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Estado de Minas

Igreja do s�culo 18 agoniza por falta de manuten��o em Sabar�

Igreja de Nossa Senhora do � se deteriora a cada dia. Piso est� cedendo, o telhado inclinou, h� infiltra��o, formigas e nenhuma perspectiva de socorro


01/10/2015 06:00 - atualizado 01/10/2015 08:11

Cartão-postal de Sabará, a igreja está em risco, mas ficou de fora da lista do PAC Cidades Históricas
Cart�o-postal de Sabar�, a igreja est� em risco, mas ficou de fora da lista do PAC Cidades Hist�ricas (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)

Um dos s�mbolos do patrim�nio hist�rico de Minas Gerais, ponto de visita��o de turistas e de grande procura por noivas e noivos de v�rias partes do estado e at� do pa�s, a Igreja de Nossa Senhora do �, em Sabar�, na regi�o metropolitana, est� em risco. Parte do piso est� cedendo e tr�s bancos ao fundo da lateral direita foram interditados h� menos de um m�s. Do lado de fora, tamb�m na lateral direita, parte do beiral est� comprometida e o telhado inclinou. Danos graves e de risco iminente que se juntam a outros problemas j� existentes h� mais tempo, como infiltra��es em diversas partes da edifica��o, e revelam a necessidade de urgente reforma. O que t�o cedo n�o vai acontecer, segundo o Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iphan-MG), porque a igreja n�o integra a lista das contempladas para receber recursos do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) Cidades Hist�ricas. A situa��o tende a se agravar com a chegada do per�odo de chuvas.

“Aqui a gente vai sofrendo em s�rie. A cada dia aparece um problema”, relata a recepcionista da igreja, Mar�lia Viana. Ao abrir das cortinas vermelhas localizadas atr�s da porta de entrada, o espet�culo da beleza barroca do s�culo 18 perde o brilho para o desgaste do tempo. Logo ao fundo, os tr�s �ltimos bancos do lado direito foram interditados porque o piso, em t�bua corrida, tende a ceder. Basta pisar leve para se ter a impress�o de que o assoalho vai afundar. Ao lado dos mesmos bancos, os buracos e frestas entre a parede e o piso agravam a sensa��o de que a lateral direita da igreja est� se inclinando.

Outro ind�cio est� mais � frente, quase pr�ximo ao altar: o friso lateral da parede, do lado direito, est� rente � fileira de bancos, enquanto do lado esquerdo est� a cerca de 10 cent�metros dos bancos. Segundo Mar�lia, relatos da hist�ria d�o conta de que a inclina��o teria come�ado no fim dos anos 1920, quando um padre resolveu abrir uma porta e uma janela. Tempos depois, a igreja foi recuperada e a parede voltou a ser fechada, inclusive com a restaura��o das telas laterais, mas a estrutura j� tinha sido abalada.

Com as infiltrações, parte do piso do templo está corroída. Na lateral direita, o beiral do telhado inclinou e há risco de desabamento
Com as infiltra��es, parte do piso do templo est� corro�da. Na lateral direita, o beiral do telhado inclinou e h� risco de desabamento (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)

“Quando chove, a enxurrada desce da rua, para na parede da lateral direita e se infiltra. A �gua vai entrando por baixo. Por isso, o lado direito apodreceu todo”, relata um dos integrantes do Conselho Pastoral Paroquial, Francisco Teixeira da Fonseca, observando outra prov�vel causa do abalo. Francisco mora quase em frente � igreja e faz parte ainda do Conselho da Comunidade. “Toda a �gua da chuva entra por esses buracos tamb�m formados pelas pedras (cal�amento da rua e de todo o entorno da edifica��o). Aqui h� necessidade de uma canaleta urgente”, opina. Olhando para cima, a fei��o de Francisco revela preocupa��o, ao apontar a inclina��o do beiral e perigo de desabamento do telhado: “Se come�ar a cair, cai tudo. Isso aqui est� perigoso”.

Há quase um mês, bancos do fundo da igreja foram interditados para evitar acidentes com os fiéis
H� quase um m�s, bancos do fundo da igreja foram interditados para evitar acidentes com os fi�is (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
ESCADA Mas n�o � s� o lado direito da Igreja de Nossa Senhora do � que parece estar amea�ado. Dentro da Sacristia, que fica do lado esquerdo da edifica��o, um formigueiro j� acabou com parte do piso em um dos cantos, e outros buracos s�o vistos atrav�s do assoalho. Tamb�m a escada que d� acesso ao p�lpito sofreu um descolamento e est� afastada da parede. “O pessoal do Iphan j� fez uma avalia��o. A gente acha que aqui tamb�m est� afundando, pois n�o h� trinca nenhuma na parede”, conta Francisco.

