
Onde nos �ltimos dois anos se via o fundo seco do leito do lago de Vargem das Flores, em Betim, em que o pasto cresceu e barcos encalharam, agora motos aqu�ticas e lanchas aceleram. Em Serra Azul, na Barragem de Juatuba ,que foi o reservat�rio da Grande BH mais castigado pela seca, as �guas j� preenchem vales que funcion�rios da Copasa achavam s� voltar a ser parte da lagoa com mais de dois anos de chuvas fortes. J� em Brumadinho, onde fica Rio Manso, o maior reservat�rio da regi�o, cinco bombas flutuantes espalhadas pela represa mostram que a companhia de abastecimento se preparava para sugar do chamado volume morto, que � quando o espelho d’�gua se retrai tanto que foge ao alcance da capta��o instalada. As chuvas de janeiro – as mais vigorosas em quatro anos – nos tr�s reservat�rios que comp�em o Sistema Paraopeba e abastecem mais de 30% da Grande BH trouxeram de novo opul�ncia aos lagos exauridos por tr�s anos de estiagem e refor�am a confian�a da Copasa em atravessar a seca sem rod�zios ou racionamentos. E a ajuda dos c�us promete ser grande, j� que h� meteorologistas confiantes no retorno das longas esta��es chuvosas.
Um incremento que especialistas consideram importante, mas que n�o permite ainda afirmar com certeza se ser� capaz de impedir grande abatimento da �gua reservada. Se a seca deste ano for como a da �ltima temporada, por exemplo, quando a redu��o experimentada foi de 17,7% no volume do Paraopeba, isso sequer ultrapassaria os ganhos de janeiro, sendo que ainda h� precipita��es consider�veis previstas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para fevereiro e mar�o. Contudo, se a estiagem for rigorosa como a de 2014, quando um percentual de 43% do volume do Paraopeba foi sugado ou evaporou entre fevereiro e dezembro, seria preciso refor�o al�m do conferido pelas chuvas deste m�s. Segundo a Copasa, os piores cen�rios s�o sempre levados em conta quando tra�ado o planejamento anual, justamente para que se possa fazer frente � demanda.
Antes mesmo de o m�s acabar, as chuvas nos sistemas produtores de �gua j� superavam a m�dia hist�rica de 31 dias de janeiro. At� a sexta-feira, por exemplo, o Rio das Velhas registrava acumulado pluviom�trico de 406,9 mil�metros, n�mero superior � m�dia hist�rica do m�s, de 302 (-34,7%), e oito vezes maior que os 50,1 mil�metros acumulados no mesmo per�odo do ano passado. Mas, para o presidente do Comit� da Sub-bacia Hidrogr�fica do Rio Paraopeba (CBH-Paraopeba), Denes Lott, as chuvas, por enquanto, serviram apenas para aliviar o papel da capta��o inaugurada pela Copasa no manancial, em 21 de dezembro, e que tem como fun��o manter o fornecimento de �gua enquanto os reservat�rios se recuperam.
LIMITES No entanto, pelo que o comit� tem avaliado com meteorologistas e especialistas, ainda n�o � poss�vel determinar se o incremento das chuvas ser� suficiente para atravessar o per�odo seco. “N�o d� ainda para dizer com seguran�a se o volume que ganharmos com as chuvas vai ser suficiente. Temos tido contato com especialistas que preveem uma seca prolongada novamente, que iria al�m do normal e, em vez de se encerrar em setembro, se prolongaria at� outubro”, disse.
N�o s�o todos os meteorologistas que compactuam com essa ideia. Segundo o professor Ruibran dos Reis, do Climatempo, um bloqueio formado pelas altas temperaturas nas �guas do Oceano Atl�ntico entre o Rio Grande do Sul e a �frica se foi, propiciando desde dezembro a chegada de massas de ar frio formadoras de chuva. “Teremos chuvas acima da m�dia em fevereiro, a partir de meados do m�s, e uma esta��o seca menor”, prev�.
A Copasa ainda trata com cautela a situa��o. “A quantidade de �gua existente nos reservat�rios do Sistema Paraopeba ainda n�o � suficiente para o pleno abastecimento das cidades atendidas por ele”, informa a empresa por meio de nota. “No entanto, o risco de desabastecimento est� afastado, pois a Copasa j� opera com o bombeamento no Rio Paraopeba”, informou.

