
Aparentemente, quem v� o leito do S�o Francisco em Pirapora imagina que a situa��o melhorou, pois as corredeiras, as conhecidas “duchas” que atraem turistas para a regi�o, est�o cobertas pelas �guas, mas, na compara��o com dados de 2014 e 2015, a situa��o � preocupante. Em janeiro de 2014, Tr�s Marias estava com 28,41% do seu volume �til. Em 19 de janeiro do ano passado, o n�vel da represa estava em 10,47%, ainda acima dos 6,7% registrados anteontem, �ltimo dado dispon�vel no site da Cemig. “Na verdade, a situa��o do rio em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado � p�ssima”, afirma S�lvia Freedman, presidente do Comit� de Bacia Hidrogr�fica do Entorno do Lago de Tr�s Marias e secret�ria do Comit� Federal da Bacia Hidrogr�fica do S�o Francisco. Ela alerta que existe o risco de o rio parar de correr, justamente pela falta de uma pol�tica para armazenar �gua para a �poca da estiagem.

A presidente do comit� recomenda que a vaz�o de Tr�s Marias seja diminu�da imediatamente como forma de evitar o pior e garantir um volume m�nimo do Velho Chico o ano inteiro. Destaca que tamb�m s�o necess�rias a��es para a revitaliza��o dos afluentes da Bacia do S�o Francisco, como o combate ao desmatamento e a recupera��o de nascentes. “N�o d� para ficar somente esperando a �gua da chuva, que – com o solo imperme�vel por conta do desmatamento – cai e n�o infiltra, n�o reabastece o len�ol fre�tico. � preciso recuperar nascentes e os afluentes para que o volume do S�o Francisco seja aumentado”, observa.
A secret�ria do Comit� Federal da Bacia do S�o Francisco chama a aten��o ainda para o combate �s capta��es clandestinas. “�rg�os ambientais, como a Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) e o Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam), devem fazer um novo levantamento sobre as outorgas para a retirada de �gua na bacia. H� muitas capta��es clandestinas nos afluentes, que reduzem a oferta de �gua que chega � calha principal do S�o Francisco“, assinala.
O ambientalista Roberto Mac Donald, presidente da Associa��o Amigos das �guas, de Pirapora, tamb�m destaca que, em fun��o do volume liberado pela Barragem de Tr�s Marias, h� uma apar�ncia de que o S�o Francisco, hoje, tem um quadro melhor que o de janeiro de 2015. Por�m, na pr�tica, n�o mudou quase nada, ressalta. Ele lembra que as chuvas registradas de novembro at� agora na regi�o n�o foram suficientes para a recupera��o da vaz�o do Velho Chico. “N�o houve chuva capaz de encher o rio”, avalia o morador de Pirapora.
O ambientalista tamb�m sugere a redu��o imediata da quantidade de �gua liberada pelo reservat�rio de Tr�s Marias como forma de garantir estoque h�drico para o per�odo da estiagem prolongada. “Do jeito que est�o liberando a �gua de Tr�s Marias, se n�o chover nos pr�ximos meses, as cidades ribeirinhas abaixo da represa v�o enfrentar uma situa��o ca�tica na �poca cr�tica da seca”, alerta.
O comerciante Andreas Hutter, tamb�m de Pirapora considera ainda que a situa��o das corredeiras do Velho Chico no munic�pio est� melhor do que a de janeiro de 2015. Mas, ele sabe que ainda pode demorar muito para que o Rio da Unidade Nacional volte ao que j� foi passado, volumoso e com muitos peixes. “Imagino que vamos precisar, de mais um ou dois anos, no m�nimo, de boas chuvas para que o rio volte ao seu normal. O comerciante e outros moradores de Pirapora, assim como visitantes, j� podem contar com passeios do Vapor Benjamin Guimar�es, que, por v�rios meses de 2015, ficou parado devido � redu��o do n�vel do rio.
Volume em queda no reservat�rio
Hoje em 6,7%, o volume do reservat�rio de Tr�s Marias estava em 8,9% em 23 de novembro. A aflu�ncia (quantidade de �gua que entra no lago), segundo a Cemig, caiu de 450 para 415 metros c�bicos por segundo, sendo que o normal seria subir no atual per�odo chuvoso. No mesmo intervalo, a deflu�ncia (quantidade de �gua liberada) foi reduzida de 514 para 283 metros c�bicos por segundo. Mesmo assim, o volume de �gua armazenada diminuiu. O atual volume do reservat�rio da usina hidrel�trica � o menor dos �ltimos tr�s anos para o mesmo per�odo.
A Cemig informou ontem que “toda a gest�o do reservat�rio de Tr�s Marias est� sendo feita tal como nos dois �ltimos anos. Isto �, com uma premissa forte de terminar o ano com, no m�nimo, 3% de volume �til. Se tudo correr bem e chover bastante, o n�vel vai ser maior”. Informou ainda que “h� uma concord�ncia de todas as institui��es envolvidas”– tais como o Operador Nacional do Sistema (ONS), Ag�ncia Nacional de �guas (ANA), comit�s da bacia e secretarias estaduais – “quanto a essa premissa e as an�lises de defini��o da deflu�ncia de Tr�s Marias a consideram sempre”.
Procurado, o ONS, por meio de sua assessoria de imprensa, informou ontem � tarde que a quest�o da libera��o de �gua de Tr�s Marias para a manuten��o do reservat�rio da Usina de Sobradinho (muito reduzido por causa da seca) ser� revista nesta semana, em Bras�lia, durante reuni�o do Comit� de Monitoramento do Setor El�trico, �rg�o do Minist�rio das Minas e Energia que conta com representantes da Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel), Ag�ncia Nacional de �gua (ANA), Empresa de Planejamento El�trico (EPE) e outras entidades.
Enquanto isso...n�vel de barragem
Baiana despenca
O n�vel �til da barragem de Sobradinho, na Bahia, � de 2,06% de sua capacidade, de acordo com �ltimo boletim do Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS). O �rg�o admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de utilizar a �gua alocada no volume morto do reservat�rio, caso sua capacidade h�drica chegue a zero. Para evitar o esvaziamento total do lago, a Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) autorizou, na semana passada, testes de redu��o gradual de 900m³/s para 800 m³/s das vaz�es defluentes, com previs�o para atingir o menor �ndice amanh�. O objetivo � manter armazenamento no lago para os usos m�ltiplos da �gua, principalmente abastecimento humano e irriga��o. Desde 2013, a Bacia do rio S�o Francisco vem enfrentando condi��es hidrol�gicas adversas, com vaz�es e precipita��es abaixo da m�dia, com consequ�ncias nos n�veis de armazenamento dos reservat�rios, entre os quais Sobradinho, que se destaca como o mais atingido pela crise h�drica.