
“Por favor, n�o doem mais roupas nem �gua”, implora Jo�o Paulo Paranhos, secret�rio municipal de Desenvolvimento, A��o Social e Cidadania, que adiou ser consagrado padre para assumir o cargo na �rea de direitos humanos da prefeitura local, exatamente no per�odo da cat�strofe. Ele manifesta preocupa��o com o fato de receber toda semana pelo menos tr�s liga��es de grandes empresas no pa�s e at� no exterior, que est�o se mobilizando internamente para arrecadar donativos. “S� nesta �ltima semana recebi telefonemas de dois grupos empresariais, al�m de comunicados de col�gios e institui��es religiosas que ficaram de enviar doa��es �s popula��es atingidas pela lama”, explica.
Oficialmente, a entrega de doa��es est� suspensa desde 14 de novembro. No entanto, basta aguardar meia hora em frente a um dos galp�es de armazenamento, diante da prefeitura, para perceber o tamanho do cora��o dos brasileiros. “Ficamos sabendo que havia risco de perder a validade dos mantimentos e viemos ajudar a separar os materiais”, contam os mochileiros Jo�o, de 21 anos, e L�dia, de 19, que chegaram anteontem de Jundia� (SP). Apenas ela tinha experi�ncia anterior em trabalhos com moradores de rua em sua cidade de origem. O rapaz confessava a estreia como volunt�rio: “Ficava mais confort�vel no meu canto, mas acho que sempre existiu disposi��o para ajudar as pessoas”. Nenhum dos dois autorizou publicar nome ou foto: “Filantropia � algo que se faz sem anunciar”.
“J� estamos aceitando inscri��es de creches e outras institui��es cadastradas nos seus respectivos Cras, que queiram receber cestas b�sicas ou roupas”, afirmou Jo�o Paulo, que tamb�m firmou termo de ajustamento de conduta (TAC) com a Promotoria de Defesa de Direitos Humanos de Mariana, comprometendo-se a repassar as doa��es de maneira preliminar aos atingidos pela cat�strofe. Segundo ele, as doa��es em dinheiro que est�o sendo feitas nas contas proporcionadas pelo poder p�blico, apesar da resist�ncia da maioria das pessoas por medo de desvios, j� atingem cerca de R$ 1 milh�o. “Criamos uma comiss�o para discutir o que ser� feito com esse dinheiro. A primeira sugest�o seria depositar os recursos em uma poupan�a a ser criada em nome de cada crian�a das comunidades atingidas”, diz.
EXCESSO DE �GUA MINERAL Em um �nico galp�o de Mariana chama a aten��o uma montanha de cerca de cinco metros de altura, com rolos de papel higi�nico, esperando ser organizada. De altura semelhante, as pilhas de arroz e de feij�o se destacam em meio ao restante, sendo suficientes para montar de 1,5 mil a 2 mil cestas b�sicas, segundo c�lculos dos volunt�rios que ajudam a montar kits de doa��es, inclusive nos fins de semana. O volume de �gua mineral engarrafada em recipientes individuais ou gal�es � algo imposs�vel de se mensurar a olho nu.
“Quando chegam carretas de �gua, d� vontade de sair correndo! N�o tem mais onde colocar”, desabafa Alisson Jos� dos Santos, um dos 40 volunt�rios que chegam diariamente dos mais variados estados se oferecendo para ajudar na log�stica dos materiais, distribu�dos por meio de caminh�es ou helic�pteros para as comunidades atingidas de Paracatu de Baixo, Barra Longa e Camargos.

Segundo ele, h� tamb�m muita gente que doa seu tempo e tamb�m auxilia na busca por mais alimentos, como, por exemplo, um m�sico de S�o Paulo, que pediu para n�o ser identificado. Ele permaneceu a semana inteira passada em Mariana trabalhando nos galp�es. Ao notar a necessidade de alguns dos itens, como sab�o em p�, o cantor acionava a rede de amigos, que enviava a quantidade necess�ria para completar a cesta. Assim foi feito tamb�m com biscoitos.
“Estou aqui desde o dia seguinte ao rompimento da barragem. � a s�tima trag�dia em que largo tudo o que fa�o e vou at� o local para ajudar”, afirma o volunt�rio carioca Douglas Sant’Anna, de 31, que da �ltima vez ajudou os desabrigados em Teres�polis, no Rio de Janeiro. Ele n�o p�de se deter por muito tempo na entrevista, pois precisava ajudar a descarregar mais um caminh�o de �gua mineral que acabava de chegar. Na verdade, algu�m tem de fazer o servi�o pesado, al�m de responder pela log�stica dos seis galp�es, com a separa��o e etiquetagem das roupas por tamanhos e tipo, tais como pijamas masculinos e blusas de frio femininas. “As pessoas sentem uma necessidade muito grande de doar itens materiais nas maiores trag�dias, mas o gesto mais bonito que presenciei foi no tsunami do Jap�o, em 2011, quando o imperador japon�s curvou-se diante das v�timas, conferindo a elas dignidade.”