
Como feridas abertas no mapa de Minas, a seca avan�a por importantes bacias hidrogr�ficas do estado. Assolados pela estiagem, afluentes da Bacia do S�o Francisco, no Norte do estado, est�o vendo suas �guas sumirem devido a longos per�odos sem chuva, mas tamb�m por intensa explora��o humana, representada por capta��es irregulares para irriga��o, perfura��o descontrolada de po�os artesianos, que sugam o len�ol fre�tico, e avan�o do desmatamento. Em um dos mais preocupantes epis�dios desse quadro desolador, foi o Rio Jequita� que se rendeu. O manancial teve o curso interrompido pela primeira vez na hist�ria, no trecho pr�ximo ao povoado de Buriti Grande, munic�pio de Francisco Dumont. Assim como ele, muitos rios j� n�o conseguem correr pelas terras �ridas do Norte de Minas. � o caso do Pacu�, que faz parte da mesma bacia do Jequita� e est� interrompido desde a nascente at� o munic�pio de Pent�urea.

O problema hist�rico da falta d’�gua na regi�o est� ainda pior nesta temporada de estiagem, segundo Ponciano. “Apesar de ser reflexo de per�odos de seca prolongada, a a��o cada vez mais predat�ria de fazendeiros e da popula��o em geral alterou muito a quantidade de �gua dos rios”, afirma, referindo-se � explora��o irregular com bombas de capta��o direta e a perfura��es sem crit�rios t�cnicos e sem licen�a.
A expans�o do desmatamento para abertura de �reas de plantio de eucalipto, geralmente irrigadas com �gua retirada desses cursos d’�gua, tamb�m � apontada pelo t�cnico como fator contribuinte para o sumi�o dos rios. Ele lembra ainda que o problema j� chegou a veredas, consideradas intoc�veis at� ent�o. As forma��es que funcionam como �reas de drenagem, sustentando o len�ol fre�tico que “brota” do ch�o, tamb�m est�o secando.
Presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica dos Rios Jequita� e Pacu�, Robson Rafael Andrade afirma que v�rios �rg�os ambientais j� foram acionados para tomada de provid�ncias sobre a situa��o de explora��o da vegeta��o e de rios, mas nenhuma medida efetiva foi adotada. Ele alerta que os impactos desse conduta predat�ria podem ser devastadores e que, a curto prazo, a popula��o e a fauna j� v�m sendo fortemente afetados. A Barragem do C�rrego do On�a, por exemplo, est� com o menor n�vel da hist�ria (20%).

“Se n�o chover uma quantidade razo�vel em tr�s semanas, para chegar a pelo menos a 30%, o abastecimento ser� cortado em Bocaiuva e Guaraciama”, alerta Robson Andrade. Mas, segundo ele, a previs�o � que comece a chover na regi�o apenas a partir de janeiro. Tanto ele quanto t�cnicos da Copasa garantem que aves t�picas de �reas de veredas, como periquitos, tucanos e araras, est�o migrando para outros locais no Norte de Minas � procura de alimento. Robson destacou ainda os baixos n�veis que v�m sendo registrados no pr�prio Rio S�o Francisco, onde bancos de areia est�o expostos e a �gua est� cada vez mais escassa, como ocorre em Pirapora.
Desastre
Integrante do movimento rec�m-criado SOS Serra do Cabral, no Norte de Minas, o advogado Adriano Borem alerta que o quadro de explora��o pode resultar em um desastre ecol�gico irrepar�vel. “H� povoados que est�o sem �gua para consumo humano devido a esses crimes ambientais”, diz. Segundo ele, den�ncia de explora��o irregular da �gua e desmatamento j� foi protocolada no Minist�rio P�blico do Estado de Minas Gerais em 2012. “Ainda assim, os crimes s�o permanentes”, afirma. A Coordenadoria Regional das Promotorias de Justi�a do Meio Ambiente da Bacia do S�o Francisco foi procurada para se posicionar sobre o assunto, mas nenhum representante foi localizado.
O governo do estado confirma que o per�odo de estiagem tem se agravado no Norte de Minas, e que medidas v�m sendo adotadas para lidar com o problema. Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Integra��o do Norte e Nordeste (Sedinor), nova etapa do programa �gua para Todos teve in�cio em setembro, em parceria com o governo federal. A a��o conjunta visa a constru��o de 962 pequenas barragens, que v�o beneficiar fam�lias de 151 munic�pios. O principal objetivo � a irriga��o de pequenos cultivos e a dessedenta��o de animais, amenizando os efeitos da falta d’�gua que podem resultar na morte de rebanhos inteiros.

Outra iniciativa dentro do programa � a instala��o de cisternas de placa e de polietileno, barraginhas, barreiros e sistemas coletivos de abastecimento de �gua, com meta de dar acesso � �gua para consumo humano e para a produ��o agr�cola em �reas rurais. �gua pot�vel tamb�m est� sendo distribu�da em caminh�es-pipa no Vale do Jequitinhonha e Norte mineiro. A expectativa � de que a opera��o emergencial da Defesa Civil abaste�a mais de 900 localidades atingidas pela estiagem.