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Estado de Minas

EM embarca na primeira viagem noturna do trem entre Ouro Preto e Mariana

Primeira viagem noturna do trem da Vale entre Ouro Preto e Mariana encantou os quase 300 passageiros, que dan�aram ao som de variados ritmos e apreciaram a paisagem


postado em 08/09/2015 06:00 / atualizado em 08/09/2015 07:54

Distribuídos em cinco vagões, turistas se divertiram com apresentações de músicos e muitos elogiaram a iniciativa de se fazer o percurso à noite(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Distribu�dos em cinco vag�es, turistas se divertiram com apresenta��es de m�sicos e muitos elogiaram a iniciativa de se fazer o percurso � noite (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

Ad�lia Prado tinha raz�o ao declamar que o trem de ferro atravessa a noite para virar sentimento. A equipe do Estado de Minas embarcou na primeira viagem noturna de um trem da Vale no �ltimo domingo. O trajeto de 18 quil�metros entre Ouro Preto e Mariana � feito em uma hora e possibilita uma volta ao s�culo 19, quando as marias-fuma�as eram o principal meio de transporte dos mineiros. A reportagem embarcou com essa miss�o de descobrir os motivos que fazem com que o trem seja para os mineiros muito mais do que uma m�quina de ferro. Se Ad�lia e Carlos Drummond de Andrade se encontrassem nessa viagem, o poeta certamente pontuaria que esse � um sentimento do mundo.


�s 18h, casais de namorados, pais com filhos e grupos de amigos esperam ansiosos na esta��o. “Vem, vem, vem passear de trem”, convida a Companhia Calor de Laura aos que esperam a partida na esta��o de Ouro Preto. A curiosidade � grande e, em menos de 15 minutos, os quase 300 passageiros se acomodam nos cinco vag�es convencionais e no panor�mico, que ganhou janel�es de vidro. �s 18h30, o apito do trem indica que vai come�ar a viagem. Samuel Pimenta, de 18 anos, e a m�e, Ros�ngela Reis, de 53, fazem o trajeto pela terceira vez, desta vez no hor�rio noturno. “� uma imers�o na Ouro Preto de antigamente. O barulhinho do trem nos leva ao per�odo colonial”, arrisca o jovem.

V�deo mostra como � a viagem no trem

Para entrar no clima, a recep��o � feita ao som da Barroco Jazz Band. Wash board (t�bua de lavar), banjo country, trompa e clarineta para tocar, ao estilo de Nova Orleans (EUA), o melhor do dixieland. Aos poucos, quem est� um pouco ressabiado, se solta, dan�a nos bancos, e alguns at� mesmo arriscam passos mais elaborados no corredor do vag�o. De vag�o em vag�o, os m�sicos convidam os passageiros a dar ao ritmo americano o sotaque da mineiridade. “Oh, Minas Gerais! Quem tem conhece n�o esquece jamais. Oh, Minas Gerais!”, cantam os passageiros em coro. E quem conhece n�o esquece mesmo, como garante o goiano Adriano Meirelles, de 46. “A sensa��o � de voltar no tempo”, atesta ele, que, pela primeira vez, faz a viagem com Ana Luiza Marques, de 40. O convite para o passeio inusitado veio do gerente comercial Augusto Novaes, de 40, que tenta decifrar os motivos que fazem do trem uma paix�o entre os mineiros. “O trem cria um sentimento. A gente tem vontade de fazer mais vezes.”

Diz o ditado que mineiro n�o perde o trem, mas a aposentada Aparecida Pira perdeu. Ela tentou comprar o bilhete da viagem, mas, mesmo n�o tendo conseguido, foi at� a esta��o para ver a partida da primeira viagem do trem noturno. “O lado direito � o melhor”, avisava a quem teve mais sorte que ela. Preste aten��o no conselho, porque, de fato, vai permitir apreciar a mais bela vista. Serpenteando entre as montanhas das cidades hist�ricas, o trem passa pelas esta��es Ouro Preto, Vit�rio Dias, Passagem de Mariana, Mariana.


Muita gente foi exclusivamente � cidade hist�rica para reviver a experi�ncia de andar sobre os trilhos nas Minas Gerais. A professora Justa Ferreira dos Santos, de 52, chegou com um grupo de 36 pessoas, de Ita�na, para fazer a viagem. “� foxtrot! Que vontade de dan�ar”, balan�ando no ritmo do jazz. A viagem resgata mem�rias. Em uma cadeira de rodas e se comunicando apenas com o olhar, o aposentado Emilson Martins, de 34, mal podia conter a emo��o de refazer a viagem. “Ele fez essa viagem quando crian�a. Ent�o, � muito emocionante repeti-la”, diz Ivonete Ferreira, de 39, acompanhante fiel do marido, depois que um acidente de tr�nsito lhe tirou a fala e a mobilidade.

