
Linhares (ES) – A lama de rejeitos de minera��o que inviabilizou a capta��o e uso de �gua ao longo do Rio Doce, matou pelo menos 11 toneladas de peixes e amea�a animais terrestres atingiu tamb�m p�ssaros. Pelo menos 13 exemplares de aves foram encontrados mortos no estu�rio de Reg�ncia Augusta, distrito do munic�pio de Linhares (ES), onde o Rio Doce des�gua no mar. Autoridades suspeitam de que a mortandade esteja associada � contamina��o das �guas do rio e do mar pelos detritos de minera��o que vazaram no �ltimo dia 5 da Barragem do Fund�o, da Samarco, em Mariana, na Regi�o Central de Minas. De acordo com a Reserva de Comboios, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), foram encontradas mortas aves marinhas e migrat�rias, como as andorinhas.
Os animais j� vinham sofrendo com a forma��o de uma barreira de areia na foz do Rio Doce, ocasionada pelo assoreamento que o curso d’�gua sofre, provocado por desmatamentos e queimadas, como mostrou o Estado de Minas h� cinco meses, na s�rie de reportagens “Amarga agonia”. “Se a nossa preocupa��o antes era com a possibilidade de a interrup��o da foz trazer morte de esp�cimes, redu��o da reprodu��o e aumento da concentra��o de poluentes, agora tememos por toda a vida que est� no meio da lama, pois n�o sabemos sua composi��o e o efeito que a deposi��o vai causar”, afirma o vice-presidente do Comit� de Bacia da Foz do Rio Doce, Carlos Sang�lia.

Atualmente, o Rio Doce des�gua no mar a um quil�metro do ponto original, em local que vem sendo alargado por m�quinas a servi�o da Samarco, para dar mais velocidade � lama, na expectativa de que se dilua mais r�pido no mar. Agora, a regi�o onde a foz foi interrompida est� ainda mais descaracterizada pelo derramamento de lama. O impacto sobre os animais � observado na praia. Ontem, dezenas de aves que se alimentam de invertebrados e moluscos trazidos pelas ondas vermelhas at� a costa, como a andorinha-do-mar, mergulhavam nas �guas turvas onde ca�avam seu alimento, assim como outros p�ssaros. “N�o sabemos se a lama trouxe contamina��o. Por isso, o perigo de estar misturada ao mar e se depositando no rio na parte barrada pelo assoreamento”, afirma Ant�nio de P�dua Almeida, chefe da Reserva de Comboios, do ICMBio.
De acordo com Almeida, h� duas suspeitas iniciais para a morte dos p�ssaros em Reg�ncia. “Podem ter sido intoxicados por algum componente da lama ou podem ter adoecido e enfraquecido por falta de alimento, j� que a colora��o intensa da �gua os impede de enxergar as presas de que se alimentam”, disse. Ontem, a Pol�cia Federal iniciaria exames de laborat�rio nos animais mortos para saber se foram envenenados ou morreram de fome.
Preocupados com o avan�o da mancha sobre o oceano e as praias, �ndios de tribos pr�ximas a Reg�ncia foram ontem � foz do Rio Doce com representantes da Funda��o Nacional do �ndio (Funai) para ver de perto os estragos. “Para n�s, que vivemos da terra e da pesca artesanal, essa lama � um desastre. Para o �ndio, que � amigo da natureza, perder essas atividades � como se tirassem tudo da gente. Ver o rio assim � como se nos dessem a lama para beber ou matassem um peda�o de n�s”, disse Luiz Mateus Barbosa, de 42 anos, lideran�a da aldeia de Comboios, separada por apenas 10 quil�metros de praias contaminadas.
Em sobrevoo realizado ontem, t�cnicos do Instituto Estadual do Meio Ambiente do Esp�rito Santo (Iema) identificaram que a mancha se deslocou 10 quil�metros na costa em dire��o ao sul, seis quil�metros mar adentro e 22 ao norte da foz do Rio Doce. O deslocamento recebe influ�ncia do comportamento das ondas e da dire��o do vento.
VIDA DIZIMADA
T�cnicos do Ibama estimam que o desastre tenha matado o equivalente a 11 toneladas de peixes no Rio Doce, considerados os trechos de Minas e do Esp�rito Santo. O instituto n�o detalhou o percentual por esp�cie, mas avaliou que 7% eram end�micas da Bacia do Rio Doce. O volume de peixes mortos, contudo, pode ser maior, uma vez que a proje��o n�o leva em conta impactos nos rios Gualaxo do Norte e do Carmo, ambos com todo o leito em Minas, e tamb�m invadidos pelo min�rio.