Desrespeito �s leis de tr�nsito se espalha pelas ruas de BH

A fiscaliza��o dos agentes de tr�nsito com poder de pol�cia em Belo Horizonte se destacou em 2015 por identificar motoristas descumprindo as regras do estacionamento rotativo na cidade. Tanto nas a��es da Guarda Municipal quanto no trabalho dos militares do Batalh�o de Pol�cia de Tr�nsito (BPTran), esse tipo de infra��o aparece em primeiro lugar no ranking das multas aplicadas na capital. Enquanto isso, a reportagem do Estado de Minas percorreu vias importantes de BH e percebeu que outras infra��es relacionadas � circula��o de ve�culos, com risco maior para o tr�nsito, continuam sendo praticadas por condutores, com destaque para o uso do telefone celular ao volante, avan�o de sem�foro em locais que n�o contam com fiscaliza��o eletr�nica e falta de cinto de seguran�a. Os tr�s tipos de irregularidade t�m rela��o direta com a seguran�a, j� que as duas primeiras aumentam consideravelmente o risco de batidas e a �ltima se relaciona com a severidade de ferimentos em caso de acidente, segundo especialistas. A BHTrans argumenta que o desrespeito ao faixa azul � encontrado de maneira mais f�cil durante o trabalho de cada agente, enquanto as demais infra��es citadas aparecem de forma mais espalhada e demandam movimenta��o maior dos fiscais.

Das mais de 132 mil infra��es anotadas pelos guardas municipais em 2014, o desrespeito ao rotativo foi respons�vel por 30,1 mil, ocupando o primeiro lugar no ranking daquele ano. A lideran�a foi mantida ano passado, subindo para 39 mil multas em um total 115 mil autua��es. Al�m do aumento no n�mero absoluto de registros, esse tipo de infra��o tamb�m cresceu percentualmente. Em 2014, as multas relativas ao descumprimento das normas do estacionamento rotativo respondiam por 22% do total de infra��es registradas pela Guarda Municipal. Em 2015, passou para 33,8%. Em segundo lugar no ranking de 2015 aparece o uso do celular ao volante, com 13,4 mil multas. A terceira posi��o � do estacionamento em local proibido.

No trabalho de fiscaliza��o dos militares do BPTran, das 127,5 mil infra��es anotadas pelos policiais de tr�nsito, 26,5 mil foram lavradas por conta do desrespeito ao tempo de perman�ncia no faixa azul. Nesse caso, o uso de celular aparece apenas na terceira posi��o, com pouco mais de 13 mil flagrantes. Como a unidade n�o informou dados de 2014, n�o foi poss�vel fazer compara��o.

Enquanto a puni��o para quem descumpre as regras do faixa azul cresce, nas ruas e avenidas da cidade, os flagrantes de desrespeito �s leis de tr�nsito s�o vistos a todo momento, aumentando o o risco para motoristas e pedestres. Na Avenida Ant�nio Carlos, bastou o sem�foro de acesso � Esta��o Am�rico Vesp�cio do Move, Bairro Aparecida, Noroeste de BH, fechar para que tr�s carros passassem no vermelho. O local ainda n�o conta com fiscaliza��o eletr�nica e, por isso, a desobedi�ncia impera no local. Quando o assunto � uso do celular ao volante, a situa��o � ainda pior. O EM flagrou pessoas segurando o aparelho para mandar mensagens de voz, escrevendo mensagens e tamb�m falando com o equipamento no ouvido. Dois registros seguidos foram feitos na Avenida Jos� C�ndido da Silveira, Bairro Cidade Nova, Nordeste de BH.

