Moradores do Enseada das Gar�as v�o acionar MP sobre mau cheiro na Lagoa da Pampulha

Os ip�s-amarelos perderam a gra�a, a Ilha dos Amores virou, de repente, “ilha dos dissabores”, e o espelho-d’�gua deixou de refletir a beleza da paisagem candidata a patrim�nio da humanidade. No lugar desses encantos, entram m�scaras cir�rgicas, dedos tampando o nariz, janelas fechadas e muita irrita��o. Nas �ltimas semanas, moradores do Bairro Enseada das Gar�as, na Pampulha, em Belo Horizonte, n�o conseguem mais desfrutar do cart�o-postal da cidade, tal o mau cheiro que exala das �guas da lagoa. Sem alternativa, alguns trocam de endere�o, como se fossem “exilados ambientais”, ou procuram ficar mais tempo na rua. “No domingo, Dia dos Pais, as fam�lias tiveram que almo�ar em restaurantes”, queixa-se a dona de casa Vera L�cia Vieira, residente h� 35 anos no bairro. Ao lado de vizinhos, trabalhadores dom�sticos, caminhantes da orla e simpatizantes da causa, ela participou ontem de um protesto para denunciar a situa��o. Em vez de olhares de admira��o, rostos indignados e protegidos por m�scaras brancas.

“N�o � mau cheiro, � fedor mesmo de esgoto. Parece que tem algo qu�mico misturado. Est� insuport�vel”, reclama o jornalista esportivo Ramon Salgado, morador h� 30 anos da Enseada das Gar�as. Sem condi��es de ficar na resid�ncia de onde se avista grande parte da lagoa, ele se mudou temporariamente, com a mulher Selon�, para o Bairro Ouro Preto, tamb�m na Pampulha. Ele explicou que, antes da Copa do Mundo, em junho do ano passado, havia at� seis dragas fazendo a limpeza. “Depois, pararam”, afirmou.

Igualmente inconformada, a dona de casa Vera L�cia Vieira, comentou que “nem urubu est� aguentando”. Rouca, ela disse que vive com a casa fechada o tempo todo. “Dor de cabe�a e n�useas. Est� todo mundo ficando doente. Esta parte do bairro virou um lix�o ambulante”, denunciou. Ao lado, a funcion�ria de Vera L�cia, Elizabete In�cia Lopes, contou que foi atendida numa unidade municipal de sa�de e o m�dico garantiu que o mal-estar decorria da polui��o. 

DEN�NCIA NO MP Enquanto os moradores protestavam, uma equipe da PBH, sem m�scara de prote��o, come�ava a limpar as margens da lagoa. Hoje, um grupo de moradores dever� procurar o Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) e protocolizar um documento com a den�ncia. A professora da Faculdade de Educa��o da UFMG, Narriman Rodrigues Conde, explicou que j� fez reclama��o na Ouvidoria da PBH. “Terei a resposta amanh� (hoje). De uns 20 dias para c�, o cheiro s� piora”, afirmou. Os moradores j� telefonaram, segundo informaram, para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente pedindo provid�ncias. Jo�o Monteiro Filho lembrou que o IPTU no bairro � muito caro. “E esse fedor desvaloriza os im�veis.” A arquiteta e escritora Maria Ester Lacerda destacou que tudo � absoluta falta de respeito, principalmente no momento em que o conjunto arquitet�nico da Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), quer ganhar o t�tulo concedido pela Unesco.

INVESTIMENTO A PBH informa que est� em curso o Programa Pampulha Viva, financiado pelo munic�pio, junto ao Bancos do Brasil (BB) e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), contando ainda com investimentos da Copasa, com objetivo de “promover a recupera��o da bacia hidrogr�fica da lagoa”. “A primeira etapa do programa propiciou a retirada de cerca de 850 mil metros c�bicos de sedimentos e est� em fase de elabora��o um edital de licita��o, com publica��o prevista ainda para 2015, que promover�, anualmente, a��es de dragagens de manuten��o”. Em rela��o ao tratamento das �guas da Lagoa da Pampulha, a PBH diz que “est� em curso a licita��o que escolher� a melhor t�cnica para a limpeza, com in�cio dos trabalhos previsto para esse ano, e que est� conclu�do o projeto para implanta��o de uma Esta��o de Tratamento das �guas do C�rrego D’�gua Funda, segundo a tecnologia de Jardins Filtrantes (veja ao lado).

A Copasa informa que viabiliza a execu��o das obras de implanta��o/complementa��o das infraestruturas de esgotamento sanit�rio na bacia hidrogr�fica, atuando ainda em parceria com o munic�pio para identificar e efetivar potenciais liga��es domiciliares ao sistema, al�m da elimina��o de liga��es clandestinas de esgotos � drenagem. Sobre o cheiro, os t�cnicos da PBH esclarecem que “o passivo de polui��o presente no interior da lagoa, correspondente � grande quantidade de mat�ria org�nica, associado � polui��o afluente e ao longo per�odo de estiagem, explica o quadro que se verifica, de baixa dilui��o, excessiva prolifera��o de algas e desprendimento de maus odores”.

POLUI��O QUE RESISTE AOS ANOS

S�mbolo da cidade e candidata a Patrim�nio da Humanidade ao lado do complexo arquitet�nico, a Lagoa da Pampulha j� passou por diversos tratamentos e promessas, nenhum deles capaz de resolver o problema da polui��o. Confira os mais expressivos.

» Aguap�s 1
Em meados da d�cada de 1970, a lagoa foi invadida pelos aguap�s. Segundo moradores mais antigos, a planta foi introduzida para tentar “limpar”o reservat�rio, que recebia grande quantidade de esgoto

» Aguap�s 2
De tentativa de solu��o, os aguap�s viraram novo problema. No fim da d�cada de 1980 come�am as a��es para retirar as plantas, que se tornaram problema cr�nico e cobriam grande parte do espelho d’�gua. O processo exigiu maquin�rio pesado e consumiu vultosas quantias de dinheiro p�blico

» Barco
No in�cio de 2000, com a queda da oxigena��o na �gua, foram usados barcos de forma emergencial, com algum efeito positivo. Ao girar, a h�lice da embarca��o misturava ar e �gua, permitindo introdu��o do oxig�nio

» Redes coletoras
Tamb�m no ano de 2000, a Copasa d� in�cio � constru��o das redes coletoras de esgoto e intercepta��o das liga��es clandestinas. Trata-se de um novo tempo na trajet�ria do reservat�rio, mas, por problemas administrativos e jur�dicos, o projeto ainda n�o foi capaz de retirar os lan�amentos do espelho d’�gua



» Floatflux
No in�cio dos anos 2000, o sistema entra em opera��o nos c�rregos Ressaca e Sarandi, para retirar 80% da mat�ria org�nica e 90% do f�sforo – nutriente que propicia o crescimento de algas



» Dragagem
Entre 2013 e 2014 � feita dragagem para retirar sedimentos dalagoa. No total, foram 800 mil metros c�bicos de material

» Recupera��o da qualidade da �gua
A licita��o dos Servi�os de Recupera��o da Qualidade da �gua da Lagoa da Pampulha foi suspensa por decis�o da Prefeitura de BH, at� que estejam integralmente implementadas as a��es de coleta e intercepta��o de esgotos na Bacia da Pampulha, que est�o sendo realizadas pela Copasa. H� uma semana, a PBH anunciou que vai iniciar por conta pr�pria a constru��o de plantas de tratamento de �gua em tr�s ou mais dos afluentes mais polu�dos do reservat�rio