
Na missa das crian�as, celebrada ontem pelo religioso com a igreja lotada, impressionava a desenvoltura de Marco Ant�nio assentado em meio aos pequenos, que n�o despregavam o olho do padre. Com voz tranquila e segura, ele ensinou a cada um dos filhos, pais e av�s presentes que “todos n�s somos respons�veis por criar um ambiente mais bonito, harm�nico e gostoso de ficar. Onde Jesus est�, tudo fica claro como o dia e belo como a luz. � por isso que devemos sempre transmitir carinho aos nossos colegas de sala, amigos e irm�os”, pregou. Ele nasceu com descolamento espont�neo da retina no Bairro Cai�ara e foi perdendo a vis�o em um processo gradativo, que culminou aos 13 anos de idade. Seu irm�o tamb�m � deficiente visual, casado e com dois filhos.
Para atingir a calma interior, padre Marco Ant�nio aprendeu desde a juventude a dedicar 20 minutos pela manh�, ao acordar, � pr�tica da medita��o. Em seguida, d� in�cio �s laudes, como s�o denominadas as ora��es da manh�. Ele j� se levanta rezando, com a ajuda de um aplicativo do celular, que vai ‘dizendo’ as ora��es em voz alta. Marco Ant�nio tamb�m aplica Reiki, que segundo o pr�prio, trata-se de pr�tica areligiosa que emprega a cura pelas m�os, inspirada nos milagres feitos por Jesus Cristo pela imposi��o de m�os sobre os doentes. No t�rmino da homilia, na missa de ontem, o padre estendeu as m�os sobre as crian�as: “Que Deus coloque a m�o sobre a cabecinha de cada um de voc�s, trazendo a paz”. “Venho todos os domingos. A missa dele � muito bem pregada, independentemente de ele ser ou n�o deficiente visual. N�o vejo diferen�a”, comentou um idoso, morador do bairro.


CAPACIDADE INTELECTUAL Escolhido como padrinho da ordena��o de Marco Ant�nio, padre Mauro Luiz da Silva, da par�quia Nossa Senhora do Morro, destaca a capacidade intelectual do pupilo. “Ele foi orientado a ser meu afilhado de ordena��o porque eu coordenava a pastoral dos surdos. N�o percebi nada nele que pudesse limitar a sua atua��o no sacerd�cio, pelo contr�rio, era de se admirar a forma��o s�lida e capacidade intelectual dele. Ele � um dos padres com a homilia mais valorizada e de melhor comunica��o nos dias de hoje”, elogia o mentor, lamentando que Marco Ant�nio n�o tenha ido refor�ar a equipe da igreja da Barragem Santa L�cia, onde celebrou sua primeira missa. “Na �poca, a comunidade ficou encantada com o trabalho dele”, completa.
Em 28 de outubro, dia de S�o Judas Tadeu, al�m de celebrar duas missas, que atraem uma multid�o de fi�is de todos os lugares do pa�s, padre Marco Ant�nio � um dos mais requisitados a atender nos confession�rios. Ordenado h� um ano e designado para a mesma igreja, Padre Wagner Douglas Gomes de Souza explica o motivo: “O gesto dele de estar pronto a escutar influencia muito. Padre Marco Ant�nio sempre foi muito intuitivo e tem uma palavra forte a oferecer a cada um”.
“Parece que a gente acaba enxergando com outros olhos”, sorri o padre, que costuma valorizar os momentos de sil�ncio nas missas. “S�o important�ssimos para internalizar as falas, as m�sicas, para contactar com Deus. Na liturgia, esse momento � chamado de sil�ncio sagrado”, explica Marco Ant�nio, lembrando que os deficientes visuais desenvolvem outro senso de percep��o e dire��o, por meio de sons e cheiros. Para suprir a aus�ncia da vis�o, portanto, permanecem o tempo inteiro ‘ligados’ em barulhos e sensa��es de movimento, como forma de interpretar o mundo.
Segundo a ministra da eucaristia Maria da Concei��o de Farias, funcion�ria h� 22 anos do santu�rio, o padre celebra casamentos, vai ao CTI ungir doentes, d� a comunh�o. “N�o h� nada na igreja que padre Marco Ant�nio deixe de fazer. Ele tem o poder da luz divina”, completa ela, admitindo que h� uma disputa saud�vel entre funcion�rios para oferecer o bra�o ao padre, conduzindo-o at� o ponto de �nibus. “Al�m de ser um bom padre, ele � nosso amigo.”
Pastoral dos deficientes visuais
Aos poucos, empecilhos a fi�is e padres cegos v�o sendo contornados pela Pastoral da Pessoa com Defici�ncia Visual, fundada tamb�m pelo padre Marco Ant�nio em agosto de 2013 nas proximidades do Instituto S�o Rafael, na Regi�o do Barro Preto. Com cerca de 60 integrantes, o objetivo da pastoral � capacitar deficientes visuais para participarem das celebra��es como leitores, ministros da comunh�o e catequistas. Os encontros s�o realizados todo terceiro s�bado de cada m�s, das 14h �s 16h, na Igreja de S�o Sebasti�o.