
Mais do que polos comerciais, criminosos que elevaram em mais de 100% as estat�sticas de crimes violentos contra o patrim�nio em Belo Horizonte entre 2012 e 2016 procuram outras caracter�sticas nos bairros para escolher onde assaltar. �reas com popula��o flutuante, pr�ximas de rotas de fugas, com locais ermos ou que tiveram aumento populacional e de renda expressivos recentes tamb�m est�o na mira. E as v�timas atestam: n�o tem mais hor�rio. Atentos �s atividades cotidianas da popula��o, criminosos monitoram comportamentos e rotinas para agir. Nem mesmo crian�as escapam.
“Acabou essa hist�ria de que assalto � s� � noite. Os bandidos agora ‘trabalham’ o dia todo. Antes mesmo das 6h at� a madrugada”, conta o presidente da Associa��o de Moradores do Bairro S�o Pedro, Carlos Rocha, que cita ainda o problema dos arrombamentos de ve�culos nas proximidades de bares e boates durante a madrugada. No Cora��o Eucar�stico (Regi�o Noroeste), que recebe diariamente cerca de 10 mil pessoas – quase o dobro de sua popula��o fixa, de aproximadamente 12 mil moradores, s�o principalmente as idas e vindas de estudantes, com bolsas e celulares vis�veis, que despertam a aten��o dos ladr�es em ruas vizinhas � universidade instalada na comunidade. “Os estudantes e moradores s�o assaltados desde as 6h30”, conta o presidente da associa��o de moradores (Amocoreu), Walter Freitas.
Os roubos na passarela que liga o bairro � Via Expressa tamb�m s�o um problema e ocorrem em qualquer hor�rio, segundo Freitas. “A regi�o tem ruas pequenas, ermas, e, ao mesmo tempo, com rotas de fuga pelo Anel Rodovi�rio, Via Expressa e pelo acesso ao vizinho Bairro Padre Eust�quio”, afirma o representante comunit�rio, citando ainda o problema dos arrombamentos de carros e assaltos ao com�rcio, tamb�m aquecido no bairro.
Nos vizinhos Sagrada Fam�lia e Horto, ambos na Regi�o Leste, at� as partidas de futebol na Arena Independ�ncia est�o ditando o hor�rio dos assaltos. O presidente da Associa��o de Moradores e Empres�rios (Ame-Sagrada Fam�lia), Marco Aur�lio Alves, conta que parte dos moradores n�o tem garagem em casa e, diante da proibi��o de estacionar em um per�metro no entorno do est�dio, precisam deixar os carros em ruas vizinhas durante as partidas. “Quando v�o busc�-los, s�o surpreendidos pelos bandidos”, afirma.
Nas ruas pr�ximas � unidade de sa�de PAM Sagrada Fam�lia, funcion�rios est�o deixando de ir de carro, diante da grande quantidade de roubos e arrombamentos de ve�culos. J� na Rua Conde Ribeiro do Vale, esquina com Avenida Cristiano Machado, foi depois da constru��o de uma passarela que os assaltos passaram a atormentar a comunidade. “Os ataques ocorrem desde a hora em que as pessoas est�o indo trabalhar at� tarde da noite, quando voltam de escolas e faculdades”, relata Marco Aur�lio.
‘CARGA HOR�RIA’ O “hor�rio de trabalho” tamb�m � amplo nos casos de criminosos que agem no Prado, na Regi�o Oeste de BH. Mapeamento fornecido pela pr�pria PM � comunidade mostra que, no in�cio da manh�, os assaltos ocorrem principalmente contra pessoas que est�o indo trabalhar e passam pela Avenida Amazonas, entre a Avenida Francisco S� e a Rua Arist�teles Caldeira, al�m da Rua Brumadinho, no mesmo trecho. “Durante o dia, a criminalidade se dilui entre estabelecimentos comerciais na parte interior do bairro; � noite, se concentra no entorno da Avenida Francisco S�, onde s�o comuns arrombamentos de carros e pontos de com�rcio”, informa o presidente da Associa��o de Moradores do Prado, Ricardo Scheid.
