
“Meu Deus, meu Deus, n�s vamos morrer. Vamos pular, vamos pular”. Transferido da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a enfermaria do Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII (HPS), no fim de semana, o ajudante de caminh�o Rodrigo Barbosa Vicente, de 36 anos, recorda-se das �ltimas palavras do motorista Jorge Ricardo Ferreira da Cunha, de 52, morto na quarta-feira passada, depois de perder o controle do caminh�o placa LCE 2467 e tombar, no Bairro S�o Bento, matando tamb�m a manicure Melrilene Cavalcanti da Silva, de 23, que passava no local. Rodrigo n�o chegou a conseguir pular, mas foi arremessado para fora do ve�culo, o que, provavelmente, garantiu a sua sobreviv�ncia. O ajudante chegou a ser dado como morto por causa de uma coincid�ncia de nomes. O mal-entendido s� foi desfeito ap�s a reportagem do Estado de Minas perceber a confus�o e informar a fam�lia.
“S� me lembro dos sacos de cimento batendo em cima de mim o tempo todo. Foi muita lenhada que levei”, recorda o ajudante, que sofreu escoria��es e cortes por todo o corpo, inclusive no rosto, e perdeu a consci�ncia durante a queda. O caminh�o carregava cerca de 14t de cimento e vinha de S�o Gon�alo (RJ), onde Rodrigo mora, para fazer entregas em duas lojas da capital mineira.
O “renascimento” do ajudante de caminh�o come�ou no resgate. “O mo�o do Samu veio aqui me visitar e n�o acreditou que eu estava bem. Ele falou: ‘Rapaz n�o d� para acreditar que voc� est� vivo’. Ainda me disse que j� tinha virado as costas, achando que ningu�m tinha sobrevivido, quando me viu levantar a cabe�a e pedir socorro”, conta Rodrigo. Ele foi levado ao HPS com suspeita de traumatismo craniano leve, teve uma fratura no tornozelo, j� operada, perdeu muito sangue e ainda tem dificuldade para ficar de p�, devido aos incha�os e machucados por todo o corpo. “Quando acordei, n�o sabia de nada. Demorei a perceber que estava vivo”, diz. “� Deus mesmo. Deus existe e ningu�m vai antes da hora, assim como ningu�m escapa quando chega a hora. Hoje, tenho certeza disso”.
Casado, pai de uma menina de 12 anos, Rodrigo afirma que passou a ver a vida de forma diferente. “Tem muita gente que vive reclamando. E reclama de pouca coisa. Tem uma espinha no rosto e acha que est� horr�vel. Vou ter muita coisa para contar a essas pessoas. Voc� acha que est� mal? Pois est� muito bem!”, acrescenta. “Eu mesmo era assim. Muito vaidoso, preocupado com a apar�ncia, academia e tudo mais. Deus me mostrou que n�o � assim”. Ele recorda que ao reencontrar a mulher, Simone Bezerra da Silva, de 43, disse a ela que, mesmo se estivesse sem um bra�o ou uma perna, estaria bom. A f� em Deus e o amor da mulher, da fam�lia e dos amigos t�m o ajudado a se recuperar. “Acho que sou uma pessoa boa, pois a toda hora recebo mensagem de amigos, querem at� fazer festa. Sei que minha recupera��o vai ser lenta, mas vou superar”.
PER�CIA Segundo Rodrigo, o freio do caminh�o falhou fazendo com que o motorista perdesse o controle do ve�culo, que invadiu a contram�o da Avenida C�nsul Ant�nio Cadar, bateu na mureta de uma quadra de peteca e tombou no canteiro da cal�ada. O ajudante conta que ele o motorista estavam descansados. Pararam para dormir durante a noite e mais outras duas vezes para descansar. O caminh�o, conforme Rodrigo, havia sido totalmente revisado antes da viagem. Era a segunda vez que ambos vinham a BH e eles n�o conheciam bem a cidade. De acordo com o ajudante, o motorista Jorge Ricardo era experiente, por�m mais acostumado a dirigir �nibus. A per�cia deve ficar pronta em 30 dias, contados da data do acidente.
V�deo mostra o momento do acidente