(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PESADELO SEM FIM

Morte de alunos da UFMG no Peru completa 10 anos e familias ainda aguardam justi�a

Acidente com �nibus que levava estudantes da UFMG � 6� edi��o do F�rum Social Mundial matou quatro estudantes e deixou 25 feridos. Sobreviventes tamb�m n�o receberam indeniza��o


postado em 13/02/2016 06:00 / atualizado em 13/02/2016 14:37

Estudantes em ônibus depois de desembarcar na Pampulha: começo da jornada por indenizações(foto: Marcelo Sant'nna/EM/D.A Press- 26/1/06)
Estudantes em �nibus depois de desembarcar na Pampulha: come�o da jornada por indeniza��es (foto: Marcelo Sant'nna/EM/D.A Press- 26/1/06)

Dez anos depois do acidente de Arequipa, no Peru, que interrompeu sonhos, marcou hist�rias e tirou a vida dos estudantes universit�rios Pedro Coelho d’�vila Correa, Roberto Tadeu de Melo Barbosa, Ta�s Palmerston e Thiers Lage Bretas, o pesadelo ainda n�o acabou. Sobreviventes e familiares das v�timas ainda enfrentam as marcas trag�dia, enquanto processos de indeniza��o se arrastam na Justi�a. “Foi uma imensa irresponsabilidade com a vida dos meninos. Fiquei sem trabalho, sem filho, sem fam�lia, acabou minha vida”, diz Mana Coelho, m�e de Pedro Correa, que tinha 20 anos e era aluno de ci�ncias da computa��o.

A irresponsabilidade a que se refere a m�e diz respeito ao servi�o de transporte prestado pela Soleminas Turismo. A empresa foi contratada pelo Diret�rio Central dos Estudantes (DCE), com apoio da Funda��o Universit�ria Mendes Pimentel (Fump), para levar de �nibus 42 universit�rios, 40 deles graduandos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), at� Caracas, na Venezuela, para que participassem, de 24 a 29 de janeiro de 2006, da 6ª edi��o do F�rum Social Mundial (FSM), encontro que re�ne movimentos, ONGs e pessoas do mundo inteiro que buscam solu��es alternativas para problemas sociais.

Hauck na chegada de Arequipa e hoje: cicatriz no rosto e na memória(foto: Emmanuel Pinheiro/EM/D.A Press - 27/1/06 e Beto Novaes/EM/D.A Press)
Hauck na chegada de Arequipa e hoje: cicatriz no rosto e na mem�ria (foto: Emmanuel Pinheiro/EM/D.A Press - 27/1/06 e Beto Novaes/EM/D.A Press)

Um acidente com o �nibus em 23 de janeiro, quinto dia de viagem, matou os quatro estudantes e deixou 25 feridos, em Arequipa, do sul do Peru, depois de uma sucess�o de percal�os. Com dois motoristas que se alternavam ao volante, sem parar para descansar, o �nibus tombou � beira de um penhasco. De acordo a per�cia, houve problemas no sistema de freios do ve�culo e faltou conhecimento do local por parte do condutor, que dirigia acima da velocidade adequada para �rea e n�o conseguiu fazer uma manobra apropriada.

Uma semana antes da partida, o grupo comemorava a verba de R$ 30 mil dada pela Fump, que permitiria a contrata��o da empresa de transporte rodovi�rio. Os estudantes participaram de um sorteio do DCE que definiu quem ingressaria na excurs�o. O DCE contratou a Soleminas, que ofereceu o menor pre�o, entre tr�s empresas consultados. A turma chegaria para a abertura do F�rum em cinco dias de viagem, depois de percorrer cerca 6,2 mil quil�metros passando por Goi�s e Mato Grosso, onde atravessariam a fronteira do Brasil com a Bol�via, depois cruzariam o Peru, Equador e Col�mbia at� chegar � Venezuela.

Mana Coelho lembra que foi at� o local da sa�da do �nibus, no c�mpus da UFMG, na Pampulha, para deixar um “kit de sobreviv�ncia”, com �gua e alimentos, para o filho, para o caso de o �nibus ficar atolado, j� que chovia muito. “Cheguei a dizer a um dos motoristas: ‘cuide do meu filho porque ele � muito precioso para mim’”. Na madrugada do dia 24, ela foi avisada do acidente pela m�e de um dos estudantes. A primeira informa��o era de que todos estavam bem. “At� que soube que alguns morreram, a� desesperei e pedi � minha irm� que fosse at� a minha casa ficar comigo para esperarmos not�cias”, lembra Mana, emocionada. “Foi a� que me ligaram da UFMG pedindo meu endere�o. Eu era professora l� na �poca. Naquele momento, tive certeza de que havia perdido meu filho”, conta Mana, que at� hoje n�o conseguiu receber na Justi�a a indeniza��o pela morte de Pedro.

