
Balconista de uma padaria, D�bora das Dores de Souza, de 20 anos, foi morta a facadas, na manh� de 13 de junho, depois de sair de um bar com a amiga, a depiladora Joselaine dos Santos Cardoso, de 28. Al�m da dor, a m�e da v�tima, a cozinheira Luzia Tom�s de Souza, funcion�ria de uma padaria na Pra�a Tiradentes, no cora��o da cidade hist�rica, n�o esconde a indigna��o.
“N�o desejo que ningu�m fa�a nada ruim com ele, n�o. Mas a gente sofre quando sabe que n�o aconteceu nada. � D�bora quem � culpada por ter morrido? Ningu�m me chamou para dar satisfa��o nenhuma. D� a sensa��o de que tudo � normal. Que aconteceu uma coisa que tinha que acontecer”, queixa-se Luzia, muito emocionada.
Lideradas pelo N�cleo de Investiga��es Feministas (Ninfeias), professoras e estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e mulheres de outros coletivos da cidade questionam a n�o tipifica��o desse crime dentro da lei do feminic�dio. A jovem foi assassinada depois que ela e a amiga entraram em confronto com Roberto Francisco, de 49, quando estavam em um bar. De acordo com Joselaine, a confus�o teve in�cio quando ele teria “passado a m�o em v�rias partes do corpo de D�bora”, que n�o gostou e reagiu ao ass�dio. “Ela pediu para ele parar. Mas ele n�o parou. Ent�o, ela foi para cima dele”, diz Joselaine. A confus�o foi apartada e os tr�s foram embora.
No entanto, Roberto teria parado em um supermercado na Rua Maciel, no Bairro Alto da Cruz, que fica a um quil�metro do bar e comprado uma faca. Minutos depois, as duas mo�as pegaram uma carona e desceram no local, onde reencontraram Roberto. Mais uma vez voltaram a se enfrentar. Imagens das c�meras de seguran�a do supermercado mostram quando as duas atravessam a rua, encontram com ele e o conflito come�a. Pelas imagens, � poss�vel ver o momento em que ele esfaqueia D�bora, que cai no local. Tamb�m perfura o pulm�o de Joselaine, que foge para o supermercado. Depois de prestar depoimento, Roberto foi liberado no mesmo dia, o que revoltou os familiares das jovens. Joselaine ficou internada seis dias e toma antibi�tico devido � ferida.
“Em Ouro Preto, a mulher n�o tem local adequado que possa chegar e ser ouvida. Nas delegacias, � um entra e sai de homens, e muitas delas se sentem constrangidas de contar casos, principalmente de abuso sexual”, diz Deolinda Alice dos Santos, da Secretaria de Mulheres da Associa��o dos Aposentados, Pensionistas e Idosos de Ouro Preto, que encabe�a abaixo-assinado para a cria��o de uma unidade especializada.
ATO A morte da jovem desencadeou dois atos p�blicos promovido pelo Ninfeias. Um deles foi feito tr�s dias depois do assassinato. A professora e performer Nina Caetano estendeu um len�ol branco, onde colocou cruzes vermelhas representando D�bora e outras mulheres mortas por homens, crime tipificado como feminic�dio. “Cada cruz recebeu uma l�pide com o nome de uma mulher, a idade, onde foi morta, como morreu e quem a matou”, explicou Nina. O outro ato foi uma marcha silenciosa realizada por mulheres, principalmente da universidade, e pelas fam�lias das duas jovens.
As mulheres sa�ram de Branco da Barra, um bairro da cidade, passaram pela Pra�a Tiradentes, local onde fica o estabelecimento onde a jovem trabalhava, e seguiram para a Rua Maciel, onde o crime ocorreu. “O caso fortalece a discuss�o. Foi preso em flagrante e solto. Mais uma vez, a mulher morta � tratada como nada. Elas foram assediadas e reagiram. Uma � morta e a outra esfaqueada, mas ainda assim muitas pessoas culpam as v�timas. Defendem a postura dele”, diz Nina.
Uma fonte, que pediu para n�o ser identificada, afirmou que foi feito o flagrante, mas que o delegado n�o teria ratificado a pris�o. O caso, ent�o, foi encaminhado a uma delegada para dar prosseguimento �s investiga��es.
Em Minas, s�o 55 delegacias especializadas no interior e tr�s em BH. A assessoria de comunica��o da Pol�cia Civil de Minas Gerais informa que a delegada respons�vel pela investiga��o est� de f�rias e n�o teria como comentar o fato.
Professores da Ufop em greve
Os professores da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e Universidade Federal de Lavras (Ufla) aderiram � greve nacional iniciada em 28 de maio. De acordo com o Sindicato Nacional dos Docentes das Institui��es de Ensino Superior (Andes), em todo o pa�s j� s�o 40 institui��es em greve. Eles revindicam a realiza��o de concurso p�blico e pedem a reestrutura��o da carreira. Segundo o professor Andr� Rodrigues Guimar�es, que integra o comando de greve, h� uma distor��o salarial entre quem entra e quem est� no topo da carreira. Eles querem que o c�lculo do vencimento b�sico incorpore o regime de trabalho (20 horas, 40 horas e dedica��o exclusiva) e a titula��o.