Participaram desta reportagem e projeto: Ana Laura Bernardes, Carolina Cotta, Cristiana Andrade, Fred Bottrel, Jo�o Carlos Lacerda, Paula Carolina, Quinho e Val�ria Mendes
A Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) declarou emerg�ncia p�blica internacional a epidemia causada pelo zika v�rus, que j� se alastrou por mais de 25 pa�ses. O zika, origin�rio de Uganda, na �frica, chegou ao Brasil recentemente, em 2014, ano em que o pa�s sediou a Copa do Mundo. Mas foi em 2015 que o Minist�rio da Sa�de (MS) registrou o surto de zika em Pernambuco, associado a um mal muito maior: a microcefalia, m� forma��o cong�nita no c�rebro de beb�s. O �ltimo informe do MS sobre microcefalia, de 2 de fevereiro, indica que est�o em investiga��o 3.670 casos suspeitos em todo o pa�s. Isso representa 76,7% dos casos notificados.
O balan�o apontou ainda que 404 casos j� tiveram confirma��o de microcefalia e/ou outras altera��es do sistema nervoso central, sendo 17 com rela��o ao zika v�rus. Outros 709 casos notificados j� foram descartados. Ao todo, 4.783 casos suspeitos foram registrados at� 30 de janeiro. Na sexta-feira, a Organiza��o das Na��es Unidas pediu aos pa�ses atingidos pelo zika v�rus que permitam o acesso das mulheres � contracep��o e ao aborto. O Alto Comissariado para os Direitos Humanos dirigiu seu apelo especificamente aos pa�ses sul-americanos, muitos dos quais n�o permitem nem o aborto, nem a p�lula anticoncepcional, e que aconselharam as mulheres a evitar a gravidez devido ao risco representado pelo v�rus. “O conselho dado por alguns governos �s mulheres para que evitem engravidar ignora que muitas mulheres n�o t�m qualquer controle sobre o momento ou as circunst�ncias nas quais podem ficar gr�vidas, especialmente em �mbitos onde a viol�ncia sexual � bastante habitual”, pontuou o Alto Comissariado dos Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al-Hussein.
Para alertar leitores e internautas para a gravidade da situa��o, o Estado de Minas produziu um v�deo na internet – que pode ser acessado pelo portal www.saudeplena.com.br –, com a participa��o do cartunista Quinho, que desenhou as situa��es de cont�gio, sintomas e medidas para combater o Aedes aegypti, mosquito que transmite o zika. O v�deo, postado na quinta-feira, alcan�ou cerca de 100 mil pessoas e teve 1 mil compartilhamentos na internet. Reproduzimos aqui alguns trechos do material.
» Rela��o com a microcefalia
A rela��o entre o v�rus e a microcefalia foi confirmada pelo Instituto Evandro Chagas, �rg�o do MS em Bel�m (PA), que encaminhou o resultado de exames realizados em um beb�, nascido no Cear�, com microcefalia e outras malforma��es cong�nitas. Em amostras de sangue e tecidos, foi identificada a presen�a do zika, uma situa��o in�dita na pesquisa cient�fica mundial. As investiga��es sobre o tema, entretanto, continuam em andamento para esclarecer quest�es como a transmiss�o desse agente, sua atua��o no organismo humano, a infec��o do feto e per�odo de maior vulnerabilidade para a gestante. Em an�lise inicial, o risco est� associado aos primeiros tr�s meses de gravidez. O achado refor�a o chamado para uma mobiliza��o nacional para conter o mosquito transmissor, o Aedes aegypti, respons�vel pela dissemina��o doen�a.
O ministro da Sa�de, Marcelo Castro, recomendou que as mulheres adiem a gravidez. A Fiocruz recomendou �s mulheres que tiveram a infec��o pelo v�rus que esperem pelo menos de seis a oito meses para engravidar. E o governo brasileiro alertou que as gestantes n�o venham �s Olimp�adas no Rio de Janeiro.
» A praga do Aedes aegypti
A infec��o � transmitida por um mosquito j� bem conhecido dos brasileiros: o Aedes aegypti. Ele � o mesmo que transmite a dengue, a chikungunya e a febre amarela. � a f�mea do Aedes que transmite o v�rus e ela pica preferencialmente durante o dia. H� relatos na literatura cient�fica de que o zika v�rus pode ser transmitido tamb�m pela rela��o sexual e por transfus�o de sangue. Na sexta-feira, a Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou ter detectado o zika na urina e na saliva, mas afirmou que ainda � muito cedo para dizer que se trata de um novo meio de cont�gio. Al�m do mosquito, outra forma de transmiss�o do v�rus � a perinatal. J� est� confirmado que o zika consegue atravessar a placenta e infectar o beb�. A principal consequ�ncia dessa infec��o � a microcefalia.
