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Estado de Minas

Fam�lia faz �ltima tentativa por puni��o de assassinos de Jean Charles

Homenagem na esta��o em que mineiro foi assassinado por policiais n�o deixa que morte seja esquecida. A��o no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos mant�m acesa esperan�a de justi�a


postado em 20/07/2015 06:00 / atualizado em 20/07/2015 07:22

Homenagem a Jean na estação de Stockwell, onde ele foi morto por policiais: sucessão de equívocos(foto: Renan Damasceno)
Homenagem a Jean na esta��o de Stockwell, onde ele foi morto por policiais: sucess�o de equ�vocos (foto: Renan Damasceno)
De Londres – Um mosaico de azulejos coloridos, com foto e a palavra “inocente” em letras garrafais, flores e algumas velas mant�m acesa a mem�ria de Jean Charles de Menezes na entrada da esta��o de Stockwell, no Sul de Londres, onde h� 10 anos a pol�cia metropolitana assassinou o brasileiro a tiros. Criado por uma artista sul-africana, o memorial foi autorizado pela empresa que gerencia o metr� de Londres, em 2010, e at� hoje recebe flores e cartas de apoio, muitas de brasileiros que visitam o local para prestar homenagens e tirar fotos. Bem distante dali, no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em Estrasburgo (Fran�a), uma �ltima cartada da fam�lia tamb�m n�o deixa se apagar a esperan�a de puni��o para os assassinos do eletricista, executado no metr� aos 27 anos.

A respons�vel pelo processo que contesta a impunidade que a Justi�a brit�nica deixou pairando sobre o caso � Patr�cia Armani, prima do brasileiro. “A impress�o que d� � que, a qualquer momento, ele vai dar um telefonema e vamos acordar deste faz de conta”, emociona-se ela, que morava com Jean Charles em um apartamento alugado na Scotia Road, em Tulse Hill, �rea residencial do Sul de Londres. Patr�cia, prima de primeiro grau do lado materno, havia chegado � capital inglesa meses antes, animada pelo primo, que embarcou para Londres com o sonho na bagagem em mar�o de 2002. “Mesmo 10 anos depois, a palavra que vem � minha cabe�a � incredulidade. N�o d� para acreditar, a ficha n�o caiu”, explica.

Jean Charles – “nascido em Gonzaga e baleado aqui, em 22/7/2005”, como lembra o quadro na estrada da esta��o –, n�o passava pelo local com frequ�ncia. Na manh� daquela sexta-feira, chamado por um amigo para instalar c�mera de seguran�a em uma resid�ncia do outro lado da cidade, saiu de seu apartamento em Tulse Hill e, depois de encontrar a esta��o de Brixton fechada, seguiu de �nibus para o terminal de metr� mais pr�ximo: Stockwell. Pegou um jornal gratuito, passou pela catraca e sentou-se no pen�ltimo vag�o quando, antes de partir, foi surpreendido e baleado com oito tiros por agentes da Scotland Yard, que o monitoravam desde as primeiras horas da manh�. Ap�s uma sucess�o de equ�vocos (veja quadro abaixo), Jean foi confundido com o terrorista et�ope Omar Hussein, que morava no mesmo pr�dio, cujos documentos estavam em mochila abandonada em tentativa frustrada de ataque ao metr� londrino, dias antes.

“At� hoje n�o gosto de passar por ali. Ainda bem que n�o � meu caminho. � uma sensa��o de tristeza, saudades, de questionamento. N�s costumamos visitar o lugar em datas especiais, como anivers�rio, anivers�rio de morte. Tivemos o suporte de muitas pessoas, de v�rios lugares do mundo, que se comoveram e que se re�nem l� nessas ocasi�es”, explica Patr�cia, que se mudou do apartamento que alugava de uma angolana em Tulse Hill pouco depois da morte do primo. Hoje, ela mora com o marido, tamb�m brasileiro, e o filho rec�m-nascido em Croydon, o maior distrito de Londres, tamb�m ao Sul, e vive de pequenos servi�os.

PROCESSO Al�m da solidariedade que deu for�as para enfrentar a trag�dia, Patr�cia deposita esperan�as no processo que contesta a decis�o da Justi�a brit�nica no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos – a �ltima inst�ncia a que a fam�lia pode recorrer para que os envolvidos na opera��o desastrada que matou Jean Charles sejam punidos, 10 anos depois. O tribunal, criado em 1959 e transformado em �rg�o permanente em 2008, tem por responsabilidade verificar se os princ�pios de direitos humanos s�o respeitados, e tem o poder de julgar os 47 estados que assinaram a conven��o. O primeiro julgamento ocorreu no dia 10 do m�s passado, em Estrasburgo, na Fran�a.

“N�s nos baseamos no artigo 2º da Conven��o Europeia de Direitos Humanos, que obriga os Estados a assegurarem que todos os cidad�os t�m direito absoluto � vida, e que o uso excessivo da for�a por agentes do Estado � ilegal e deve ser punido”, afirmou, por e-mail enviado ao Estado de Minas, a ativista e advogada brit�nica Harriet Wistrich, que defende a fam�lia de Jean Charles no tribunal. “N�s tamb�m argumentamos sobre a autodefesa, e que n�o � necess�rio matar para defender a si mesmo ou aos outros”, disse.

Patr�cia ingressou com a a��o em 2008, logo depois que o Minist�rio P�blico Brit�nico decidiu n�o abrir processos criminais contra os agentes envolvidos. A pol�cia foi condenada a pagar multa (em torno de R$ 835), pena contestada pela fam�lia. Houve acordo para pagamento de uma indeniza��o de 100 mil libras aos familiares (cerca de R$ 286 mil), que os pais de Jean dizem ter recebido em parte. “Quando terminou a investiga��o p�blica, nos reunimos (os primos) e decidimos apelar para mais este recurso. N�o vai trazer o Jean de volta, mas ningu�m foi punido, n�o queremos que outras fam�lias passem por isso.” O veredito, no entanto, deve sair em v�rios meses. Talvez anos.


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