Duas faces de um reservat�rio
O barro trincado que antes era inundado por um lago de 8,9 quil�metros quadrados – tr�s lagoas da Pampulha – chegou a estar t�o seco que em certos pontos viram-se com nitidez as margens originais do Ribeir�o Serra Azul, barrado em 1983 para formar o reservat�rio de Serra Azul, segundo maior em abastecimento na Grande BH. Por poucos metros, a �gua n�o escapou das aberturas da torre de capta��o, tornando imposs�vel sugar o l�quido sem o aux�lio de outros m�todos que precisariam beber do chamado volume morto. Por causa da pen�ria em Serra Azul mostrada pelo Estado de Minas em 21 de janeiro do ano passado, a Copasa e o governo do estado anunciaram medidas de controle de desperd�cio, uma campanha para economia de �gua e admitiram que a Grande BH passava por uma crise h�drica. Naquele momento, o reservat�rio bateu em 5,7% de seu volume. Tudo levava a crer que isso se repetiria neste ano, quando a represa voltou ao mesmo patamar, em dezembro, mas o cen�rio mudou com o grande volume de chuvas deste m�s, que chegou a 485,6 mil�metros, �ndice quatro vezes maior que os 115,3 do mesmo per�odo do ano passado e 70% superior aos 285,7 da m�dia hist�rica, e que levou o represamento a atingir ontem 23,7% da capacidade.
Em 7 de janeiro, o EM fotografou a represa, ent�o com um volume equivalente a 7,3% de sua capacidade. Depois das chuvas, j� em 27 de janeiro, quando o volume chegou a 20,6% da capacidade, as altera��es eram vis�veis. V�rias pontes rurais que tinham sido inundadas para formar o reservat�rio e ressurgiram com a seca agora voltam a ser envoltas pelo l�quido l�mpido da represa que tem a melhor qualidade do Sistema Paraopeba. Ilhas e bancos de areia que despontavam de locais de ac�mulo de �gua est�o mais uma vez no fundo. O terreno trincado do leito exposto ao sol agora � riscado por rastros largos de enxurradas que aos poucos devolvem o volume perdido ao represamento que vinha at� sendo poupado da capta��o rotineira.
O reservat�rio de Rio Manso foi o que mais se beneficiou com as chuvas, que injetaram 563,3 mil�metros num per�odo em que o normal seria uma m�dia de 288,2 mil�metros. Com isso, o maior reservat�rio do Sistema Paraopeba, em Brumadinho, e que chegou ao volume de 28,7% na seca, em dezembro, subiu para 52,6%, de acordo com o �ltimo boletim da Copasa. Para o presidente do Comit� da Sub-bacia Hidrogr�fica do Rio Paraopeba (CBH-Paraopeba), Denes Lott, os dois reservat�rios n�o se recuperaram apenas esperando as chuvas e com a capta��o que a Copasa fez no fim do ano passado no Paraopeba. Ele lembra que as outorgas no entorno dos reservat�rios chegaram a ser reduzidas depois de o Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) ter declarado estado de escassez h�drica com restri��o de uso das �guas.
No Sistema Vargem das Flores, em Betim, de 20,4% em novembro, o represamento j� apresenta mais de 48%. Uma festa para quem leva motos aqu�ticas e lanchas ou pesca e nada na lagoa. Mas esse � justamente o lado ruim desse aumento de volume da lagoa, segundo ambientalistas. “A gente achou que, com a seca, as pessoas ficariam mais conscientes, mas nem a lagoa encheu direito e j� a est�o poluindo com o combust�vel dessas embarca��es e o lixo de quem n�o a preserva”, lamenta o presidente da Associa��o dos Protetores, Usu�rios e Amigos da Represa V�rzea das Flores, Ronner Gontijo. “Agradecemos as chuvas, mas n�o melhoramos os cuidados com as nascentes, h� prefeituras que retiram �gua ilegalmente do reservat�rio, h� capta��es clandestinas e polui��o”, lamentou.