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Estado de Minas

Lama atinge reserva de desova de tartarugas-gigantes

Depois de afetar pelo caminho mil hectares de �reas de preserva��o permanente, rejeitos minerais atingem outro santu�rio


postado em 26/11/2015 06:00 / atualizado em 26/11/2015 10:30

Boias não impedem que rejeitos atinjam berçários de espécies aquáticas(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Boias n�o impedem que rejeitos atinjam ber��rios de esp�cies aqu�ticas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Linhares (ES) – As tentativas de conten��o da lama e dos rejeito que vazaram da barragem da Samarco em Mariana e atingiram a foz do Rio Doce no Esp�rito Santo n�o impediram que os igarap�s – ber��rios de caranguejos e de peixes – fossem tingidos de vermelho e nem que a mar� levasse os detritos � parte norte da reserva ecol�gica de Comboios, o �nico ponto fixo de desova das tartarugas-gigantes no Brasil. � mais um santu�rio atingido pelo desastre, que j� havia afetado 1 mil hectares de �reas de preserva��o permanente por onde passou, incluindo unidades como o Parque Estadual do Rio Doce. A primeira tentativa foi de barrar os res�duos com nove quil�metros de boias. A mineradora havia afirmado que a medida reteria 80% dos res�duos, mas praticamente todo material ultrapassou o obst�culo. E h� outras dificuldades: m�quinas que tentam alargar a foz atolam na areia e trabalham em ritmo lento. Em quanto isso, pescadores, moradores e ambientalistas aguardam com ang�stia a chegada da parte mais espessa da lama de minera��o.

De acordo com Ant�nio de P�dua Almeida, chefe da Reserva de Comboios, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), os ninhos das tartarugas que estavam pr�ximos � foz do Rio Doce foram tirados previamente, para que a lama n�o os atingisse. Mas a chegada do material contaminado � parte norte do santu�rio amea�a outros ninhos. “Filhotes que nasceram conseguimos soltar no mar em outro ponto. Foi uma medida emergencial, mas n�o sabemos se vai ser suficiente para que eles n�o sejam contaminados e nem se isso vai alterar as rotas naturais de migra��o desses animais. Um desastre desse nunca aconteceu. Tudo o que fizemos � emerg�ncia para salvar o poss�vel. Mas, se o grosso dessa lama vier e ficar depositado tanto na foz quanto nas praias, n�o sabemos o impacto que vai trazer para a biodiversidade”.

A Marinha do Brasil vem monitorando o avan�o da lama, que j� penetrou 20 quil�metros pelo mar. O oceano tamb�m j� est� vermelho de min�rio oito quil�metros ao sul da foz e 35 quil�metros ao norte. O navio Vital de Oliveira vai acompanhar os trabalhos de conten��o e auxiliar nos estudos sobre os impactos do desastre na foz do Rio Doce e �reas mar�timas adjacentes. A embarca��o � equipada com tr�s laborat�rios e 30 equipamentos cient�ficos e tem capacidade de mapear dados da atmosfera, oceano, solo e subsolo marinhos.

Com a abertura da foz por m�quinas a servi�o da Samarco, o rio ganhou um pouco mais de velocidade e tem conseguido vencer as ondas, mas quando a mar� sobre, todo o material desenha nas praias marcas vermelhas, que deixam pescadores desolados por n�o poderem exercer sua profiss�o. “Desde que essa lama chegou, no s�bado, eu n�o ponho mais o p� dentro d’�gua. Isso � a morte para um pescador que desde pequeno aprendeu a armar redes no encontro do Rio Doce com o mar. N�o tenho trabalho, n�o levo mais peixes para casa. Meus filhos tamb�m n�o sabem mais o que fazer”, afirma o pescador Ademar Paulino Sampaio, de 55 anos. Como ele, moradores de Colatina (ES) est�o revoltados. Ontem, grupos foram �s ruas em protesto contra a falta de �gua na cidade. Houve enfrentamento com a pol�cia.

