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Estado de Minas

Imagens de sat�lite mostram que Sudeste do Brasil tem pior estiagem em 35 anos

Regi�o chega a perder 56 trilh�es de litros de �gua/ano


postado em 30/10/2015 06:00 / atualizado em 30/10/2015 09:12

Represa de Três Marias foi uma das observadas na pesquisa. Dados mostram que lago chegou a perder 14,8 quilômetros cúbicos de água, do total de 19,5km3(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Represa de Tr�s Marias foi uma das observadas na pesquisa. Dados mostram que lago chegou a perder 14,8 quil�metros c�bicos de �gua, do total de 19,5km3 (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

A seca que faz evaporar rios e lagos de Minas Gerais e de outros estados no Sudeste e Nordeste do Brasil n�o � observada apenas pela popula��o dos lugares onde a �gua est� sumindo. Ela tamb�m pode ser vista do espa�o, por meio de imagens de sat�lites da Nasa, a ag�ncia espacial dos Estados Unidos. Um estudo do cientista Augusto Getirana, que � brasileiro, com base em dados de 2002 a 2015, mostra que as duas regi�es do pa�s vivem um per�odo cr�tico de estiagem que vem desde 2012, a pior dos �ltimos 35 anos, com perdas que chegam a 56 trilh�es de litros de �gua por ano nos �ltimos tr�s anos no Sudeste e a 49 trilh�es de litros anualmente no Nordeste. A pesquisa foi publicada na edi��o de outubro do Jornal de Hidrometeorologia, vinculado � Sociedade Americana de Meteorologia.

O estudo leva em considera��o dados de dois sat�lites usados para analisar mudan�as no campo de gravidade da Terra, que pode ser influenciado por movimentos massivos de gelo e �gua. Os equipamentos fazem leitura dos recursos h�dricos de superf�cie, mas tamb�m dos aqu�feros, contabilizando a armazenagem no subsolo. Al�m de observar o comportamento da �gua em todo o pa�s nos �ltimos 13 anos, a pesquisa feita pelo cientista brasileiro leva em considera��o os 16 maiores reservat�rios da Regi�o Sudeste, dos quais oito em Minas Gerais. Eles correspondem a 37% da �gua armazenada em todo o pa�s em represas artificiais.

“A por��o Leste do Brasil (Sudeste e Nordeste), com �rea de 2,5 milh�es de quil�metros quadrados, tem sido severamente afetada por secas desde 2012. Junto veio um per�odo com temperaturas acima da m�dia e baixas taxas de chuva. O impacto ocorreu nas �guas de superf�cie e de subsolo, o que, consequentemente, trouxe impactos para agricultura, produ��o el�trica, abastecimento humano e irriga��o”, diz o estudo do cientista, que trabalha no Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa, e tamb�m � pesquisador da Universidade de Maryland. Pegando como exemplo o reservat�rio de Tr�s Marias, o terceiro maior do Sudeste, Augusto Getirana observou que a diferen�a entre o volume m�ximo e o m�nimo da represa da Regi�o Central de Minas, no Rio S�o Francisco, foi medida em 14,8 quil�metros c�bicos de �gua, enquanto a capacidade m�xima do lago � de 19,5 quil�metros c�bicos. “Isso significa que a represa quase esvaziou”, constata o pesquisador.

Veja as imagens produzidas pela Nasa sobre a seca no Brasil



No ano passado, a Cemig, operadora da Usina Hidrel�trica de Tr�s Marias, chegou a registrar apenas 2,57% do volume do reservat�rio em novembro. A �ltima informa��o disponibilizada pela concession�ria � de quarta-feira, e mostra que o lago estava com 14,8% da sua capacidade. A situa��o j� � considerada cr�tica, como mostrou o Estado de Minas em sua edi��o de anteontem. A �gua sumiu de um dos bra�os da lagoa em Morada Nova de Minas, criando uma paisagem des�rtica, semelhante � de um c�nion. Os dados espec�ficos de todas as 16 represas no estudo feito pelo cientista brasileiro se referem ao per�odo de 2005 e 2015, intervalo um pouco menor do que o usado para a an�lise de todo o territ�rio nacional.

