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Estado de Minas

Resgate de tesouro arqueol�gico sob a lama da minera��o n�o chegou a 1%, diz promotor

Passados quase cinco meses do rompimento da barragem que arrasou comunidades hist�ricas em Mariana, cerca de 500 pe�as sacras foram recuperadas da lama, mas um tesouro de propor��es incalcul�veis segue soterrado em locais como Bento Rodrigues


postado em 02/04/2016 06:00 / atualizado em 02/04/2016 08:07

Povoado abandonado começa a dar primeiros sinais de vida, com verde brotando do barro seco, mas cotidiano e tradição religiosa sobreviveu apenas nas lembranças de moradores(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Povoado abandonado come�a a dar primeiros sinais de vida, com verde brotando do barro seco, mas cotidiano e tradi��o religiosa sobreviveu apenas nas lembran�as de moradores (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Vidas reconstru�das em meio a marcas cada vez mais fortes. E, pelo visto, eternas. Quase cinco meses ap�s a destrui��o de Bento Rodrigues e de outras comunidades em Mariana e munic�pios vizinhos, os antigos moradores n�o conseguiram sepultar a dor pelas perdas, inclusive do patrim�nio cultural. “Nem nunca mais vamos conseguir; � muita hist�ria, tempo demais ali”, afirma Jos� do Nascimento de Jesus, o Zezinho do Bento, um dos representantes do subdistrito soterrado pela lama que vazou em 5 de novembro da Barragem do Fund�o, da mineradora Samarco. Um pouco de alegria ainda brota, no verde que ressurge da terra arrasada e em objetos sacros que s�o encontrados na imensid�o ainda dominada pelo barro. Dele, at� agora, foram resgatadas perto de 500 pe�as, sendo 360 pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais e 125 pela Samarco, de quatro templos – dois em Bento Rodrigues, um em Paracatu de Baixo e outro em Gesteira, j� na cidade de Barra Longa, na Zona da Mata.


Na avalia��o do coordenador da Promotoria Estadual do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais (CPPC), Marcos Paulo de Souza Miranda, o volume de pe�as recuperadas pela Samarco � muito pequeno diante do acervo de propor��es gigantescas que igrejas e capelas atingidas abrigavam. “A mineradora n�o conseguiu encontrar nem 1% do que se perdeu, embora esteja l� com uma equipe de arque�logos”, critica o promotor de Justi�a.

Os objetos localizados pela Samarco est�o sendo levados para um im�vel alugado pela empresa em Mariana. Segundo os t�cnicos da mineradora, est�o passando por processos de higieniza��o. J� o material localizado pela CPPC, em parceria com Centro de Conserva��o e Restaura��o de Bens Culturais M�veis (Cecor), da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, est�o sendo levados para o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana, no Centro Hist�rico da cidade. A expectativa � de que as pe�as sejam restauradas.

O coordenador da CPPC teme pelas novas amea�as ao patrim�nio, que inclui, al�m de igrejas e capela, pontes, casario e outros bens de valor hist�rico. “A empresa est� querendo construir o dique S4, para diminuir a vaz�o de sedimentos em dire��o ao Rio Doce, e vai comprometer estruturas arqueol�gicas. Certamente, haver� novos danos”, alerta Marcos Paulo. A Samarco, via assessoria de imprensa, informa que a obra do dique n�o ser� mais executada, pelo menos em Bento Rodrigues, exatamente para preservar um muro que foi descoberto durante as escava��es. Sobre o pequeno n�mero de objetos sacros localizadas pela empresa em quase cinco meses, os assessores alegam que “o trabalho ainda n�o terminou”.

A quinta-feira reservou uma surpresa para os arque�logos que atuam na regi�o a servi�o da mineradora. Airton Ant�nio Silva, morador da comunidade de Ponte do Gama, em Mariana, entregou duas pe�as de madeira entalhadas, caracter�sticas de bala�stres ou m�sulas (suportes para pe�as em paredes), t�picas de igrejas, que foram devidamente embaladas e acondicionadas na reserva t�cnica em Mariana. A equipe voltava para a cidade colonial, no fim da tarde, depois de um trabalho de campo, quando o homem, que estava � beira da estrada, sinalizou para o carro, dando a entender que tinha algo muito importante para informar.