De acordo com o educador ambiental Carlos Sang�lia, do Projeto Tamar, de defesa das tartarugas marinhas, a popula��o est� angustiada por n�o saber a composi��o dos rejeitos, nem quando poder� voltar a usar a �gua. “O que deixa a gente mais apreensivo � justamente n�o saber se o peixe vai ficar envenenado e se �gua vai ficar impr�pria para o consumo e por quanto tempo. Esse tipo de esclarecimento � que tinha que ser dado, j� que a �gua do Rio Doce � tamb�m usada para o abastecimento humano e para a agricultura familiar. Se a lama mais grossa vier mesmo, os impactos ser�o incalcul�veis.”

Em mais um sobrevoo sobre a �rea do oceano afetada, realizado ontem, t�cnicos do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) do Esp�rito Santo identificaram que a lama progrediu 3 quil�metros no sentido da capital, Vit�ria.

'A área afetada vai se ampliar a cada movimentação das marés e do vento' - André Ruschi, diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi(foto: Arquivo Pessoal)
'A �rea afetada vai se ampliar a cada movimenta��o das mar�s e do vento' - Andr� Ruschi, diretor da Esta��o de Biologia Marinha Augusto Ruschi (foto: Arquivo Pessoal)
''A �rea afetada tende a se multiplicar''

O bi�logo e pesquisador Andr� Ruschi, diretor da Esta��o de Biologia Marinha Augusto Ruschi, de Aracruz (ES), uma das institui��es de pesquisa ambiental mais antigas do pa�s, afirma que os efeitos do desastre da Samarco sobre o ecossistema marinho s� est�o come�ando. Confirmando previs�es feitas por ele ao Estado de Minas na semana passada, a polui��o j� afeta animais na costa. “J� aparecem gaivotas e outras aves marinhas mortas, por causa da contamina��o neurol�gica”, afirmou. Segundo Ruschi, a mancha de lama provoca estragos em uma importante �rea, onde se reproduzem esp�cies como baleias, marlins, tubar�es e tartarugas.

Qual � a situa��o no litoral do Esp�rito Santo?

Percorri a regi�o e encontrei lugares onde a popula��o est� completamente desassistida e sem dire��o, pois n�o tem mais a pesca, n�o tem turistas, n�o tem nada. At� agora, foram cerca de 700 quil�metros quadrados atigindos no mar, mas essa extens�o tende a se multiplicar. A �rea afetada vai se ampliar a cada movimenta��o das mar�s e do vento. Tamb�m vai se expandindo � medida que chegam mais rejeitos pelo Rio Doce. E a quantidade de material que ainda tem para descer � muito grande. A situa��o ter� que ser monitorada por muito tempo. Nesse caso espec�fico, se n�o for feito nenhum trabalho de limpeza, os impactos v�o durar s�culos.

Como est� o trabalho de conten��o dos danos?

A contamina��o do mar por metais pesados pode gerar consequ�ncias s�rias e perigosas, n�o somente para as plantas, peixes e animais, mas tamb�m para a sa�de humana. Em decorr�ncia desse desastre, poder�o surgir muitas doen�as no futuro. Mas, infelizmente, n�o estou vendo nenhum plano de conting�ncia por parte dos �rg�os respons�veis, que n�o t�m compet�ncia t�cnica suficiente para atuar nas quest�es ambientais da forma como deveriam. Posso citar as secretarias estaduais de Meio Ambiente de Minas Gerais e do Esp�rito Santo, o DNPM (Departamento Nacional de Produ��o Mineral) e a Ag�ncia Nacional de �guas, que n�o conseguem exercer suas atribui��es por falta de pessoal t�cnico e qualificado para decidir que medidas realmente devem ser tomadas. O Minist�rio P�blico tem muitas atribui��es, mas tamb�m muitas limita��es.

Como avalia a pol�tica de licenciamentos de mineradoras?


Defendo uma revis�o geral dos licenciamentos �s mineradoras. As empresas n�o t�m planos de conting�ncia (para o caso de acidentes).

V�deo: confira imagens da lama no litoral do Esp�rito Santo


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