
A cada 15 minutos, uma pessoa perde algum bem sob a mira de um rev�lver, de uma faca ou sendo intimidada por assaltantes nas ruas de Belo Horizonte. Apenas de janeiro a abril deste ano, mais de 12 mil pessoas foram v�timas de roubos na capital, o tipo de ocorr�ncia em que h� abordagem do criminoso e agress�o ou amea�a. A m�dia mensal de roubos em 2015 � de 3.184 ocorr�ncias, 11% a mais do que a m�dia mensal de 2014. Se a compara��o retroceder at� 2012, os n�meros mostram que o crescimento desse tipo de delito � uma realidade h� pelo menos tr�s anos. A sensa��o entre moradores de BH � de que a situa��o est� fugindo ao controle.
O consultor imobili�rio Bernardo Teixeira, de 26 anos, trabalha em um escrit�rio no Bairro Palmares, Regi�o Nordeste de BH, onde outros funcion�rios listaram oito roubos apenas em maio. Em abril, ele sentiu na pele o que � estar sob a mira de um rev�lver. “Fui surpreendido quando mostrava um apartamento para um cliente aqui no bairro. Chegamos ao endere�o, o cliente desceu primeiro e, quando fui descer, s� escutei o grito de ‘perdeu, perdeu’. Cheguei at� a imaginar que poderia ser uma brincadeira de algum conhecido”, afirma Bernardo.
Quando ele se virou para ver o que estava acontecendo, viu que o caso era s�rio. “O cara disse que tinha acabado de matar uma pessoa e precisava do meu carro para fugir, colocando a arma no meu peito”, conta. Assustado com as informa��es que recebe de outros casos, Bernardo n�o conseguiu mais encontrar o carro. Atualmente, usa um ve�culo emprestado. “N�o sei dizer o que est� acontecendo, mas a sensa��o que tenho � que est� totalmente fora de controle. A falta de seguran�a � assustadora”, afirma.

ATROPELADO E ASSALTADO No fim do m�s passado, o m�dico Thiago Carvalho Machado, de 33, passou por situa��o semelhante. No caso dele, a viol�ncia foi maior. “Eu estava treinando de bike, por volta das 5h da manh�, como fa�o normalmente. Quando passava na rotat�ria que divide o acesso entre a Avenida Nossa Senhora do Carmo e o Bairro Belvedere (Centro-Sul de BH), dois caras de moto passaram e um deles me jogou no ch�o”, conta o m�dico.
Os gritos de “perdeu, perdeu” se repetiram. “Um deles tirou o rev�lver e falou que n�o era para eu me mexer. Pegou meu celular, montou na minha bike e foi embora em dire��o ao Morro do Papagaio, enquanto o outro subiu na moto e desapareceu”. Sem a bicicleta, ele j� come�ou a desmarcar algumas competi��es de que esperava participar este ano. “Falta policiamento na rua e investiga��o para achar os ladr�es. Se a pessoa que � roubada n�o corre atr�s, a pol�cia n�o faz nada”, completa.
N�o � dif�cil achar outros casos parecidos em Belo Horizonte. Em abril, o cuidador de idosos Breno Lincoln Batista, de 30, teve o pulm�o perfurado e uma costela quebrada quando um ladr�o arrancou seu celular em uma esta��o do Move da Avenida Ant�nio Carlos, no Bairro S�o Crist�v�o, Noroeste de BH. As imagens das c�meras de seguran�a mostraram a brutalidade com que o assaltante golpeou a v�tima com uma faca. Na ocasi�o, Breno desabafou: “A gente sai cedo todos os dias para trabalhar. D� duro. Eram 6h e pouco da manh� quando tudo aconteceu. Mesmo assim, temos que conviver com essa falta de seguran�a?”.
Na opini�o do coordenador do N�cleo de Estudos Sociopol�ticos da PUC Minas, Robson S�vio Reis Souza, integrante do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica, o problema dos roubos � generalizado no pa�s, o que pode ser explicado por uma soma de problemas.
“A �nica forma de punir quem comete crime contra o patrim�nio � o encarceramento. As medidas alternativas s�o pouco eficientes e mal fiscalizadas pelo poder p�blico. Com isso, lotam-se os pres�dios. Se n�o h� lugar mais nem para quem mata, imagine para quem comete os assaltos”, afirma o especialista.
Robson S�vio acrescenta que, por outro lado, a Justi�a contribui consideravelmente para a impunidade. “A Justi�a � lenta e seletiva. N�o age de forma ison�mica para todos os extratos sociais. As pessoas praticam os crimes porque sabem que a puni��o � aleat�ria e os custos para transgredir a lei s�o muito baixos”, critica.
O especialista lembra ainda que, no caso espec�fico dos roubos, investir em um sistema de preven��o daria bons resultados, mas isso n�o ocorre em Minas Gerais. “Melhorar a preven��o significa atuar em v�rias frentes. Uma � a presen�a de agentes p�blicos nas ruas, que n�o precisam ser s� policiais militares: podem ser guardas municipais ou fiscais do poder p�blico trabalhando de forma a mostrar a presen�a do Estado. Outra vertente � melhorar a investiga��o e a an�lise criminal, e a terceira � resolver problemas de infraestrutura, como locais mal-iluminados ou cobertos por mato”, aconselha o professor.