 

Moura guarda placa usada em cirurgia e espera punição de culpados(foto: Maíra Cabral/EM/D.A Press)
Moura guarda placa usada em cirurgia e espera puni��o de culpados (foto: Ma�ra Cabral/EM/D.A Press)

Repara��o lenta
�s 5h45 de 25 de janeiro de 2006, um avi�o da For�a A�rea Brasileira (FAB) com 33 estudantes, quatro corpos de alunos da UFMG, e o motorista ferido no acidente de Arequipa foi recebido em Belo Horizonte em clima de como��o. O motorista Cl�udio Brito, que escapou sem ferimentos, foi delegado pela Soleminas para fazer o caminho de volta ao Brasil dirigindo o ve�culo, revezando ao volante com o gerente da empresa. Alguns feridos foram levados para hospitais de BH para passar por exames e outros tiveram que ser internados. Pela gravidade das fraturas que tinham, Lucas Hauck e Juliana Fonseca vieram dois dias depois dos colegas, ele de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) a�rea e ela, de remo��o a�rea, ambos acompanhados de seus ent�o namorados e de um representante da UFMG. Come�ava a� um novo percurso, para alguns ainda inacabado: a disputa judicial por repara��o.

Al�m de uma fratura na pelve, que deixou sua perna direita dois cent�metros menor que a esquerda, Hauck teve edema de rins, luxa��o em dedo do p� esquerdo, fratura e corte no rosto e uma les�o permanente do globo ocular. Ele diz ter recebido da seguradora os valores gastos apenas com algumas despesas m�dicas. As sequelas o impediram de prestar concurso para o Corpo de Bombeiros, grande sonho de Lucas que, na �poca do acidente, era socorrista volunt�rio. Diante desse quadro, ele resolveu entrar na Justi�a contra a Soleminas e a Sulina Seguradora, ao lado de alguns colegas.

Veja o caminho feito pelos estudantes até o acidente em Arequipa (clique para ampliar)(foto: Arte EM)
Veja o caminho feito pelos estudantes at� o acidente em Arequipa (clique para ampliar) (foto: Arte EM)


Um deles � Vin�cius Moura, que recebeu da seguradora os valores referentes �s despesas m�dicas, depois de fazer tr�s cirurgias e enxerto �sseo no bra�o, mas ainda espera pela puni��o dos culpados. “A empresa n�o fez o m�nimo de planejamento para essa viagem, foi muita irresponsabilidade e desrespeito com nossas vidas. N�o podemos deixar que casos como esse se repitam”, diz.

Em dezembro de 2013, saiu a senten�a do processo que Mana Coelho moveu contra a Funda��o Mendes Pimentel (Fump), o Diret�rio Central dos Estudantes (DCE) da UFMG e a Soleminas. A Fump foi inocentada e os outros r�us, condenados a indenizar a m�e de Pedro Coelho em R$ 60.171 por danos materiais e morais pela morte do filho. Mas ela ainda tenta receber o valor, que, incluindo despesas com advogados e corre��o monet�ria, chega a R$ 97.686.

O processo movido por Moura, Hauck e outros colegas em uma a��o coletiva anda lentamente na Justi�a, desde 2009. De acordo com o juiz da 4ª Vara C�vel, �tila Andrade Castro, que cuida atualmente do caso, a dificuldade de encontrar o dono da Soleminas, Helton Etelvino dos Santos, foi o primeiro empecilho. Quando se apresentou, Santos alegou n�o ter dinheiro para pagar um advogado. Al�m disso, foram ajuizados v�rios processos e n�o um s� envolvendo todas as partes, o que gera transtorno, afirma. A expectativa � de que a senten�a saia em breve.

A Soleminas Turismo Ltda n�o foi encontrada pela reportagem para comentar o caso. Em nota, a Fump lamentou “a trag�dia ocorrida com os estudantes” e informou que formalizou junto ao DCE, em 12 de janeiro de 2006, a recomenda��o de aten��o quanto � confiabilidade da empresa contratada, al�m da garantia de que os seguros de vida e de acidentes pessoais estivessem estabelecidos”.

“Privil�gio”

O hoje promotor de Justi�a Rodrigo Marciano escapou por pouco de sofrer o acidente que vitimou os colegas com os quais havia percorrido mais de 4 mil km entre BH e Arequipa, no Peru. Ele desembarou quando o ve�culo parou para trocar um pneu nos arredores de Arequipa. S� no dia seguinte, dentro de um �nibus, soube do acidente. “Um senhor lia um jornal local ao meu lado. Quando bati o olho, li ‘37 brasileiros feridos e quatro mortos’ e vi a fotografia do �nibus tombado.” Desesperado, pegou um t�xi e conseguiu voltar ao Brasil com os colegas no avi�o da For�a A�rea Brasileira (FAB). Hoje, acredita ter sido salvo pelo “privil�gio” de uma “intui��o divina”.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)