
Fernando Brant, o filho do Moacyr e da Yolanda, fez poesia das pessoas e dos bichos. Como poucos, o compositor que partiu na semana passada deu sentimento �s coisas e aos lugares, em versos que vencem o tempo. Por onde passou, o mineiro de Caldas, no Sul de Minas, escreveu paisagens e assentou janela no cora��o e na alma das gentes. Depois de crescer moleque em Diamantina, aos 9 anos, o menino observador partiu com a fam�lia para Belo Horizonte. Da capital, Fernando fez quintal mundo adentro para suas travessuras. Em homenagem ao artista, o Estado de Minas percorreu um peda�o da BH de Brant, e esteve em muitas das esquinas do poeta. A mais famosa, seguramente a das ruas Divin�polis e Parais�polis, no Bairro Santa Tereza, que batizou o movimento musical imortalizado por Brant e por amigos como Milton Nascimento, L� e M�rcio Borges, Beto Guedes e Toninho Horta. Mas h� outras. Muitas outras cidade afora, que ajudam a contar a trajet�ria inesquec�vel de Fernando. Nelas, amigos, vizinhos, prestadores de servi�os, familiares e f�s falam de um homem simples, de amor e f� em toda e qualquer alegria de viver.

Das li��es deixadas pelo irm�o poeta, Ana Brant destaca o valor da fam�lia, “do ch�o e da origem”. “Ele amava muito a terra dele. Preocupava-se sempre em valorizar as pessoas. Conhecemos Belo Horizonte por meio do olhar dele, que sempre trouxe os amigos para dentro da nossa casa. Os amigos dele eram nossos amigos tamb�m”, diz a jornalista. Moacyr considera que de “t�o belo-horizontino”, o irm�o n�o deu conta de morar no Rio de Janeiro. “Ele pediu transfer�ncia na Faculdade de Direito e no trabalho como jornalista na revista O Cruzeiro. O Milton (Nascimento) j� estava morando l�. Mas o Fernando ficou uns tr�s meses apenas e voltou. Ele conseguiu ser do mundo morando em Belo Horizonte.”

O Bairro Cachoeirinha, na Regi�o Nordeste, � destaque na BH do poeta. No casar�o de esquina das ruas Indian�polis e Irib�, versos de amor para al�m da vida, ao lado da mulher e dos tr�s filhos. Endere�o de portas abertas para os amigos de outra paix�o de Fernando: o cinema. O poeta participou, entre outros, do longa-metragem Amor perfeito (2006), do cineasta Geraldo Magalh�es. Em passagem do filme, ele mesmo, contando hist�rias do Clube da Esquina. Jos� Nelson, o “Z� Vermeio”, de 78 anos, vizinho de Fernando, diz ser dif�cil na vida conhecer pessoa t�o gentil. “J� fiz v�rios servi�os como bombeiro na casa dele e o considerava um amigo. Fiquei muito triste com a morte dele”, lamenta.
Simplicidade e encanto

Wallace Silva, antes do sal�o, onde est� h� 18 anos, j� conhecia o compositor de outras passagens pela Quilombo, produtora de Milton Nascimento, nos anos 1980 e 1990. O cabeleireiro, f� e amigo � outro que chama a aten��o para a educa��o e generosidade da fam�lia. “� uma perda que a gente nem d� conta de explicar. � o pr�prio Fernando quem mais vai fazer falta na poesia dele”, diz, com a voz embargada. Gil Marciano era quem cuidava do cabelo do poeta. O empres�rio j� foi inclusive personagem das cr�nicas de Fernando Brant publicadas no EM.
“Ele cortava o cabelo de pouco em pouco tempo, porque n�o gostava de ver crescer o topete. Uma vez, mudei o jeito de pentear. Ele demorou a voltar e fiquei preocupado. Quando voltou, perguntei se tinha ficado aborrecido e ele disse: ‘N�o acredito que eu passei a vida inteira brigando com o meu topete, penteando para o lado errado. Ficou muito bom’. E sorriu”, conta Gil. “O bom humor e a sensibilidade dele para falar e escrever v�o ficar em mim para toda a vida”, pontua.

MERCADO
No Mercado Central, no Man� Doido, Fernando arrebatou o cora��o da fam�lia Drumond. A come�ar pelo Manoel Penido, o pr�prio Man�, que, emocionado, mal d� conta de falar sobre a partida do amigo. F�lego retomado, o comerciante aposentado elogia o poeta: “Desconhe�o defeito no Fernando Brant. Um amigo que me trouxe muita alegria, quando lan�ou o livro dele no meu bar. Ele fez morada no cora��o do povo de Belo Horizonte”, diz. F�tima Drumond, filha do Manoel, tamb�m se emociona ao falar do compositor. “Fez caso do meu pai, fez caso de mim. O Fernando � poeta que eternizou a amizade com a Can��o da Am�rica”, diz a professora, que homenageia o compositor em seu mestrado em administra��o.
Em outro quadrante da Avenida Augusto de Lima, em mais uma das tantas esquinas do poeta, est� o Edif�cio Maletta. Nele, mais um caminho de encontros: a Cantina do Lucas. O advogado M�rcio Santiago, de 72, companheiro de torcida e prosa, na mesa de sempre, a 19, relembra o amigo. “Era um grande americano. Um cin�filo apaixonado. Achava que o verso, que a poesia, estava acima dele. Tinha um respeito enorme pela palavra. Sabia da for�a de seus versos. Um ref�m da poesia. J� bebemos muita cerveja aqui”, diz. Rua da Bahia acima, na Pra�a da Liberdade, a alameda central tem o nome “Travessia” – homenagem � famosa can��o de Fernando e Milton. Ali, no cora��o de BH, ficou a homenagem ao poeta que tinha BH no cora��o.