O surgimento de estruturas de concreto submersas desde a d�cada de 1970 deu novo tom de alarme � seca que assola a Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Pela primeira vez desde a constru��o da represa Vargem das Flores, em 1972, alicerces de moradias inundadas � �poca podem ser vistos na barragem entre as cidades de Contagem e Betim. O retrato do passado traz � tona hist�rias de quem viveu nas fazendas desapropriadas para dar lugar � �gua, mas soa tamb�m como alerta para um futuro cr�tico. Por tr�s do quadro sombrio, al�m de uma estiagem hist�rica, est�o o volume perto de zero da chuva neste m�s e perspectivas ruins para a pr�xima esta��o chuvosa. A combina��o aumenta a
preocupa��o com os n�veis das represas do Sistema Paraopeba – que ontem voltaram a bater a marca mais baixa da hist�ria, em seu conjunto (24,2%) e em Vargem das Flores (22,3%) e no Rio Manso (34%). Em Serra Azul, o volume chegou a 8,4% da capacidade. Al�m de chamar a aten��o sobre a necessidade de investimentos na capta��o e no controle de perdas de �gua, especialista ouvido pelo Estado de Minas alerta: os reservat�rios devem levar pelo menos dois anos para se recuperar e a popula��o precisa racionalizar o consumo.Em Vargem das Flores – sistema respons�vel por 15% do abastecimento da Grande BH –, o cen�rio in�dito assusta moradores e comerciantes. Mesmo alheia aos n�meros que d�o a dimens�o da crise h�drica na Grande BH, a pensionista Vilma Diniz, de 64 anos, entende que a situa��o � preocupante. H� 43 anos ela e a fam�lia deixaram a casa grande onde moravam, em uma fazenda, para ceder espa�o � barragem. Hoje, Vilma vive com os dois filhos em novo endere�o, em frente ao reservat�rio, mas os poucos metros que separavam o port�o de casa da �gua aumentaram e mudaram bruscamente a paisagem. “J� vi essa represa seca, mas nunca tanto assim. Tenho medo do que possa acontecer, medo de vir a faltar �gua. Fico triste. N�o queria ver uma coisa dessas, a �gua acabando assim”, diz, desolada.

Ao analisar os n�veis das barragens do Sistema Paraopeba, o professor Carlos Barreira Martinez, do Departamento de Engenharia Hidr�ulica e Recursos H�dricos da UFMG, chama a aten��o para a gravidade do problema. “Apesar de os reservat�rios estarem cumprindo a fun��o, que � a de operar em �pocas de baixa aflu�ncia, a situa��o � preocupante, porque eles est�o, ano a ano, cada vez mais secos”, afirma, destacando outro complicador: a previs�o de pouca chuva. “H� um temor de que em 2016 e 2017 a situa��o se agrave. Os reservat�rios com certeza v�o voltar a se encher, mas, com os baixos �ndices pluviom�tricos, h� possibilidade de que n�o se recuperem nos pr�ximos anos.”
Diante desse panorama, o especialista faz duas ressalvas. Ele garante que, por um lado, a Copasa vai ter que melhorar o gerenciamento dos recursos h�dricos, com obras de capta��o e redu��o das perdas de �gua pot�vel, que ainda ultrapassam 30% do produzido. Em contrapartida, a popula��o precisa economizar. “Ningu�m precisa passar necessidade, mas as pessoas devem usar o necess�rio, al�m de evitar gastos para lavar o carro ou o passeio. N�o � hora disso”, aconselha. Ele lembra ainda que parte do problema em Vargem das Flores tem rela��o direta com a a��o do homem. Por n�o ser uma �rea cercada, o manancial � usado para pesca, piqueniques e navega��o.
Chuva zero
Segundo o meteorologista Cl�ber Souza, do Instituto Nacional de Meteorologia, ainda n�o houve chuvas significativas para contar no registro de outubro, que deve ficar bem abaixo da m�dia hist�rica (123 mil�metros). Em mais um dia de recorde, BH teve ontem a temperatura mais alta do m�s (m�xima de 36°C, com 29°C � noite). A umidade relativa do ar chegou a 14%. O clima considerado “de deserto” dever� continuar na pr�xima semana. Com predom�nio de massa de ar quente sobre o Sudeste do pa�s, chuvas significativas devem ocorrer no estado s� na �ltima semana do m�s.
A Copasa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o risco de desabastecimento na Grande Belo Horizonte est� afastado, com as obras para nova capta��o no Rio Paraopeba. A companhia esclarece que a �gua armazenada nos reservat�rios do Sistema Paraopeba � suficiente para garantir o abastecimento de toda a popula��o atendida por ele na Grande BH, considerando-se o pior cen�rio, que seria o de n�o chover a partir do fim do per�odo de estiagem.