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Estado de Minas

Para receber migrantes da epidemia de tuberculose, sanat�rios se multiplicaram em BH

BH abriu as portas para t�sicos de todo o pa�s, mas, apesar da fama de ares curativos, tinha mortalidade assombrosa


09/08/2015 11:00 - atualizado 09/08/2015 13:01

Doentes em fila no Marques Lisboa, primeiro sanatório para acolher pessoas carentes: peso no corpo e na alma(foto: Arquivo EM)
Doentes em fila no Marques Lisboa, primeiro sanat�rio para acolher pessoas carentes: peso no corpo e na alma (foto: Arquivo EM)
Deitando sangue pela boca em noites horr�veis, autores t�sicos vomitavam versos sobre o famigerado mal do s�culo, como descreveu, no poema Os doentes, Augusto dos Anjos . Na propor��o inversa da inspira��o liter�ria, faltava material cient�fico sobre a tuberculose, e os poucos artigos que havia eram em ingl�s e franc�s. Na Escola de Medicina da UFMG, as anota��es das aulas do catedr�tico Jos� Feldman eram reproduzidas nos mime�grafos pelos alunos, formando as antigas “bentas”. Na “benta” de Feldman, � poss�vel verificar que os coeficientes de mortalidade por tuberculose eram altos at� 1947: atingiam 250 a cada 100 mil habitantes em BH. Para se ter uma ideia, eram nada menos que 44 vezes superiores �s 5,7 mortes a cada 100 mil pessoas registradas por HIV no Brasil, segundo os �ltimos dados do Minist�rio da Sa�de, de 2014.

Sem rem�dios conhecidos (os primeiros tuberculost�ticos s� viriam depois da Segunda Guerra Mundial), era preconizado o isolamento dos pacientes em hospitais afastados dos centros urbanos. Reconhecida pelo clima ameno, com altitude acima de 800 metros, a capital mineira sediaria alguns dos mais luxuosos sanat�rios do pa�s, como o Alberto Cavalcanti, o J�lia Kubitschek, o Baleia e o Eduardo de Menezes, mais tarde readaptados para hospitais gerais. Nessas unidades, eram atendidos em sua maioria pacientes ligados aos institutos de previd�ncia dos banc�rios, industri�rios e comerci�rios.

O Sanat�rio Minas Gerais, atual Hospital Alberto Cavalcanti, foi o primeiro da capital, o segundo de Minas (o pioneiro foi aberto em Palmira, no interior) e terceiro do pa�s. Um ano depois, em 1928, seria inaugurado o Sanat�rio Hugo Werneck, erguido com recursos pr�prios pelo m�dico Hugo Werneck, em agradecimento � cidade que o ajudou a se livrar da “peste branca” – o nome era um contraponto � peste negra ou bub�nica. Antes de rumar para BH, o jovem j� havia tentado a cura na localidade de Arosa, perto de Davos, na Su��a, enviado pelo pai, que foi m�dico da princesa Isabel. “Meu av� contava que os doentes tomavam banhos de sol em espregui�adeiras na neve, enrolados em mantas de pele”, detalha Fernando Werneck, de 71 anos, atual colaborador do Autom�vel Clube, fundado tamb�m pelo av� dele, que ajudaria ainda a criar a Santa Casa e os hospitais Madre Teresa e S�o Lucas. Hoje, as ru�nas do sanat�rio est�o sendo administradas pelo Instituto Rondon, em conv�nio com a Justi�a Federal. 

Janelas amplas mostram o verde no entorno do Hugo Werneck: ar puro e cinturão de isolamento(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Janelas amplas mostram o verde no entorno do Hugo Werneck: ar puro e cintur�o de isolamento (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


De volta, com o HIV


Cercado por esp�cimes da mata atl�ntica, o Sanat�rio Eduardo de Menezes tornou-se hospital especializado em doen�as infectocontagiosas, refer�ncia no atendimento a portadores de HIV. Na d�cada de 1980, a epidemia da Aids baixou a imunidade dos soropositivos, trazendo de volta a tuberculose, como doen�a oportunista.

