
Ipanema – Quatro irm�os e uma d�vida, diretamente ligada � hist�ria do Brasil, que acompanha a fam�lia h� gera��es. Francisco, Mauro, Maria Helena e Maria L�cia querem resposta para a pergunta que h� quase dois s�culos paira sobre os Corr�a de Faria. Eles acreditam ser descendentes de dom Pedro I (1798-1834) e pretendem ajuizar a��o na Justi�a para reconhecer definitivamente o parentesco ou enterrar de vez a tese de alguns historiadores, de que o imperador seria pai de Anacleto Corr�a de Faria, o Bar�o de Itaperuna (1819-1903), bisav� dos poss�veis descendentes da linhagem imperial.
Historiadores defendem a tese de que dom Pedro I, conhecido pelas aventuras extraconjugais, teve um caso com a escrava Faustina Jovita, m�e de Anacleto Corr�a de Faria, que se tornaria Bar�o de Itaperuna. Gr�vida, ela teria sido levada do Rio de Janeiro para a Zona da Mata mineira por amigos do imperador. Queriam evitar um esc�ndalo na corte. A t�tulo de curiosidade, o monarca teve sete filhos com sua primeira esposa, Leopoldina, e outro com a segunda mulher, Am�lia de Leuchtenber.
Mas especialistas em temas ligados � monarquia acreditam que Pedro I deixou mais de 20 descendentes fora dos dois casamentos. Um deles teria sido gerado pela escrava Faustina. Na Zona da Mata mineira, ela foi amparada e se tornou companheira do comerciante Luciano Corr�a de Faria, que assumiu a paternidade da crian�a e a registrou como filho.
Anacleto n�o teve uma inf�ncia rica. Mas, j� adulto, tomou conhecimento de que seria filho bastardo do imperador. �quela altura, Pedro I havia falecido. Anacleto, ent�o, montou no lombo de uma mula e viajou a Petr�polis, cidade fundada por dom Pedro II (1825-1891). Conseguiu uma audi�ncia com o suposto irm�o no Pal�cio Imperial, onde hoje funciona um museu.

O suposto herdeiro da monarquia retornou � Zona da Mata mineira rico e agraciado com o t�tulo de Bar�o de Itaperuna, o que lhe garantia regalias como a isen��o de impostos. O documento original, datado de 1889, est� em poder da fam�lia de Ipanema. Tem como curiosidade a t�cnica espelhada – as frases s� t�m sentido se lidas diante de um espelho.
“Documentos antigos dessa import�ncia usavam esse m�todo, que veio dos Estados Unidos”, explicou o historiador Fl�vio Mateus dos Santos, autor do livro A rep�blica do sil�ncio. Ele avalia que o t�tulo de bar�o foi concedido por dom Pedro II como uma compensa��o e, informalmente, um reconhecimento de que ambos seriam irm�os por parte de pai.
Fl�vio pesquisa a vida de Anacleto h� mais de uma d�cada: “Imagine um homem que sai de Minas Gerais pobre, � recebido pelo imperador dom Pedro II e volta de Petr�polis rico e com o t�tulo de bar�o. Depois, vende o que tem (na Zona da Mata) e compra boa parte do que agora � o Leste de Minas (�rea que inclui o Vale do Rio Doce). Como pode uma coisa dessas? � um poder aquisitivo muito alto em um tempo muito curto”.
No Leste de Minas, o bar�o se casou com dona Maria Francisca de Jesus, com quem teve sete filhos. Vi�vo, levou outra mulher ao altar, mas n�o houve fruto da nova uni�o. Um dos filhos do primeiro casamento foi Manuel C�rrea de Faria, que viveu ao lado de dona Maria C�ndido. Os dois tiveram nove descendentes. Um deles foi Francisco, que se casou com dona Helena. Da uni�o, nasceram cinco filhos: Manuel, j� falecido, e os quatro irm�os de Ipanema – que agora reivindicam reconhecimento da linhagem nobre, para fundamentar as hist�rias que escutam desde crian�as, de que s�o descendentes do primeiro imperador do Brasil.
N�o ser� uma a��o f�cil de ser julgada, pois a Justi�a deve analisar pedido de exuma��o do corpo do bar�o e, talvez, de dom Pedro. O advogado Ant�nio Marcos Nohmi, conselheiro da se��o mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) e especialista em direito de fam�lia, destaca que os descendentes do bar�o devem ajuizar uma a��o anulat�ria e outra investigat�ria. “S�o duas no mesmo corpo. � bom lembrar que n�o h� que se falar em heran�a, porque j� houve a prescri��o.”
A fam�lia garante que n�o pensa em receber parte da fortuna que um dia foi do imperador. “Queremos colocar a hist�ria no lugar certo, se realmente for assim. O que nos importa � esclarecer a quest�o. Apenas isso. Vamos contratar um advogado que tomar� as provid�ncias necess�rias”, disse a funcion�ria p�blica de Ipanema Elaine, trineta do bar�o.

SAIBA MAIS
A EXUMA��O DE DOM PEDRO I
O corpo do primeiro imperador do Brasil foi exumado em 2012, para exames feitos sob sigilo e posteriormente divulgados. Nos estudos, algumas informa��es sobre a vida dele e de suas duas mulheres – cujos restos mortais tamb�m foram exumados – mudaram os livros de hist�ria. Descobriu-se que dom Pedro foi enterrado com roupas de general do Ex�rcito lusitano, como confirmam medalhas e gal�es de reconhecimento de Portugal encontrados no caix�o. Os estudos mostram que Leopoldina jamais fraturou o f�mur, como era informado em livros de hist�ria.
Enquanto isso...
...O T�MULO DO BAR�O
O corpo do bar�o de Itaperuna descansa em um cemit�rio em Santo Ant�nio do Manhua�u, distrito de Caratinga, no Vale do Rio Doce. Malcuidado, o t�mulo em nada lembra a import�ncia do homem que pode ser filho de dom Pedro I. H� alguns anos, segundo familiares, o jazigo foi arrombado por v�ndalos e parte dos restos mortais foi exposta ao tempo. Restaurado, o t�mulo fica pr�ximo ao cruzeiro.