SEM PLANEJAMENTO Getirana conta que iniciou as observa��es dos sat�lites h� cerca de um ano, quando come�ou a receber de amigos do Rio de Janeiro not�cias sobre a seca no Sudeste brasileiro. Depois de contabilizar dados dos �ltimos 13 anos para todo o territ�rio nacional, ele diz que chegou � conclus�o de que falta no pa�s planejamento para lidar com os recursos h�dricos, pois h� �gua dispon�vel para atender � popula��o do mundo inteiro em solo nacional. “Com tr�s quartos da �gua que temos na Amaz�nia, seria poss�vel abastecer toda a popula��o mundial, levando em considera��o dados de consumo divulgados pela Unesco. � inadmiss�vel conviver com seca em um pa�s com condi��es de abastecer o mundo”, afirmou o cientista, que � engenheiro civil e hidr�logo.

Nesse caso, o pesquisador ressalta a necessidade de investimentos em gest�o. “Se temos linhas de transmiss�o de eletricidade, quem sabe n�o podemos ter linhas de transmiss�o de �gua? Se o abastecimento da popula��o � prioridade, deveria se pensar em uma solu��o”, sugere. O retrato de todo o pa�s feito pelo pesquisador mostra que, entre 2002 e 2015, foram registradas tr�s situa��es distintas no Sudeste e no Nordeste. Enquanto no in�cio do intervalo avaliado as duas regi�es passaram por um per�odo seco que veio desde o ano 2000, entre 2003 e 2012 o que predominou foi um per�odo �mido. Ele antecedeu a nova seca, que j� persiste h� tr�s anos.

Tr�s perguntas para...

Augusto Getirana,
Engenheiro civil, hidr�logo e cientista do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa e da Universidade de Maryland

1 - O que os dados dos sat�lites revelam sobre a falta de �gua no Brasil?

� poss�vel perceber uma seca muito forte na por��o Leste, que inclui as regi�es Sudeste e Nordeste. O primeiro perde 56 trilh�es de litros de �gua por ano e o segundo fica sem 49 trilh�es de litros anualmente, levando em considera��o o per�odo entre 2012 e 2015.

2 - � poss�vel desenvolver alguma a��o para o futuro com base nos dados dos sat�lites?

Existem v�rios laborat�rios de pesquisa que usam modelos computacionais para fazer simula��es do ciclo da �gua, e a partir da� tamb�m fazer previs�es do tempo. Podemos usar os dados do sat�lite para fazer previs�es de curto prazo mais precisas, mas o ideal � termos informa��es de muitos anos, o que ainda n�o � o caso desses sat�lites.

3 - Esse estudo permite algum tipo de conclus�o sobre o planejamento h�drico do pa�s?

Sim: falta planejamento no Brasil. Com tr�s quartos da �gua que temos na Amaz�nia, seria poss�vel abastecer toda a popula��o mundial, levando em considera��o dados de consumo divulgados pela Unesco. Se temos linhas de transmiss�o de eletricidade, quem sabe n�o podemos ter linhas de transmiss�o de �gua? Se o abastecimento da popula��o � prioridade, deveria se pensar em uma solu��o.

AN�LISE DA NOT�CIA

Sugar sem recuperar

Roney Garcia

A tecnologia de ponta descortina o que a popula��o de duas das maiores regi�es brasileiras vem sentindo na pele nos �ltimos anos. O pesquisador Augusto Getirana p�e o dedo na ferida, ao avaliar que falta planejamento para lidar com a quest�o, j� que h� recursos dispon�veis para que a popula��o n�o sofra com falta de �gua. Mas o problema se mostra ainda mais abrangente e preocupante, e um de seus aspectos mais delicados parece escapar at� dos olhos dos sat�lites da Nasa: a falta de gest�o ambiental. Desde que autoridades brasileiras admitiram uma crise que j� n�o se podia ocultar, pouco ou nenhum esfor�o foi direcionado oficialmente a aspectos como preserva��o e recupera��o de nascentes e matas ciliares, recomposi��o de cobertura vegetal, controle de polui��o e desmatamento – enfim, investimento no que realmente faz brotar �gua do solo. Para lidar com a crise, a resposta tem sido quase exclusivamente sugar mais – e cada vez mais longe – um recurso a cada dia mais escasso.

Desde 2012

o Sudeste est� perdendo 56 trilh�es de litros de �gua por ano

Desde 2012

o Nordeste est� perdendo 49 trilh�es de litros de �gua por ano


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