Surpresas continuam surgindo na área atingida, como peças de madeira entalhada entregues por morador(foto: Samarco/Divulgação)
Surpresas continuam surgindo na �rea atingida, como pe�as de madeira entalhada entregues por morador (foto: Samarco/Divulga��o)

LEMBRAN�AS Com a �rea do subdistrito de Bento Rodrigues interditada pela Defesa Civil, os ex-moradores pouco voltam ao local onde viveram, criaram filhos, produziram a famosa geleia de pimenta-biquinho, rezaram e se divertiram. “Fiquei sabendo que tem arque�logos trabalhando l�, encontrando at� antigos muros. Isso � muito bom”, afirma Zezinho, de 70 anos, natural de S�o Jo�o del-Rei, na Regi�o do Campo das Vertentes, mas que viveu 33 anos “no Bento”, como adultos, jovens e crian�as se referem ao vilarejo surgido no s�culo 18 pelas m�os do bandeirante Bento Rodrigues.

Morando em um im�vel alugado pela Samarco em Mariana desde a cat�strofe que deixou 18 mortos e um desaparecido, Zezinho n�o se esquece de tudo a que as pe�as sacras encontradas remetem. Casado com Maria Irene de Deus, ele conta que junto dos demais cat�licos participava do Ter�o do Sant�ssimo, das missas, tocava viol�o no coral e das celebra��es em louvor ao padroeiro S�o Bento, no m�s de julho. E havia tamb�m o lado profano, mas divertido: na pracinha, aos domingos, a turma se juntava para jogar truco. “T�nhamos uma loja de artesanato, mas acabou tudo com a lama.”

A agente de sa�de Cl�udia de F�tima Alves tamb�m volta no tempo para se lembrar da avalanche. “N�o tem jeito, a emo��o sempre volta. Gra�as a Deus, estou viva, mas perdemos muitas pessoas”, lamenta. “H� tr�s meses n�o volto l�, pois est� fechado. Sempre teve muita festividades religiosas l� no Bento, as missas do Natal e do Ano-Novo, as celebra��es da Semana Santa, enfim, todos reunidos sempre”, observa Cl�udia. Os antigos moradores n�o se esquecem tamb�m nas celebra��es na Capela de Nossa Senhora das Merc�s, do s�culo 18, hoje um s�mbolo da antiga comunidade protegido por tapumes por determina��o do MPMG.

Mas acervo valioso, como o altar da Capela de São Bento, continua desaparecido(foto: Leandro Gonçalves de Rezende/Arquivo pessoal/Divulgação)
Mas acervo valioso, como o altar da Capela de S�o Bento, continua desaparecido (foto: Leandro Gon�alves de Rezende/Arquivo pessoal/Divulga��o)

RECUPERA��O  De acordo com a Samarco, desde o dia seguinte ao acidente, a empresa est� comprometida em “resgatar, armazenar e restaurar as pe�as sacras das igrejas localizadas nas �reas afetadas pelo acidente com a Barragem do Fund�o”. T�cnicos explicam que “assim que � finalizado o resgate, ainda em andamento, empresa especializada em restaura��o de pe�as sacras d� in�cio ao processo”. Outra frente � a preserva��o dos im�veis: “Para isso, uma empresa especializada em engenharia civil e restaura��o est� encarregada de analisar todos os par�metros das estruturas das igrejas, como seus pilares, altares e piso”.

 

Exposi��o na Assembleia

O contraste entre o marrom das ru�nas e o verde da vegeta��o, aves ciscando no meio da destrui��o e um carro estacionado sobre o lama�al em Bento Rodrigues. Os flagrantes foram captados pelas lentes do fot�grafo Cl�udio Nadalin e poder�o ser vistos at� 15 de abril em exposi��o na Galeria de Arte do Espa�o Pol�tico-Cultural Gustavo Capanema, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Rua Rodrigues Caldas, 30, Bairro Santo Agostinho), em Belo Horizonte. A mostra tem o sugestivo nome de Oh! Minas Gerais... e traz, com sensibilidade, o cen�rio de desola��o deixado pela maior trag�dia socioambiental do Brasil. Nadalin fez o trabalho durante a opera��o SOS Mariana, de resgate de bens hist�ricos, comandada pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais e Cecor/UFMG. O fot�grafo J�nior Rodrigues tamb�m apresenta ensaio fotogr�fico.


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