
Campan�rio – Na “capital da dengue” n�o h� congestionamento, corre-corre, barulho de carro. A popula��o anda de um lado para o outro de sombrinha; n�o porque chove, mas porque � preciso se proteger do fort�ssimo sol. Quase ningu�m vai a BH: cidade grande � a vizinha Te�filo Otoni, a 50 quil�metros. Na “capital da dengue”, vivem 3.733 habitantes, uma popula��o pequen�ssima, mas que, proporcionalmente, sofre com a maior incid�ncia de dengue de todo o Brasil: fato que Campan�rio desconhecia at� a visita do Estado de Minas. A presen�a de uma equipe de reportagem chamou a aten��o do povoado, que, �s 11h, j� est� sentado � mesa para almo�ar e onde n�o h� casa que n�o tenha experimentado o desconforto da doen�a transmitida pelo Aedes aegypti.
De acordo com o �ltimo Boletim Epidemiol�gico do Minist�rio da Sa�de, com o monitoramento de casos de dengue, zika e chikungunya at� a semana epidemiol�gica 5, Minas Gerais lidera em incid�ncia em tr�s das quatro faixas populacionais em que os dados foram divididos. Campan�rio, com 6,2 casos para cada grupo de 100 pessoas (6.214,8 por 100 mil), tem a maior incid�ncia entre as cidades com menos de 100 mil habitantes, e a maior de todo o pa�s. De acordo com o levantamento, o estado � o terceiro no pa�s em incid�ncia de dengue, atr�s de Mato Grosso do Sul e Tocantins, mas s�o as cidades mineiras que est�o puxando o n�mero para cima, liderando tamb�m em outras faixas populacionais. Por qu�? Para Rodrigo Said, superintendente de Vigil�ncia Epidemiol�gica, Ambiental e de Sa�de do Trabalhador da Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG), o estado apenas reflete a realidade do pa�s, que, sim, est� passando por um aumento significativo dos casos de dengue, quadro agravado pela circula��o tamb�m do zika v�rus.

Segundo a secret�ria de Sa�de do munic�pio, Silvana de Souza e Silva Rocha, at� a semana epidemiol�gica 8, o n�mero de casos suspeitos de dengue j� chegava a 442. Com 3.733 habitantes (popula��o estimada em 2015), isso significa que a taxa de incid�ncia j� chega a 11.840 por 100 mil habitantes. O dado quer dizer que, a cada 100 moradores, 11,8 j� tiveram dengue em 2016. “O auge da epidemia foi no carnaval, quando nossos dois postos tiveram que funcionar 24 horas. Nas �ltimas semanas, j� percebemos uma diminui��o de casos”, explica a secret�ria.
A��O Para Jos� Elias de Meira, agente de sa�de e coordenador da Funda��o Nacional de Sa�de (Funasa) em Campan�rio, a melhoria dos n�meros � resultado de uma a��o coordenada de enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti. Mais de metade da cidade j� est� com as caixas-d’�gua e tambores cobertos com telas compradas pelo munic�pio. S�o sete agentes de endemia para os 1.604 im�veis, cinco a mais do que o preconizado: � necess�rio um agente para cada 800 a 1 mil im�veis. Mas falta conscientiza��o. “Tem casa em que a gente entra, coloca o larvicida e, quando viramos as costas ,vemos o morador jogando a �gua tratada fora. Aqui, o problema � a seca e a mente das pessoas. Em algumas estamos pedindo, ao longo dos �ltimos meses, para cobrirem as caixas, mas s� agora, depois que algu�m da casa teve dengue, que tomaram provid�ncia”, lamenta Jos�, cumprimentado pelo nome os moradores em cada im�vel onde entra.
H� quem tente convencer que est� fazendo sua parte, mas que termina se “entregando”. “Meus vizinhos todos tiveram dengue, mas o mosquito n�o me pega”, ri Cilene Esteves de Matos, de 43, dona de uma cisterna aberta no quintal de casa, onde as larvas de mosquito, em est�gio inicial, se aglomeravam. “Jogo um litro de �gua sanit�ria duas vezes por semana, estou esperando ter dinheiro para tampar a cisterna.” Jos� Elias explica que a medida n�o � eficiente, j� que n�o se sabe a quantidade de �gua no po�o. Alertada de que estava jogando dinheiro fora e amea�ando a cidade, j� que as larvas podiam ser vistas a olho nu, Cilene confessou: “N�o sabia que precisava cobrir a �gua que uso pra molhar as plantas. S� tampo a �gua que uso em casa”.
Falta c�digo de posturas
A “politicagem” tamb�m atrapalha Campan�rio. Silvana e Jos� Elias lamentam o fato de o munic�pio n�o ter um c�digo de posturas. “Aqui est� cheio de lote sujo, mas n�o conseguimos multar ningu�m. Cidade pequena � pior, tem muita pol�tica. A pessoa fala que n�o vai limpar e fica por isso mesmo”, afirma a secret�ria de sa�de. Ela lamenta o fato de a Superintend�ncia Regional de Sa�de (SRS) de Te�filo Otoni n�o ter enviado o caminh�o fumac�, mas, segundo Rodrigo Said, o munic�pio precisa ter n�mero de casos significativo e um plano de aplica��o definido. “Caso tenha a��es de controle complementares, com visita casa a casa, tratamento focal por meio da bomba costal (mais eficiente por ir direto ao foco do mosquito), n�o se faz necess�rio o uso do fumac�”, explica.
Segundo Said, houve um entendimento da SES/SRS de que as a��es realizadas pelo pr�prio munic�pio de Campan�rio, entre elas, o uso da bomba costal, come�am a refletir numa quebra da cadeia de transmiss�o, com expectativa de redu��o no n�mero de notifica��es. Nessas horas, ser pequeno ajuda a alertar para a import�ncia dos cuidados, afinal, todo mundo d� not�cia da dengue do vizinho.

Notifica��es do estado
No dois primeiros meses deste ano, foram registrados 124.729 casos prov�veis de dengue e confirmados 13 �bitos relacionados � doen�a. As mortes foram em seis munic�pios de Minas. Os registros de casos prov�veis de 2016 j� chamam aten��o se comparados com os n�meros do ano passado, quando foram 196.618 casos prov�veis da doen�a, acumulados durante os 12 meses do ano passado, com 74 �bitos. Em rela��o � febre chikungunya, Minas j� teve 11 casos confirmados, importados da Col�mbia, Bahia, Sergipe e Alagoas. Neste ano, 413 foram notificados, sendo que, destes, 233 foram descartados e 180 permanecem em investiga��o. Nenhum caso foi confirmado at� o momento em Minas. Os casos notificados de zika de 2016 j� chegam a 755, enquanto em 2015 foram 70. No ano passado, tr�s casos da doen�a foram confirmados, contra nenhum neste ano. Todos permanecem em investiga��o. Em Belo Horizonte, at� o dia 3, foram notificados 31.062 casos suspeitos de dengue, sendo que 6.073 foram confirmados e 24.989 permanecem como suspeitos.