FISCALIZA��O EM PARCERIA O coordenador do Departamento de Transportes da Fumec, M�rcio Aguiar, diz que o poder p�blico deveria fazer parcerias com a iniciativa privada para que a gest�o do rotativo fosse repassada a uma empresa particular. A companhia ficaria respons�vel por monitorar e chamar os agentes p�blicos para aplicar as multas caso fosse necess�rio. “Dessa forma, voc� poderia liberar mais os agentes para verificar as condutas mais graves, que aumentam o risco de acidentes”, afirma o especialista. Em 2014, a BHTrans chegou a anunciar estudos para implantar a compra de cr�ditos do faixa azul por meio eletr�nico. A iniciativa permitiria a fiscaliza��o por leitores autom�ticos de placas, instalados em ve�culos que percorreriam as �reas de estacionamento regulamentados, otimizando o trabalho de uma forma consider�vel. A expectativa era de que o projeto virasse realidade em 2016, mas, segundo o superintendente de Opera��es da BHTrans, Fernando de Oliveira Pessoa, a iniciativa ainda n�o vingou.

“Temos estudos, mas ainda n�o h� nada certo nesse sentido”, afirma. Pessoa tamb�m diz que o fato de o desrespeito ao rotativo liderar as infra��es registradas pelos agentes da Guarda Municipal e do BPTran n�o significa que o foco esteja longe das condutas mais perigosas. “No rotativo, o �ndice de irregularidade � alto. Se voc� pega um quarteir�o onde h� 50 carros estacionados, em cinco minutos o agente que passa nesse quarteir�o pode aplicar 50 multas. O resto das infra��es est� espalhado pela cidade. Voc� pega uma em um quarteir�o, outra em outro, o agente tem que andar”, afirma. O superintendente destaca ainda que n�o adianta s� pensar em aumento de fiscaliza��o se as pessoas n�o respeitarem as leis de tr�nsito. “Nossa expectativa maior � que a popula��o comece a entender que tr�nsito n�o � responsabilidade s� do �rg�o de tr�nsito. As pessoas t�m que compreender que, se todo mundo agir da forma correta, � melhor para todos”, completa.

PALAVRA DE ESPECIALISTA

M�rcio Aguiar, coordenador do Departamento de Transportes da Fumec

N�s precisamos de agentes nas ruas de Belo Horizonte. Al�m de fiscalizar o tr�nsito, eles passam a sensa��o de seguran�a para a popula��o. O investimento em radares � uma vertente muito importante, pois a tecnologia otimiza a atua��o da fiscaliza��o, mas o aspecto presencial tem uma import�ncia decisiva na circula��o urbana. Infelizmente, temos um modelo presencial muito restrito na capital mineira e, por isso, deveria haver investimento do poder p�blico para incrementar o efetivo que vai para as ruas. S� � multado quem est� descumprindo as leis, e isso contribui para a mudan�a de comportamento.

OMS destaca trabalho do EM

O trabalho que o EM desenvolve na cobertura dos problemas de tr�nsito de Belo Horizonte e de Minas Gerais foi reconhecido pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). O �rg�o internacional entrevistou jornalistas e destacou trabalhos importantes para mostrar que os eventos ligados ao tr�fego n�o podem ser vistos de forma isolada e desconectada. O importante � tentar entender as raz�es e liga��es que fazem acidentes e mortes nas rodovias e vias urbanas das cidades parte de uma epidemia que n�o pode ser tratada como fatalidade. Entre os trabalhos valorizados pela OMS, est�o mat�rias de ve�culos como a BBC e o jornal ingl�s The Guardian, e uma reportagem do Estado de Minas que levantou todas as mortes no tr�nsito do estado em 2013 e fez uma estimativa de quantas pessoas poderiam morrer at� o fim do ano se o ritmo de acidentes fosse mantido. Al�m da mat�ria destacada, a publica��o traz um relato do rep�rter Guilherme Paranaiba sobre a import�ncia de cobrir tr�nsito com um olhar atento �s quest�es que tornam o assunto t�o decisivo para a nossa sociedade, j� que as mortes n�o param. A vers�o em ingl�s Reporting on road safety – A guide for journalists (foto), j� est� sendo distribu�da para as reda��es. Uma vers�o em portugu�s tamb�m ser� lan�ada.