Por dentro, as telas hist�ricas est�o escurecendo e de algumas j� faltam pequenas partes, que provavelmente se desintegraram. A ilumina��o � pouca – mesmo para um ambiente barroco do s�culo 18 – e toda a edifica��o precisa de pintura. “A ilumina��o aqui poderia ser mais atualizada. � dif�cil encontrar l�mpadas porque n�o � qualquer uma que fica bem. As eletr�nicas, por exemplo, n�o podemos colocar porque (a ilumina��o)perde a caracter�stica”, acrescenta. De acordo com o integrante do Conselho Pastoral, h� problemas de infiltra��o tamb�m no teto, chegando a haver goteiras quando chove. Uma reforma, segundo ele, foi feita h� alguns anos, em metade da igreja, da parte central at� o altar, com ajuda financeira da pr�pria par�quia e da comunidade. “A gente sonha com um projeto bacana de restaura��o. E principalmente de ilumina��o. Se fizessem isso, j� valorizaria muito, porque a ilumina��o � muito pobre”, completa Mar�lia Viana.

H� cerca de um ano e meio � frente da Par�quia de Nossa Senhora da Concei��o e consequentemente da Igreja de Nossa Senhora do �, o padre Jo�o Carlos da Silva considera que os problemas s�o decorrentes do desgaste do tempo. “N�o � displic�ncia dos �rg�os p�blicos nem dos meus antecessores”, pondera. No entanto, ele avalia que a situa��o vem piorando. “Na entrada, perto da porta, colocamos uma fita por nossa conta porque d� a sensa��o de que vai afundar”. O padre conta que, a exemplo do que j� ocorreu h� alguns anos, havia a inten��o de se fazer nova reforma com recursos da par�quia. “�amos fazer por nossa conta, porque eles (o poder p�blico) demoram muito. Mas com essa discrep�ncia do real em rela��o ao d�lar, e dependemos do d�lar, ficou invi�vel. Agora n�o damos conta mais”, afirma.

Saiba mais - Obra barroca

A Igreja Nossa Senhora do � foi constru�da entre 1717 e 1720, sofrendo, portanto, forte influ�ncia da primeira fase do Barroco, presente no in�cio do s�culo 18. Por dentro, � toda entalhada em madeira e revestida em diversos pontos com folhas de ouro. Tamb�m chamam a aten��o as denominadas chinesices, termo derivado da palavra francesa chinoiserie, que indica o conjunto de pinturas que recriaram, em igrejas e capelas de Minas, os pagodes ou pagodas (tipo de torre com fins religiosos comum na China e em outros pa�ses da �sia), animais e paisagens de origem oriental. Nos pain�is laterais, os personagens t�m olhos amendoados (ou levemente puxados) e no arco-cruzeiro, que separa o altar da nave da igreja, pagodas e paisagens chinesas est�o pintadas nas telas.

Exclus�o em duas vers�es

A Igreja Nossa Senhora do � � tombada pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) e, para ser restaurada o mais breve poss�vel, � necess�rio que esteja inclu�da na lista dos bens patrimoniais contemplados para receber recursos do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) Cidades Hist�ricas, o que normalmente � feito pelas prefeituras. Mas vers�es do Iphan-MG e Prefeitura de Sabar� s�o contradit�rias.

De acordo com a assessoria de imprensa do Iphan-MG, n�o h� previs�o de reforma, porque a edifica��o n�o consta na lista de obras enviadas pela Prefeitura de Sabar� para receber os recursos do PAC Cidades Hist�ricas. E obviamente os esfor�os se concentram em atender primeiro �s demandas dessa lista. Ainda segundo o Iphan-MG, as informa��es passadas pela reportagem sobre o estado da igreja ser�o enviadas ao setor t�cnico respons�vel “para que seja feita uma vistoria, t�o logo seja poss�vel”.

A Prefeitura de Sabar� informa que, de acordo com a ger�ncia de Patrim�nio da Secretaria de Cultura de Sabar�, a Igreja Nossa Senhora do � estava, sim, inserida na lista de prioridades para as reformas do PAC, desde os primeiros contatos entre a prefeitura e o Iphan. Segundo a administra��o mucipal, foi encaminhado tamb�m um laudo t�cnico feito pela Defesa Civil da cidade informando da necessidade da reforma. Mas a sele��o das obras contempladas foi feita diretamente pelo Iphan e a igreja n�o foi contemplada. Em 2014, a prefeitura enviou novo of�cio ao Iphan solicitando solu��es para a situa��o, mas n�o obteve resposta.

Enquanto prefeitura e Iphan n�o se entendem, a Defesa Civil de Sabar� afirma que foi contatada por respons�veis pela igreja e est� com vistoria agendada no local para sexta-feira. No fim do ano passado, a corpora��o j� havia enviado um relat�rio ao Minist�rio P�blico sobre a situa��o n�o s� da Igreja Nossa Senhora do �, mas de outros templos de Sabar� tombados pelo patrim�nio hist�rico. “Tenho quase certeza de que de l� para c� nenhuma obra foi feita nessa igreja. E se demorar muito, vamos perder o patrim�nio”, observa o tenente Marcelo Oscar de Queiroz, coordenador da Defesa Civil de Sabar�. Na mesma �poca, uma per�cia foi pedida pela Promotoria de Defesa do Patrim�nio Hist�rico de Sabar�. E em 13 de junho deste ano, a promotoria instaurou um inqu�rito, com o objetivo de apurar o estado de conserva��o da igreja. Mas at� o momento n�o consta no sistema do MP nenhum andamento para o inqu�rito. A promotora respons�vel pelo caso, Marise Alves da Silva, n�o p�de falar com a reportagem ontem.


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