(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Veja como foi o in�cio do tratamento da tuberculose no Brasil

Somente d�cadas ap�s a fase mais aguda da doen�a, medicamentos eficazes para combater a tuberculose chegaram ao pa�s. Em BH, eles representaram o come�o do fim do isolamento


postado em 09/08/2015 06:00 / atualizado em 09/08/2015 14:12

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

Os primeiros medicamentos tuberculost�ticos chegariam ao Brasil a partir da d�cada de 1950, mas somente na metade da d�cada de 1960 os sanat�rios seriam esvaziados, dando lugar aos ambulat�rios. “Com os medicamentos, as cirurgias nos pulm�es foram perdendo campo. O tratamento passou a ser cl�nico”, explica o m�dico Silvio Paulo Pereira. Chegou-se ao consenso m�dico de que a doen�a finalmente tinha cura, por meio da associa��o de medicamentos, como quimioter�picos.

Se voc� conhece casos de tuberculose na sua fam�lia ou pessoas pr�ximas, conte pra n�s.
Envie para [email protected]


Por�m, mesmo depois da descoberta da cura, persiste o preconceito em rela��o aos pacientes de tuberculose, que, depois de 15 dias de medica��o, deixam de transmitir o bacilo pelo ar. “Mas a mancha da tuberculose n�o sai dos pulm�es. Continua aparecendo no raio-X”, lamenta um paciente da d�cada de 1990, que prefere permanecer no anonimato, por receio de ser marginalizado no mercado de trabalho. “Durante a minha interna��o, percebi que as pessoas tinham medo de passar na porta do hospital, onde s� ficava gente infectada. � muita crendice”, afirma. O ex-tuberculoso e um irm�o contra�ram a doen�a pelo contato prolongado com um parente pr�ximo, fumante e tuberculoso.


MARCAS DO PASSADO

Mocidade e Morte

 

(Castro Alves – morto de tuberculose aos 24 anos)

Eu sei que vou morrer... dentro do meu peito
um mal terr�vel me devora a vida.
Triste Assaverus, que no fim da estrada
s� tem por bra�os uma cruz erguida.
Sou o cipreste qu'inda mesmo florido
Sombra da morte no ramal encerra!
Vivo – que vaga entre o ch�o dos mortos,
Morto – entre os vivos a vagar na Terra.

Confira como a tuberculose afetava indiv�duos e sociedade nas primeiras d�cadas do s�culo 20

  • No auge da epidemia, era perigoso tossir. A tosse repetida, que podia resultar em laivos de sangue nos len�os, usados em profus�o, era a marca da tuberculose. Quem tossia insistentemente era rotulado como contagioso. Al�m de infectado, estava condenado � morte pela tuberculose, tida na �poca como a mol�stia que n�o perdoa.

  • Marcado pelo estigma da tuberculose, o doente precisava se isolar das pessoas queridas. Estar tossindo inspirava a desconfian�a alheia de que o tuberculoso levava uma vida desregrada como a dos poetas. Pior ainda, era tachado como sendo de origem humilde, sem alimenta��o suficiente e saneamento b�sico. A doen�a s� atacava �queles que tinham baixa imunidade.

  • Em nome da tuberculose, casamentos foram desmanchados e carreiras interrompidas. Ningu�m queria ter por perto um doente grave, sem muita esperan�a de cura. Tuberculosos se isolavam em cidades de clima frio e pacatas, imunes � amea�a de noitadas insones. Al�m de tossir at� quase 'vomitar' o pulm�o, os doentes emagreciam muito e ficavam fracos, sendo reconhecidos aonde estivessem.

  • A tuberculose era como a epidemia da Aids na d�cada de 1980, s� que multiplicada quase 50 vezes. Com o agravante de que o HIV era transmitido principalmente por contato sexual, enquanto a t�sica contaminava pelo ar. Os tuberculosos provocavam o pavor de quem estava perto e podia pegar a doen�a. At� mesmo os familiares iam visitar os pacientes de longe, dando adeus por meio das amplas janelas dos sanat�rios, que deixavam ventilar e o sol entrar.

  • Sem tratamento conhecido, sanat�rios se multiplicavam em cidades de clima frio como Belo Horizonte. Enquanto muitos morriam, outros mais resistentes eram obrigados a sobreviver por anos longe de seus familiares, por vezes formando novos v�nculos. Nos hospitais, as janelas nunca fechavam, dia e noite, sol e chuva.

  • Os sanat�rios atendiam clientes das caixas de previd�ncia de banc�rios, comerci�rios e industri�rios, ligados a institutos como o IAPI. A pr�pria Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, criada em 1911, teve uma maioria de m�dicos tuberculosos entre seus fundadores, como Hugo Werneck, que aqui vinham em busca da “cura pelo clima”.