» Os sintomas
Estima-se que 80% dos infectados pelo zika n�o apresentem sinais da doen�a. Quando se manifesta, os sintomas s�o muitos parecidos com os da dengue: manchas vermelhas pelo corpo, febre baixa, dor de cabe�a e nas articula��es, vermelhid�o nos olhos e n�useas.
N�o existe tratamento espec�fico para a infec��o por zika.
Em caso de sintomas, � recomendado o uso do paracetamol para controle da febre e da dor.
» Beb�s com malforma��o
O MS est� investigando todos os casos de microcefalia e outras altera��es do sistema nervoso central, informados pelos estados, e a poss�vel rela��o com o zika v�rus e outras infec��es cong�nitas. A microcefalia pode ter como causa diversos agentes infecciosos al�m do zika, como s�filis, toxoplasmose, rub�ola, citomegalov�rus, herpes viral e outros agentes infectocontagiosos. A microcefalia se caracteriza pelo per�metro cef�lico igual ou menor a 32cm: a face e a cabe�a ficam desproporcionais.
As consequ�ncias de ser infectado pelo v�rus no primeiro trimestre da gesta��o s�o mais graves porque � nesse per�odo que se desenvolve o sistema nervoso central. A malforma��o pode ser vista em ultrassom entre a 24ª semana e 28ª semana de gravidez. � poss�vel confirmar se a m�e teve contato com o v�rus por meio do exame RT-PCR. O mesmo exame confirma a infec��o pelo v�rus entre o quarto e o s�timo dia depois do in�cio dos sintomas. Al�m do RT-PCR, capaz de detectar o zika apenas na fase aguda da doen�a, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria aprovou recentemente novos exames. O IgG e o IgM s�o capazes de detectar em �nico teste anticorpos do zika, da chikungunya e da dengue (subtipos 1, 2, 3 e 4). A diferen�a � que o IgG consegue indicar se houve infec��o mais antiga pelo zika v�rus. O IgM s� consegue detectar o v�rus na fase sintom�tica da doen�a, mas ele � um avan�o em rela��o ao RT-PCR porque, em um �nico exame, responde se a pessoa teve infec��o pelas doen�as transmitidas pelo Aedes aegypti. Al�m desses, foi aprovado tamb�m um teste que verifica a presen�a do v�rus em amostras biol�gicas em estudo. A metodologia utilizada � a de rea��o em cadeia da polimerase. A expectativa agora � a de que aumente a capacidade de diagn�stico de zika no pa�s.
» Repercuss�es ao longo da vida
As repercuss�es para a vida do beb� variam em gravidade. Al�m das consequ�ncias neurol�gicas, existe a chance de cegueira e surdez. Quanto mais cedo come�ar a estimula��o desses beb�s, melhor a evolu��o. A microcefalia n�o � uma doen�a, e sim um sinal de que o c�rebro foi comprometido durante a gesta��o por algum agente infeccioso ou doen�a gen�tica. Outros v�rus, doen�as gen�ticas e mesmo abuso de �lcool e drogas durante a gesta��o tamb�m podem levar � microcefalia. Por�m, os casos possivelmente relacionados ao zika est�o se mostrando mais graves. Outra malforma��o relacionada ao zika v�rus � a artrogripose, que provoca defici�ncias nas articula��es e impede os movimentos das crian�as
» Fa�a sua parte
Hoje, a �nica forma de prevenir a transmiss�o do zika v�rus � eliminando os criadouros do mosquito Aedes aegypti e se protegendo contra as picadas. Tampe caixas e ton�is de �gua, desentupa ralos que possam acumular �gua, jogue fora pneus velhos, evite deixar garrafas e recipientes que possam acumular �gua da chuva em �rea descoberta, elimine pratinhos com �gua embaixo dos vasos de planta. Todos devem fazer sua parte neste momento. No caso das gestantes, a recomenda��o � usar repelente dos tipos deet ou icaridina, cal�as, blusas de mangas compridas e colocar tela de prote��o nas janelas para barrar a entrada no mosquito.
» 1,5 milh�o de brasileiros ser�o infectados
A situa��o � grave. O v�rus zika tamb�m pode desencadear a S�ndrome de Guillain-Barr�, uma doen�a autoimune que provoca fraqueza muscular e paralisia dos m�sculos. A estimativa � que 1,5 milh�o de brasileiros e brasileiras sejam infectados pelo zika em 2016.