“Na verdade, Ol�via Palito n�o d� muita bola para o Xerife. Ele gosta mais dela do que ela dele”, entrega a estudante de direito Ana Luiza Coutinho, de 25 anos, irm� da dona dos c�es e protetora de animais, Tatiana Azeredo Coutinho. Quanto mais a dama esnoba o vagabundo, mais o vira-latas insiste em voltar para a amada. Depois de passar uns dias sumido, durante a semana, Lord Voldemort, mais conhecido pela alcunha de Volde ou Xerife, est� de volta � vizinhan�a da Rua Turquesa, no Bairro do Prado, que nunca mais foi a mesma desde o in�cio do romance do casal, que come�ou no �ltimo carnaval.
Moradores da rua, do bairro e at� de outras regi�es da cidade batem campainha na casa, buzinam e insistem em saber not�cias sobre o amor canino, que ainda n�o teve desfecho na vida real. Ansiosos, 49 alunos das quintas-s�ries A e B da Escola Sesi Comar, inventaram diversos finais para a hist�ria, nem todos felizes, por�m. “Eles est�o muito entusiasmados. Acompanham o namoro entre os c�es como se fosse uma novela. Buscam novidades nas redes sociais, pedem aos pais para visitar a casa onde eles moram e d�o toda a s�rie de palpites”, conta a professora de portugu�s �ngela Nogueira de Andrade, que est� ensinando sobre produ��o de textos em sala de aula.
Com enorme boa vontade para ajudar no desenlace entre Ol�via e Xerife, as crian�as chegam a sugerir uma campanha de arrecada��o de fundos, com o patroc�nio de uma nova resid�ncia exclusivamente para os c�es. Outra dica dos estudantes seria montar uma cabaninha na cal�ada, o que permitiria a Xerife ter a liberdade de dar seus pulos pelo bairro.
No aperto para tentar solucionar o caso, os alunos n�o escondem um certo qu� de maldade em rela��o a Kurt Cobain, piv� da separa��o entre Ol�via e Xerife. Com 12 anos de conviv�ncia com a fam�lia, esse vira-latas j� idoso � o primeiro c�o a ocupar o espa�o. Mas h� quem o defenda. “Sei que ele � doente (tem epilepsia), mas tor�o pelo Kurt. Gosto de ouvir as m�sicas do Nirvana e alguns rocks com meu pai”, justifica Luiz Henrique Souza Dias, de 10 anos.
Em peso, a turma prefere que Xerife fique com Ol�via e os 10 filhotes. Ou, na verdade, cinco deles, j� que os outros est�o adotados em lares diferentes. “Na minha opini�o, para a hist�ria de Xerife e Ol�via ter um final feliz, � preciso divulgar para as pessoas adotarem o Kurt, pois Xerife e ele n�o se d�o bem”, sugere Felipe Lauria Fialho, de 10 anos, colocando o roqueiro para escanteio. Em outro trecho da reda��o, por�m, o estudante oferece uma sa�da: “Tamb�m � poss�vel adotar Xerife e Ol�via. Por favor, ajudem para continuar esse t�o lindo e verdadeiro amor de cachorro”.
Paz dif�cil
A animosidade entre os machos tem sido um dos impedimentos para a ado��o do c�o abandonado que faz a corte, do lado de fora do port�o, � cadela adotada pela fam�lia da Rua Turquesa. Para que Xerife possa viver sob o mesmo teto de Ol�via, � preciso que a paz com o rival seja selada. Para a boa conviv�ncia dos c�es, chegou-se a cogitar castrar os tr�s c�es. No dia D, entretanto, Xerife fugiu do veterin�rio. Segundo an�lise cl�nica, Kurt est� muito idoso para se submeter a uma anestesia geral, enquanto a cadela precisa finalizar o desmame dos filhotes, antes de passar pelo procedimento. “Voldemort e Kurt continuam se estranhando muito. Na �ltima briga, Kurt precisou tomar antibi�tico”, disse Ana Luiza Coutinho.
Entusiasmado com a hist�ria, o aluno Fernando de Souza, de 10 anos, desenhou uma ilustra��o em que os cachorros aparecem de bra�os dados, encimados por um cora��o vermelho. Ao redigir o texto, por�m, o estudante se nega a decidir qual dos c�es ir� ganhar o cora��o de Ol�via. Em tom feminista, ele defende que o direito da escolha pertence � cadela. “Minha opini�o para o final da hist�ria � que o dono poderia colocar ela no meio dos dois machos e ela iria para o que ela gosta”, aponta o menino, que determina tamb�m que o c�o rejeitado seja transferido para outro local. Na pr�tica, no entanto, Xerife, Ol�via e Kurt continuam convivendo sob o mesmo teto da Rua Turquesa, �s voltas com os filhotinhos, que fazem xixi de meia em meia hora. Dura realidade para os donos da casa.