
O crescimento econ�mico, a cria��o de oportunidades de emprego e a gera��o de renda s�o sonhos de toda cidade do interior, em Minas ou em qualquer outro estado. Por�m, os efeitos colaterais desse desenvolvimento nem sempre s�o esperados – e raramente contam com planejamento. � o que v�m testemunhando cidades mineiras que experimentaram crescimento desordenado e saltos populacionais impulsionados por novos neg�cios e descobriram que, junto da ind�stria, do dinheiro e dos novos moradores, chega tamb�m a criminalidade. Pior: a estrutura da seguran�a p�blica n�o acompanha a escalada de desafios. Por motivos diferentes, mas com resultados semelhantes, � a situa��o experimentada em cidades t�o distintas quanto Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado, e Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central de Minas. Em ambas, a viol�ncia disparou e o efetivo policial n�o d� conta de responder � nova realidade.

No caso de Concei��o do Mato Dentro, em 2009, a cidade recebeu dois escriv�es e tr�s investigadores, depois de concurso da Pol�cia Civil. Mas um dos escriv�es foi embora e n�o foi substitu�do. O delegado titular tamb�m deixou a cidade e uma colega de fora assumiu o desafio de manter a ordem e desvendar crimes. Desde 2010, a situa��o continua a mesma. Policiais civis dizem contar com apenas um Uno e um Sandero, ve�culos que vivem quebrados devido aos longos deslocamentos por estradas de terra.
SUBNOTIFICA��O Os n�meros da viol�ncia na cidade contabilizados pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) n�o correspondem � realidade. Prova disso � que dos 5.601 boletins de ocorr�ncia entregues pela PM de 2013 at� o dia 3 deste m�s, 3.943 (mais de 70%) n�o tiveram andamento ou sequer chegaram ao conhecimento da �nica delegada, Helena Terumi. E a pilha de ocorr�ncias s� cresce a cada dia. Sozinha, a policial n�o d� conta de tanto servi�o. Por isso, apenas as pris�es em flagrante s�o despachadas na hora e ela ainda tenta filtrar os casos de maior relev�ncia.
Mais grave ainda � a den�ncia de que PMs da cidade, principalmente no fim da jornada de trabalho, estariam “desqualificando” crimes em seus boletins de ocorr�ncia e soltando presos para n�o precisar passar horas na estrada at� Santa Luzia – sem contar o tempo de espera at� serem atendidos na delegacia da Grande BH. “Um PM que est� trabalhando h� 10 horas e que no final do plant�o pega uma ocorr�ncia de tr�fico de drogas, desqualifica o crime para uso e solta o preso. Tentativa de homic�dio acaba virando les�o corporal”, denunciou um policial civil, que pediu para n�o ser identificado. Segundo ele, a pr�tica gera sensa��o de impunidade, que acaba incentivando os criminosos. “O bandido rouba uma vez e � solto. Rouba a segunda, e � solto de novo. Depois do terceiro roubo, vira festa. Para os PMs, � melhor soltar um traficante do que dirigir cansados, com risco de acidente. Ningu�m vai pagar pela vida deles”, disse o policial.
Dados oficiais da Seds mostram que de janeiro a abril deste ano Concei��o do Mato Dentro registrou apenas 17 assaltos, quatro homic�dios e dois estupros. “Se a gente acha um corpo com 10 facadas na zona rural, a ocorr�ncia vai entrar silenciosamente entre esses mais de 4 mil casos sem solu��o”, diz o agente. H� crimes antigos que ainda est�o em investiga��o, alguns de 2003. Nesses casos, a cada dois meses a delegada tem de ir ao f�rum pedir aumento de prazo ao juiz. “Os inqu�ritos tamb�m demoram muito no f�rum, pois a demanda deles tamb�m � absurda”, denuncia o mesmo policial.
O deslocamento da equipe entre os munic�pios � outra dificuldade, segundo ele, principalmente quando chove, devido � lama. “J� tivemos que transportar um corpo em um trator, pois o nosso carro n�o passava pela estrada”, reclama. “Quando morre algu�m, o rabec�o sai de Belo Horizonte. J� teve corpo que levou mais de 12 horas at� ser removido”, denuncia.
Al�m de Concei��o do Mato Dentro, a delegacia local � respons�vel por Santo Ant�nio do Rio Abaixo, Dom Joaquim, Morro do Pilar, S�o Sebasti�o do Rio Preto e Congonhas do Norte. “Falta estrutura na cidade. Antes, a gente n�o tinha favela e hoje temos barracos, muita invas�o de terrenos, muita gente de fora”, observa a delegada Helena Terumi. “Muitos vieram em busca de emprego e aumentou a circula��o de riqueza. O com�rcio tamb�m aumentou, mas depois vieram demiss�es e a crise. Um comerciante me disse que chegava a faturar R$ 30 mil por m�s, valor que agora caiu para R$ 3 mil”, disse a policial. O consumo de drogas entre os oper�rios � assustador segundo ela.
Um dos crimes mais preocupantes na cidade � o estupro, afirma a delegada. “Pela quantidade de homens na cidade, e a dificuldade de retorno deles �s fam�lias, isso gera uma crise social. H� relatos de que Concei��o do Mato Dentro chegou a receber 8 mil oper�rios em apenas um ano”, conta a delegada. Crimes de furto tamb�m acontecem com mais frequ�ncia, segundo a policial, e em muitos casos facilitados pelo comportamento de moradores mais antigos, acostumados � calmaria que j� n�o existe. “A popula��o do interior deixa a janela aberta e at� guarda dinheiro debaixo do colch�o. Os motoristas saem e deixam seus carros abertos, com a chave na igni��o. Isso tudo facilita o crime”, alerta.
Mas a cidade est� �s voltas tamb�m com roubos mais audaciosos. Na madrugada de 9 de abril, homens armados invadiram o setor de autoatendimento da Caixa, na Pra�a Coronel Jo�o Paulo, a mais movimentada do Centro, e explodiram os terminais. No dia anterior, uma ag�ncia dos Correios havia sido assaltada por ladr�es armados. “Nunca tivemos explos�o de banco aqui antes. Assalto a gente tinha, mas n�o explos�o”, conta, assustada, a professora de educa��o f�sica Silvana Moreira, de 56 anos.