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Estado de Minas A EXCOMUNH�O QUE VIROU GUERRA SANTA

Padre submetido � mais severa pena do Vaticano celebra missas independentes

Inconformado com a puni��o, sacerdote atrai multid�es de devotos e desperta uma cis�o na comunidade de fi�is de um dos munic�pios mais cat�licos de Minas Gerais


postado em 05/06/2015 06:00 / atualizado em 05/06/2015 14:57

Galpão onde seguidores do padre André se reúnem tem 600 metros quadrados e chega a abrigar 400 pessoas aos domingos(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )
Galp�o onde seguidores do padre Andr� se re�nem tem 600 metros quadrados e chega a abrigar 400 pessoas aos domingos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )

Alfenas
– Cerca de 300 fi�is olham fixamente para o altar montado no galp�o de 600 metros quadrados na periferia de Alfenas, no Sul de Minas, a 378 quil�metros de Belo Horizonte. As luzes se apagam e, por pouco mais de 10 minutos, o padre Andr� Aparecido Silva, de 34 anos, iluminado por uma lanterna, passeia entre os presentes com a imagem dourada, de formato arredondado, contendo uma h�stia – o Sant�ssimo Sacramento da Igreja Cat�lica. Alguns se ajoelham, choram, uma mulher gr�vida toca o objeto sagrado enquanto acaricia a barriga e senhoras rezam em voz alta, ao passo que o violonista vai aumentando o tom da voz para ditar a emo��o.

Durante uma hora e meia, o discurso ameno e conciliador do sacerdote conduz a celebra��o, semelhante � de qualquer outra igreja cat�lica sobre a face da terra – n�o fosse por um motivo. Em 7 de maio, Andr� recebeu a excomunh�o – a pena mais severa imposta sob as leis do Vaticano – por ter criado uma nova religi�o, a Igreja Cat�lica Independente, que segue os mesmos preceitos e ritos da igreja milenar fundada por Pedro, mas sem qualquer v�nculo com a hierarquia do Vaticano. A cria��o da nova igreja gerou uma esp�cie de guerra santa entre a popula��o religiosa de Alfenas, uma cidade de 78 mil habitantes, dos quais 57 mil (73%) se declararam cat�licos no �ltimo Censo, em 2010 – percentual superior ao do Brasil (64,6%) e ao de Minas Gerais (70,4%).

A ampla maioria cat�lica da cidade est� distribu�da em cinco par�quias, a mais nova delas a de S�o Sebasti�o e S�o Crist�v�o, da qual Andr� foi p�roco nos �ltimos seis anos, at� ser afastado da fun��o no fim de agosto do ano passado. Na ocasi�o, o bispo da diocese de Guaxup�, dom Jos� Lanza Neto, o afastou do cargo devido � “delicada situa��o financeira da par�quia”. O bispo cobrava explica��es sobre o uso do dinheiro proveniente da venda de parte de um terreno de 26 mil metros quadrados, localizado em frente � par�quia, no Bairro Santa Maria, comprado em 2011 por R$ 550 mil.

Segundo Andr�, o valor da venda de 10 mil m² por R$ 1,088 milh�o – negocia��o que ocorreu ap�s uma supervaloriza��o imobili�ria na regi�o – serviu para quitar as parcelas restantes da �rea total, adquirir uma casa paroquial no valor de R$ 280 mil, reformar igrejas e capelas pertencentes � par�quia, al�m de construir e reformar casas de pessoas carentes – o que, segundo o padre, n�o seria permitido pela diocese. � exce��o do dinheiro direcionado aos mais necessitados, todo o montante arrecadado e gasto constava na presta��o de contas enviada � diocese, que, mesmo aprovada em 2012, n�o aliviou a puni��o imposta pelo bispo.

Desde ent�o, o que se viu em Alfenas foi uma queda de bra�o entre o padre e a diocese, entremeada de acusa��es, decretos e repreens�es, que serviram para dividir a opini�o dos moradores. Em 15 de setembro, o bispo dom Jos� Lanza emitiu uma repreens�o can�nica, alegando que o padre, ao explicar os motivos de seu afastamento � comunidade, havia feito discurso “altamente agressivo, com afirma��es injustas e inver�dicas” contra ele. O sacerdote foi obrigado a pedir desculpas diante dos paroquianos. Dez dias depois, mesmo aceitando o pedido de perd�o, o bispo emitiu um preceito (similar a um decreto) impondo afastamento a Andr� de qualquer celebra��o p�blica, por um ano, al�m de outras restri��es que, caso n�o cumpridas, poderiam culminar no afastamento definitivo.

Celebrações seguem ritos estabelecidos pelo Vaticano, duram cerca de uma hora e meia e são marcadas por tom conciliador(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Celebra��es seguem ritos estabelecidos pelo Vaticano, duram cerca de uma hora e meia e s�o marcadas por tom conciliador (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
O religioso n�o cumpriu as ordens episcopais e, desde outubro, passou a celebrar missas em sua casa. Com o crescimento do n�mero de fi�is nas celebra��es restritas, o padre decidiu criar, em mar�o, a Igreja Cat�lica Independente, que segue os mesmos ritos e preceitos das missas tradicionais. A cria��o culminou na excomunh�o latae sententiae (ou autom�tica, sem julgamento) de padre Andr�, pelo delito de cisma (recusa de sujei��o ao sumo pont�fice). Segundo o C�digo de Direito Can�nico, comete-se o delito de cisma por duas maneiras: quando algu�m se nega a se submeter ao papa, negando sua autoridade; e quando se nega a comungar com os membros da Igreja. O delito � punido automaticamente com a excomunh�o, cuja a compet�ncia de aplic�-la � do bispo diocesano.

COBRAN�AS E SIL�NCIO A excomunh�o da igreja contribuiu para o aumento da repercuss�o do caso e, consequentemente, para o crescimento da animosidade entre os fi�is que permaneceram na par�quia e os que migraram para a Igreja Cat�lica Independente. As celebra��es alternativas, �s quartas e domingos, em um galp�o alugado e bancado por devotos em uma regi�o carente da cidade, t�m reunido centenas de pessoas por encontro – superando a casa das 400, aos domingos. A inten��o, segundo o padre, n�o � expandir a nova igreja, mas se dedicar � comunidade, com a cria��o de casas de assist�ncia a pessoas carentes.

Andr� recebeu a reportagem do Estado de Minas em uma sala anexa � rec�m-fundada igreja. Durante mais de uma hora, falou dos planos para a iniciativa, apresentou documentos e presta��o de contas e comentou a pol�mica que dividiu os fi�is da cidade. Tanto ele quanto os devotos que migraram para a nova religi�o cobram da diocese explica��es sobre o afastamento e as puni��es, que consideram desproporcionais.

A reportagem procurou o bispo dom Jos� Lanza Neto. Por telefone, o chanceler da c�ria, Claiton Ramos, disse que a diocese n�o se pronunciaria e que tudo sobre o caso est� exposto em notas oficiais no site. O atual p�roco da S�o Sebasti�o e S�o Crist�v�o, padre Gilmar Ant�nio Pimenta, n�o quis gravar entrevista. Em conversa informal, na secretaria da par�quia, disse n�o estar autorizado a falar e que teria pouco a contribuir, j� que chegou � cidade depois do afastamento. Disse que a comunidade est� se recuperando e que a f� segue inabalada.


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