PAIX�O H� quem diga que, para entender a alma do mineiro � preciso entender essa paix�o, como atesta o ferrovi�rio Gilberto Bastos da Cruz, que dedicou 39 anos dos 64 de vida ao trem. “Comecei em Mariana. Viajei para Ponte Nova, Itabirito, Sabar� e Vespasiano. Comecei como auxiliar, passei a maquinista e agora sou inspetor, coordeno e treino maquinistas. Sou apaixonado por tudo isso. � uma cacha�a. Toma para a vida toda. Mineiro � apaixonado por trem. Minas � um estado montanhoso. E o trem acaba com a dificuldade de deslocamento”, diz.


Todos os sentimentos cabem naqueles vag�es. Para uns, a viagem � divers�o, para muitos, rom�ntica. Bem sabe o casal Ricardo Car�ssimo, de 54, e Al�cia Rodrigues, de 42, que levou at� vinho para a noite especial. “Como est� escuro, brincamos de imaginar a paisagem. � bom porque agu�a a imagina��o”, diz Al�cia. Quando o trem se aproxima de Mariana, o espet�culo fica por conta da igrejas iluminadas da cidade hist�rica e n�o h� quem n�o tenha certeza de que, sim, mineiro ama o trem.
O trem circula em quatro hor�rios na sexta e no s�bado, dois partindo de Mariana e dois de Ouro Preto; e tr�s hor�rios no domingo. Tamb�m parte nos feriados nacionais. A viagem contou tamb�m com apresenta��es da Cia. Navegante, trazendo o encanto das marionetes e distribuindo a sorte em realejo, e de um m�gico. A Vale ainda estuda a possibilidade de realizar a viagem noturna mais vezes. Enquanto isso, voc� pode usufruir das viagens j� existentes.

 

Os hor�rios do trem


Sextas e s�bados
Sa�da Ouro Preto: �s 10h e �s 14h30
Sa�da Mariana: �s 13h e �s 16h

Domingos
Sa�da Ouro Preto: �s 10h e �s 16h
Sa�da Mariana: �s 14h30

Prote��o ao patrim�nio

Ouro Preto completou 35 anos como patrim�nio cultural da humanidade com a esperan�a de que a interdi��o do tr�fego de ve�culos de forma alternada e aos domingos no Centro Hist�rico, possa ajudar na preserva��o da cidade hist�rica. Tramita na C�mara Municipal, projeto de lei que prev� a interdi��o das ruas S�o Jos� e Get�lio Vargas, no Centro, e Bernardo de Vasconcelos e Pra�a do Ant�nio Dias, no Bairro Ant�nio Dias. Em 2 de setembro de 1980, o t�tulo foi concedido pela Unesco.

Apesar de o projeto resolver um problema da cidade, moradores e turistas consideram que � preciso uma a��o mais intensiva para a manuten��o do patrim�nio. “Temos um fluxo muito grande de turistas, que chegam na cidade e ficam perdidos”, diz a presidente da Associa��o dos Catadores Padre Faria. Para ela, al�m de mais informa��es, � urgente que os turistas possam contar com mais estacionamentos para deixar o carro enquanto caminham pelo Centro.

A comerciante Pilar Alves, de 55 anos, nasceu e foi criada nas ladeiras do Bairro Santo Ant�nio, mas considera que n�o h� o que comemorar. “A cidade nem merece mais esse t�tulo de patrim�nio cultural da humanidade. N�o tem preparo para receber os turistas e a limpeza � prec�ria. � com muita tristeza que falo isso. Vejo a decad�ncia dia a dia da cidade. Se a Unesco vier aqui, retira o t�tulo”, completou. Apesar disso, ela destaca a restaura��o do telhado da Igreja Nossa Senhora da Concei��o.

O secret�rio de Educa��o, Jos� C�sar de Sousa, afirmou que a educa��o patrimonial � fundamental para que os monumentos sejam preservados. “Temos que preservar as igrejas, as ruas, as pra�as e a popula��o, que tamb�m � um patrim�nio da cidade.”
Restauração do telhado da Igreja Nossa Senhora da Conceição(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Restaura��o do telhado da Igreja Nossa Senhora da Concei��o (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


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