
O sofrimento vivido no momento da passagem da lama de rejeitos das barragens que se romperam em Mariana, na Regi�o Central de Minas Gerais, ainda est� no olhar de Priscila Monteiro Isabel, de 28 anos. Ainda com ferimentos no rosto por causa da trag�dia, a dona de casa, que � tia da garota Emanuelle Vit�ria Fernandes, de 5 anos, que morreu na avalanche, deixou o hospital nesta sexta-feira. Para ela, que perdeu um filho de tr�s meses na tentativa de fuga, a ferida vai demorar a cicatrizar. "Ano que vem vou fazer 29 anos e vou lembrar que perdi a minha sobrinha. � muito triste. Vai ser dif�cil para mim. Vou lembrar que no meu aniversario n�o vou poder nem comemorar. Bens materiais tudo bem, porque a gente conquista, a gente consegue, mas a vida dela quem vai devolver para gente? Ningu�m", desabafou.
Como muitos moradores de Bento Rodrigues, o mais atingido pela trag�dia, Priscila foi surpreendida com a passagem da lama. "Meu irm�o foi me auxiliando. Ele disse: Voc� vai descer. Toma cuidado que l� embaixo est� mais forte. Sen�o voc� vai de uma vez. Aproveita aquela �rvore ali e segura nela. E pula desse neg�cio a� e pula na �rvore", comentou.
A dona de casa seguiu as ordens e tentou se salvar. "Quando eu pulei, a �rvore n�o suportou nem meu peso e nem do barro. A�, come�ou a tombar e segurei em outra. Neste momento o Arnaldo me jogou uma galha. Eu segurei, fui apalpando e de joelhos consegui sair dali. Quando segurei no galho j� estava perdendo as for�as, estava fraca, j� estava me sentindo estranha e ele foi e me puxou. E colocaram na caminhonete e me levaram l� para cima", afirmou. Enquanto fugia da lama, Priscila conta que estava com Emanuelly embaixo de um bra�o e o filho no outro.
Todos foram para uma casa em um ponto mais alto do distrito, mas n�o conseguiram fugir da lama. "Subimos no sof� e falei: O ti, fica em p� em cima do sof�. Depois falei para a Manu: vem c� na titia. Puxei ela, mas n�o deu para segurar. Na hora, eu perdi os dois. Para mim, eu tinha perdido meus dois filhos, minha sobrinha, meu irm�o. Achei que todo mundo tinha morrido. Na hora eu s� falava com Deus. Senhor, se eu merecer me salva, se n�o, salva pelo menos meus filhos, porque eles s�o muito novos para morrer".
Depois da trag�dia, Priscila foi levada para o hospital e recebeu alta nessa sexta-feira. A dona de casa contou que estava gr�vida de tr�s meses e sofreu um aborto ao tentar fugir da lama. Ela n�o conseguiu nem saber qual era o sexo da crian�a. "Tinha consulta para o primeiro pr�-natal no dia 6 (dia seguinte ao rompimento da barragem)", revelou.
A dona de casa est� hoje ao lado dos filhos em um hotel de Mariana.