhas

1789

Trabalha na reconstru��o do pr�dio do Recolhimento do Parto, no Rio, que fora alvo de inc�ndio. O local amparava mulheres que precisavam dar � luz seus filhos de maneira discreta

1795

Trabalha no Chafariz das Saracuras, para o p�tio interno do Convento da Ajuda, no Rio, por encomenda das irm�s clarissas. O pr�dio foi demolido em 1911

(foto: GILMARA PAIXÃO/PREFEITURA DO SERRO/DIVULGAÇÃO )
(foto: GILMARA PAIX�O/PREFEITURA DO SERRO/DIVULGA��O )
1913

Inaugura��o da placa comemorativa do centen�rio da morte de mestre Valentim, na Igreja de Nossa Senhora do Ros�rio e S�o Benedito, no Rio, onde foi sepultado aos 68 anos

 

HOMENAGEM NO SERRO


No dia 16, conforme mostrou o Estado de Minas, a terra natal do Mestre Valentim homenageou o seu filho ilustre. Na presen�a de autoridades, o Museu Regional Casa dos Ottoni inaugurou uma c�pia em bronze de uma escultura – Aves pernaltas –, instalada inicialmente no Convento das Clarissas, no Rio de Janeiro (RJ), depois na Pra�a Cardeal Arcoverde e no Passeio P�blico at� ser transferida para o Jardim Bot�nico, na mesma cidade. A c�pia da escultura foi feita na d�cada de 1960 pelo fundidor Zani, tendo sido agora adquirida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), com o patroc�nio da CBMM.


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