Da indig�ncia ao golpe

Nos piores tempos da tuberculose, quem n�o tinha previd�ncia era chamado de indigente. E eles chegavam a BH aos montes, vindos de todo o pa�s. Sem recursos, muitos acabavam embaixo de pontes ou se hospedavam em pens�es para tuberculosos, que proliferavam na regi�o hospitalar da capital. “Como os tuberculosos vinham do interior para as cidades, recebendo do governo a verba-sanat�rio, criou-se na �poca o ‘golpe do escarro’. Doentes cobravam para cuspir catarro com sangue em um copo. Pessoas imunes � doen�a usavam o material para se apresentar na hora do exame e fingir que estavam tuberculosas, para receber os benef�cios”, lembra-se o pneumotisiologista Frederico Ozanam, de 74 anos.

Se voc� conhece casos de tuberculose na sua fam�lia ou pessoas pr�ximas, conte pra n�s.
Envie para [email protected]


Na regi�o do Morro das Pedras, na altura da Avenida Raja Gabaglia, seria fundada uma vila para acolher trabalhadores carentes. O povoado daria origem ao Sanat�rio Marques Lisboa, chamado primeiro pelo nome do m�dico fundador e, mais tarde, rebatizado com a denomina��o atual de Hospital Madre Teresa. “Devido �s p�ssimas condi��es de higiene, alimenta��o e moradia, a tuberculose produzia verdadeiros estragos entre os pobres. Al�m do sofrimento do corpo, o doente carregava na alma o peso de ter contra�do uma doen�a contagiosa e fatal, muitas vezes associada a pr�ticas desregradas”, informa a edi��o hist�rica de uma revista feita em comemora��o aos 50 anos das freiras do Madre Teresa.

Médicos Frederico Ozanam e Frederico de Campos: testemunhas da ameaça, do passado até o presente(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
M�dicos Frederico Ozanam e Frederico de Campos: testemunhas da amea�a, do passado at� o presente (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)


Diante do quadro de calamidade, na d�cada de 1940 o Estado decide intensificar a luta contra a doen�a, quest�o priorit�ria de sa�de p�blica, criando o Servi�o Nacional de Tuberculose (1941) e a Campanha Nacional contra a Tuberculose (1946). “Como n�o havia rem�dios, os pacientes apelavam para rezas e benze��es. A cirurgia foi o primeiro m�todo terap�utico verdadeiramente v�lido para curar a tuberculose”, diz o cirurgi�o tor�cico Silvio Paulo Pereira, de 73 anos, 48 deles dedicados � medicina. Segundo ele, a colapsoterapia era a t�cnica mais usada, adotando m�todos como o pneumot�rax. A grosso modo, a interven��o consistia em inje��es regulares de ar entre a pleura e o pulm�o, que faziam partes comprometidas do �rg�o “murcharem”, ajudando a fechar as les�es.

Novos sanat�rios surgiram em Belo Horizonte nas d�cadas de 1940 e 50, todos eles com amplas janelas, para facilitar a ventila��o. Unidades foram abertas em lugares ent�o isolados do Centro da cidade, como o Hugo Werneck, na Regi�o de Venda Nova. No Barreiro, o ent�o presidente Juscelino Kubitschek abriria em 1958 o hospital com o nome da m�e, J�lia Kubitschek. Originalmente, as instala��es seriam destinadas a abrigar um novo clube do Sesc. Diante da epidemia, os pr�dios foram readaptados para receber tuberculosos.

M�dicos falam sobre a situa��o atual da tuberculose no Brasil

 

MARCAS DO PASSADO

No Leito  

(Casimiro de Abreu – morto de tuberculose aos 21 anos)

Eu sofro; o corpo padece
E minh’alma se estremece
Ouvindo o dobrar dum sino!
Quem sabe? – A vida fenece
Como a l�mpada no templo
Ou como a nota dum hino!

A febre me queima a fronte
E dos t�mulos a aragem
Ro�ou-me a p�lida face;
Mas no del�rio e na febre
Sempre teu rosto contemplo
(...)


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