
Se na pr�tica tudo demora a acontecer, para a tristeza e preocupa��o dos defensores do patrim�nio, algumas unidades de ensino fazem sua parte e se mobilizam para fortalecer a rela��o dos alunos com o acervo e aproxim�-los sempre do patrim�nio. O resultado se torna vis�vel no rosto de cada um deles, conforme comprovou o Estado de Minas, durante a visita de uma turma da Escola Municipal Professor Pedro Guerra, de Venda Nova, ao Museu de Artes e Of�cios (MAO), no Centro de Belo Horizonte. “Quanto mais se conhece, mais se protege. Se voc� n�o v�, n�o sabe preservar”, acredita o professor de geografia Marcos Ant�nio Paulo, que acompanhava a turma do 9º ano, com o professor de hist�ria Elivelto Aparecido Guimar�es.
Diante do pr�dio datado dos prim�rdios da constru��o de BH, onde se implantou a antiga esta��o ferrovi�ria, os professores falaram sobre a necessidade de conserva��o, as agress�es, como a picha��o, e o cuidado permanente e necess�rio com os monumentos. � provoca��o do rep�rter, questionando se algum deles teria coragem de rabiscar com spray um lugar p�blico, os alunos reagiram com veem�ncia e consci�ncia. “Picha��o � crime, vandalismo”, respondeu o estudante Lucas Nunes Ferreira, de 14 anos, que fotografava o pr�dio com os colegas Keven Vitor Almeida Fonseca, Roberto Nogueira, Chrystian Santos Anacleto, Marcos Ant�nio Vieira Santana e Gabriel de Melo.
Rog�ria Souza, de 14, mostrou que vem aprendendo muito sobre a cidade e se mostrava impressionada com a arquitetura do pr�dio da Pra�a Rui Barbosa, a conhecida Pra�a da Esta��o, embora visitasse o MAO pela segunda vez. Jo�o Vitor de Almeida Souza, tamb�m de 14, destacou a beleza da constru��o e fez coro � necessidade de preserva��o dos espa�os hist�ricos e culturais, enquanto o professor de geografia contava que trabalhou numa escola na qual a cantina foi depredada pelos alunos. “Sabe o que fiz? Passei a lev�-los constantemente ao local, para ver as instala��es, conversar com as cozinheiras e ver os equipamentos. Nunca mais ocorreu nada.”

Marcos Paulo cita outros alvos de agress�o, como a Serra do Curral, eleita s�mbolo da capital, que sofre invas�es, tem partes desbarrancando e n�o vis�veis do lado de BH e ainda n�o teve a delimita��o de tombamento federal regulamentada. “H� muitos lugares abandonados. Da� a import�ncia da comunidade, que � a melhor guardi� de seu patrim�nio”, afirma. Reconhecendo a import�ncia da educa��o patrimonial, o promotor de Justi�a est� certo de que n�o se podem depositar a� todas as esperan�as, especialmente quanto � picha��o. “Atos criminosos demandam puni��o exemplar e o Minist�rio P�blico trabalha nessa linha. Muitas quadrilhas est�o envolvidas na picha��o”, afirma.
Se causou como��o e espanto, o ato de viol�ncia contra a igrejinha serviu para mobilizar a popula��o. “Houve um despertar de todos para a necessidade de preserva��o do patrim�nio. As pessoas passaram a se preocupar com o bem projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), s�mbolo da cidade, e com os demais”, diz o presidente da Funda��o Municipal de Cultura, arquiteto Le�nidas Oliveira. Para ilustrar, Le�nidas cita o “abra�o” espont�neo, dado na segunda-feira ao monumento por atores, artistas pl�sticos, arquitetos, professores e estudantes do Col�gio Pio XII, empres�rios do setor de gastronomia e gente que caminhava pela orla. “N�o houve participa��o do poder p�blico nessa iniciativa, e outros abra�os de rep�dio � picha��o e de apoio � candidatura da Pampulha a patrim�nio da humanidade est�o programados”, afirmou.

DI�LOGO A presidente do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG), Michele Arroyo, v� outros aspectos da quest�o: “H� um lado que � a preven��o, a recupera��o do bem cultural, a vigil�ncia e a puni��o dos infratores, mas existe tamb�m a necessidade de pol�ticas p�blicas de educa��o e de inclus�o da popula��o, em especial dos jovens, nos espa�os p�blicos, de forma plural, coletiva e democr�tica”. Com a experi�ncia de quem esteve � frente do setor de Patrim�nio da Prefeitura de BH e da superintend�ncia do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), Michele defende o di�logo para garantir a preserva��o e impedir agress�es aos monumentos.
“O patrim�nio � visto de muitas formas, sob v�rios olhares, da� a necessidade de compreens�o dos valores de grupos sociais para os quais sua hist�ria � importante na vida da cidade”, diz a historiadora. Sobre a picha��o na Igrejinha da Pampulha, Michele ressalta que h� outros atos danosos ao monumento, entre eles, o de pessoas que fazem caminhada e se alongam apoiando o p� nas pastilhas do templo, os que jogam lixo na lagoa ou fazem eventos privados ao lado de um bem p�blico.
DE TRISTE MEM�RIA A picha��o da Igreja de S�o Francisco de Assis, na Pampulha, ocorreu na madrugada do dia 21 de mar�o, pelas m�os de M�rio Augusto Faleiro Neto, de 25 anos, indiciado pela Pol�cia Civil por dano ao patrim�nio p�blico. A tinta azul do spray sujou o painel da via-sacra e de S�o Francisco, obra de C�ndido Portinari (1903-1962), e as pastilhas dos mosaicos na lateral do templo modernista. Na quarta-feira, o presidente da Funda��o Municipal de Cultura (FMC), Le�nidas Oliveira, anunciou a implanta��o do programa Patrim�nio Cultural Protegido, com vigil�ncia 24 horas por dia nos monumentos da Pampulha e de outras regi�es da cidade. Em julho, em Istambul, na Turquia, a Organiza��o das Na��es Unidas para Educa��o, Ci�ncia e Cultura (Unesco) dar� o resultado sobre a candidatura da Pampulha a patrim�nio cultural da humanidade.