
Mariana – Vestido de caipira, com bigode feito a l�pis e chap�u de palha, Thiaguinho posa para a fotografia com olhar repleto de ternura. Em outra foto, das v�rias no �lbum do Facebook da m�e dele, o garotinho de 7 anos caminha, orgulhoso, carregando dois embrulhos com presentes recebidos no dia da sua formatura no pr�-prim�rio na Escola Municipal Bento Rodrigues, em dezembro do ano passado. Trajando um impec�vel palet� abotoado, com direito a len�o branco no bolso, Thiaguinho � s� orgulho com o diploma, que trazia escrito: “Thiago Damasceno dos Santos provou durante todo o ano ser uma crian�a talentosa e com v�rias qualidades. Nosso reconhecimento, nossa admira��o e nossa torcida para que continue a construir sua hist�ria com dedica��o e amor”. Mas o que veio foi trag�dia. Na �ltima quarta-feira, o corpo de Thiaguinho foi enterrado no Cemit�rio de Santana, em Mariana. Um dia antes, Emanuelly Vit�ria Fernandes, a Manu, de 5 anos, que ensaiava para uma pe�a infantil, tamb�m foi sepultada no mesmo local. Os dois s�o as v�timas mais indefesas do rompimento das barragens da Samarco, mineradora controlada pelas gigantes do setor Vale e BHB Billinton, no dia 5.

O cora��o de Thiaguinho era imenso, conta a tia Alessandra Damasceno Santos, de 34 anos: “Na �poca do inverno, no ano passado, ele pediu � av� que comprasse alguns pares de t�nis para seus coleguinhas da escola que n�o tinham cal�ados e iam de chinelos para a aula”. Para a tia, Thiaguinho era um menino de luz que iluminava todos que estavam � sua volta. A brincadeira predileta dele era andar de bicicleta pelas ruas de blocos hexagonais – ou bloquetes, como s�o chamados em Bento Rodrigues. Thiaguinho ia para aula de manh� e estava encantado com a alfabetiza��o. J� escrevia v�rias frases e tamb�m evolu�a na leitura. Poucos dias antes da trag�dia, escreveu um bilhete para o av�: “Vov�, eu te amo”.
Ele morava havia tr�s anos com os av�s paternos em Bento Rodrigues. Os pais se divorciaram quando ele tinha pouco mais de um ano e o menino foi viver com os av�s. “Ele era o xod� deles. A av� levava ele no port�o da escola e buscava todos os dias. Meus pais eram agarrados demais com o Thiaguinho. Se tinham que vir para Mariana, deixavam para a parte da tarde, pois ele vinha junto ap�s as aulas”, destaca a tia. Al�m da bicicleta, outra paix�o do garoto era brincar na horta da casa dos av�s, que era ampla e espa�osa.


“Sinto muita saudade. Queria que ela estivesse aqui com a gente. Era uma menina carinhosa demais”, recorda o av� de Manu, Jos� Assis Sena, de 49 anos. A m�e da crian�a, Pamela Rayane, de 21 anos, foi desaconselhada a ir at� os locais onde est�o as doa��es para os moradores que perderam tudo. “Se ela encontrar uma roupinha bonitinha ou um brinquedo de que a Manu gostava, ela come�a a chorar”, conta Jos�. Pamela est� gr�vida de tr�s meses. Jos� torce para que seja menina e que o nascimento devolva a alegria � fam�lia, pois a tristeza que se abateu n�o tem como ser maior. A imagem da dor foi vista na express�o de Pamela durante o vel�rio da filha. Ela se se manteve abra�ada ao caix�o o tempo todo.
Ap�s o enterro da garotinha - que dias antes da trag�dia ensaiava para encenar a pe�a de teatro O casamento de dona Baratinha, na escola de Bento Rodrigues – Pamela escreveu este trecho em uma mensagem em sua p�gina no Facebook: “Se eu pudesse, voltaria atr�s e te beijaria muito mais, filha. Te daria milh�es de beijos. Sinto tanta falta do teu cheiro, de acariciar os teus cabelos, mas a prova � que Deus te colheu. Minha esperan�a � que na eternidade vou te ver. Na eternidade, sem sentir saudades, vamos adorar Deus”. E encerrou a mensagem com tr�s cora��es. Assim como Thiaginho, Manu tamb�m � descrita pelos familiares como uma menina doce e muito cuidadosa com o irm�o mais novo. No dia do enterro, a inspetora da escola, Geizibel Aparecida Moreira, de 31 anos, perguntava emocionada: “Cad� nossa Baratinha?”