  • O prest�gio terap�utico do clima belorizontino atra�a terapeutas, pacientes e m�dicos acometidos pela infec��o. Logo a cidade se viu repleta de sanat�rios particulares, para a ira dos tisiologistas cariocas, que viam seus pacientes migrarem para BH. Mas tamb�m vinha de todo o Brasil uma massa de tuberculosos pobres e desvalidos, em busca da alguma esperan�a de cura, que nem sempre encontravam.

  • Nos in�meros sanat�rios, os pacientes basicamente descansavam em instala��es parecidas com hot�is, alimentando-se diversas vezes ao dia. Nas propagandas da �poca, eram alardeados aqueles hospitais que ofereciam maior n�mero de refei��es por dia e maior tranquilidade. Buscando se recuperar, os pacientes faziam caminhadas em meio �s matas na tentativa de fortalecer o organismo. Para passar o tempo, escreviam longas cartas aos parentes e enchiam p�ginas e p�ginas de seus di�rios.

  • Aos poucos, foram sendo inventadas t�cnicas como o raio-X dos pulm�es (abreugrafia) e o pneumot�rax, que injetava ar por fora dos pulm�es, de forma a esmagar uma parede na outra, retirando o oxig�nio. Sem respirar, os bacilos morriam sufocados. Em �ltimo caso, partes inteiras dos pulm�es eram ressecadas ou operadas em cirurgias dolorosas, que exigiam extrair at� mesmo as costelas do paciente. Era consenso na �poca de que, se os dois pulm�es estivessem tomados, havia pouca chance de escapar. Melhor seria se entregar aos bra�os da boemia, esperando a morte chegar.

  • Sem condi��es de financiar o tratamento em institui��es particulares, muitos desses doentes se hospedavam nas diversas casas e pens�es para tuberculosos que proliferavam pela cidade. Foi somente em 1928 que se organizou um movimento no sentido da caridade p�blica, do qual resultou a Assist�ncia ao Prolet�rio Tuberculoso, transformado mais tarde no Sanat�rio Marques Lisboa, o primeiro da capital destinado ao tratamento de tuberculosos pobres.

M�dicos falam sobre a situa��o da tuberculose no Brasil


O que � a tuberculose

Doen�a transmiss�vel, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, tamb�m conhecido por bacilo de Koch. Geralmente afeta os pulm�es, mas tamb�m pode atingir outros �rg�os e sistemas (tuberculose extrapulmonar).

 

Sintomas
O principal � a tosse por tr�s semanas ou mais. Pode vir acompanhada de febre (especialmente � tarde), suor intenso � noite, palidez, falta de apetite e emagrecimento.

Como � transmitida
O agente infeccioso est� na saliva e se transmite pelo ar, em contato prolongado com doentes, em ambientes fechados, com pouca ventila��o e aus�ncia de luz solar. Baixa imunidade  –inclusive por m� alimenta��o, tabagismo e alcoolismo – aumenta as chances de cont�gio.

 

Vacina
Chamada BCG, foi desenvolvida na d�cada de 1930. N�o imuniza completamente contra a doen�a, mas protege contra suas formas mais graves.

Tratamento
Hoje � gratuito e oferecido pelo SUS, com dura��o m�nima de seis meses. Diante da suspeita de tuberculose, recomenda-se investigar por exames a possibilidade de resist�ncia a medicamentos. Em BH, j� est� dispon�vel na rede p�blica o teste r�pido molecular, que permite a detec��o precoce da forma resistente.

 

A doen�a hoje
Uma a cada tr�s pessoas no mundo est� infectada com a bact�ria da tuberculose, em estado dormente. O bacilo pode se tornar ativo por fatores que enfraquecem o sistema imunol�gico, tais como o HIV ou a idade avan�ada. A tuberculose comum � tratada com a associa��o de quatro drogas, a chamada primeira linha.

 

O mal multirresistente
Drogas mal prescritas e descumprimento dos prazos de administra��o dos medicamentos podem dar origem � tuberculose multirresistente (MDR-TB, sigla em ingl�s para multidrug- resistant tuberculosis). O mal demanda mais tempo at� a cura e exige drogas de segunda linha, muito mais caras e com mais efeitos colaterais.

 

Tuberculose extensivamente resistente
A XDR-TB ocorre quando as drogas de segunda linha, para atacar micro-organismos j� multirresistentes, s�o mal prescritas ou quando os prazos de administra��o s�o descumpridos pelos doentes, tornando os medicamentos ineficazes. Como a XDR � resistente tanto �s drogas de primeira quanto �s de segunda linha, as alternativas de tratamento ficam seriamente limitadas.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)