
"A �gua veio de uma vez, foi uma coisa meio assustadora. O que mais chama a aten��o � que eu n�o tinha percebido que estava chovendo tanto. Por volta das 4h, de repente, ela come�ou a entrar e tivemos que deixar a casa com �gua j� no joelho. Somos sete pessoas e tivemos que sair �s pressas para n�o ficarmos presos”, afirma a empregada dom�stica On�lia Etelvina dos Santos, de 43 anos. A casa dela foi uma das mais atingidas pelo transbordamento do Ribeir�o Mateus Leme, que inundou parte do Bairro Cidade Nova de Mateus Leme, em Juatuba, na Grande BH, tirando cerca de 70 pessoas de suas casas e atingindo 41 resid�ncias em maior ou menor escala. Bombeiros tiveram que salvar v�rios moradores que ficaram ilhados. Equipes por terra usaram cordas e boias para tirar cerca de 25 pessoas, enquanto o helic�ptero Arcanjo tamb�m ajudou e resgatou uma fam�lia com quatro pessoas. A prefeitura decretou estado de emerg�ncia.
Segundo o coordenador da Defesa Civil de Juatuba, Jos� Iraldo Androciolli, come�ou a chover forte na noite de ter�a-feira, por volta das 21h. “Choveu muito mesmo. Nem parecia que eram gotas de chuva, de tanta �gua que desceu. Por volta das 3h, fomos acionados por alguns moradores por conta do in�cio de um alagamento. N�o � a primeira vez que o Ribeir�o Mateus Leme enche”, afirma o chefe da Defesa Civil. O manancial � um afluente do Rio Paraopeba, que tamb�m registrou uma cheia consider�vel na regi�o, mas n�o passou por cima da calha. Outros pontos do Ribeir�o Mateus Leme transbordaram, mas n�o houve registros de preju�zos da mesma forma.
Na casa do pedreiro Eneias Ribeiro dos Santos, de 40, o susto foi grande porque as ruas do bairro foram transformadas em c�rregos bem na sua porta, mas ele deu sorte de n�o ter o im�vel alagado. “Chegou na beirada do alicerce. Fiquei bem assustado porque a �gua subia com for�a contra o rio. Na verdade, nem dava mais para perceber onde estava o rio”, diz Eneias. Al�m das pessoas que precisaram de ajuda, animais tamb�m ficaram ilhados e mobilizaram os moradores. A reportagem flagrou uma mulher entrando nas ruas alagadas para resgatar dois cachorros.
Um dos primeiros militares do Corpo de Bombeiros a chegar ao local para auxiliar no salvamento dos ilhados foi o sargento S�rgio Aquino, do Pelot�o de Juatuba. “N�s entramos a p�, com coletes e boias. Fomos pegando todos que estavam nas casas atingidas, at� porque n�o t�nhamos tempo para esperar, gra�as ao risco de a �gua causar algum dano maior, como desabamento”, diz o militar. A equipe do sargento S�rgio tinha tr�s bombeiros e foi auxiliada por outro grupo, com quatro militares. Mais quatro bombeiros trabalharam a bordo do helic�ptero Arcanjo, comandado pelo major Anderson Passos. “N�s sobrevoamos o local para avaliar se havia alguma necessidade de salvamento e encontramos uma fam�lia acenando para n�s do outro lado de uma rua que tinha correnteza forte. Desembarcamos um militar e um cabo de a�o e resgatamos um por um”, afirma o major.
Ainda segundo Passos, cerca de 40% das mortes decorrentes do per�odo chuvoso ocorrem pela atitude deliberada das pessoas, que tentam transpor algum curso d’�gua no momento de desespero. “Chegamos � conclus�o que se elas tentassem fazer alguma coisa poderiam at� morrer por conta da correnteza, sendo que se ficassem onde estavam o risco seria muito menor. Ent�o, achamos melhor agir. Quando a enxurrada est� na canela, n�o pise nela”, alerta o militar.
Na parte da tarde, depois que o n�vel da �gua diminuiu, algumas pessoas caminharam nas ruas alagadas para tentar chegar �s suas casas. Um dos que n�o quiseram esperar foi o pedreiro Hilton de Souza, de 35. Ele foi at� a casa cercada de �gua nas ruas, mas ficou aliviado ao perceber que seu im�vel n�o chegou a ser inundado. “Um pouco de �gua chegou � minha entrada. Se minha casa fosse mais baixa eu estava lascado. N�o pude esperar para entrar porque precisava pegar uma roupa. Agora � torcer para abaixar logo e eu voltar com minha fam�lia”, afirma. Na casa de On�lia Etelvina, a �gua ainda cercava o im�vel � tarde.
O coordenador da Defesa Civil, Jos� Iraldo, disse que quando o n�vel do ribeir�o voltar ao normal ser� feita vistoria no local. A prefeita de Juatuba, Val�ria Aparecida dos Santos (PMDB), informou que 13 fam�lias, totalizando 41 pessoas, se cadastraram para receber apoio da prefeitura. “Temos condi��es de acomodar os que se cadastraram. Os demais foram para casas de parentes ou conseguiram voltar para seus im�veis. Os animais resgatados, entre cachorros, gatos, galinhas, vacas e cavalos foram levados para o gin�sio da cidade.

"Como vou conseguir refazer tudo"
On�lia Etelvina dos Santos, 43 anos, empregada dom�stica
A �gua subiu de repente?
Sim, foi uma coisa meio assustadora. Os cachorros come�aram a latir, mostrando que tinha alguma coisa errada. Por�m, s� percebemos o problema quando a �gua come�ou a entrar. Sa�mos j� com �gua no joelho, n�o deu tempo de fazer nada, agora � contabilizar o preju�zo. Na minha casa, somos tr�s fam�lias, somando sete pessoas.
D� para ter ideia do que se perdeu?
S� sei que estou muito triste. Meu arm�rio era novinho, eu tinha duas geladeiras. Isso tudo deve ter ido embora. A gente trabalha para isso. Eu sa� do aluguel no Centro de Juatuba para morar em um lugar s� meu e acontece isso. Ainda estou pagando o financiamento. Quase todos os m�veis eram novos.
E agora, j� sabe para onde ir?
Vou para o abrigo da prefeitura. S� me resta esperar essa �gua passar para ver o que aconteceu. Como vou conseguir refazer tudo? N�o sei o que vai ser de mim e da minha fam�lia.