No Bairro Cidade Nova, na Regi�o Nordeste, al�m do fervor do com�rcio, h� ainda locais ermos que s�o atrativos para ladr�es. De acordo com Nancy Camini de Oliveira, gerente de uma loja na Avenida Cristiano Machado, h� assaltos diariamente em uma passarela que liga o bairro ao outro lado do corredor de tr�nsito. “Bandidos levam bolsas, celulares e mochilas de quem est� atravessando. Na rua, passam de moto e assaltam. Entram no com�rcio para roubar e j� houve at� assassinato na porta de um banco aqui do lado. O problema � que o policiamento n�o � adequado”, critica.
Faltam efetivo e estrutura � Pol�cia Militar
N�o s� os problemas de seguran�a s�o comuns aos bairros de Belo Horizonte. Quest�es relacionadas � falta de estrutura e efetivo policial tamb�m s�o frequentes no discurso de moradores e comerciantes, que sofrem com o aumento dos crimes contra o patrim�nio. “Falta policiamento no bairro. N�o tem efetivo suficiente. N�o tem viaturas, armamento, muni��o. N�o tem estrutura. Metade da frota est� parada. O Belvedere tinha base m�vel, cavalaria. Hoje n�o tem mais. Vamos continuar cobrando isso das autoridades”, afirma o presidente da Associa��o dos Amigos do Bairro Belvedere, Ubirajara Pires.
A insatisfa��o tem levado a popula��o a unir esfor�os em busca de seguran�a. No Bairro Castelo (Regional Pampulha), uma das apostas foi montar o grupo Castelo Protegido em uma rede social, que hoje j� conta com mais de 2 mil pessoas, entre moradores e lojistas. “O policiamento est� cr�tico em toda a cidade e, por aqui, h� apenas duas viaturas para atender ao nosso bairro e ainda o Al�pio de Melo e Manac�”, afirma o presidente da Associa��o de Moradores do Castelo, Glauco Mota, lembrando que os assaltos e arrombamentos cresceram muito no bairro nos �ltimos anos.
“A pol�cia sempre circula pelo bairro, mas o efetivo � pequeno para toda a cidade. A vigil�ncia � muito ruim no S�o Pedro. N�o tem presen�a da Guarda Municipal, nem c�meras do Olho Vivo e cavalaria. Isso � falta de governan�a”, reclama o presidente da associa��o de moradores, o tamb�m comerciante Carlos Rocha. Segundo ele, uma das alternativas para aumentar a seguran�a foi montar um grupo de vizinhos no WhatsApp, que funciona como canal com a pol�cia.
De acordo com Alfredo Gordon, um dos conselheiros da Associa��o dos Amigos do Bairro de Lourdes (Regional Centro-Sul), a Pol�cia Militar tem apoiado a popula��o no local, mas esbarra no baixo efetivo e em problemas de infraestrutura. A queixa se repete ainda no Sagrada Fam�lia (Leste), onde a cobran�a � pelo retorno da base m�vel retirada do bairro h� dois meses, al�m do aumento do efetivo. No Planalto (Norte), a popula��o cobra as reuni�es com a PM, interrompidas desde o ano passado, al�m da presen�a maior de policiais, especialmente em motos, que s�o mais �geis. “Estamos todos inseguros nas ruas”, relata a presidente da Associa��o Comunit�ria do Planalto e Adjac�ncias, Magali Ferraz.
E com forte movimento comercial, o Barreiro cobra intensifica��o no servi�o de intelig�ncia da PM. De acordo com comerciantes, bandidos roubam duas e at� tr�s vezes e n�o s�o detidos. “Falta apoio da PM. A solu��o foi montar uma rede de vizinhos e comerciantes protegidos, mas ela ainda precisa melhorar. N�s mesmos � que estamos tendo que tomar conta da regi�o, porque a criminalidade cresceu muito”, afirma o presidente da Associa��o de Moradores e Amigos da Regi�o do Barreiro, F�bio Daniel Barbosa.
Aposta em di�logo e remanejamento
De acordo com a Pol�cia Militar, a corpora��o est� atenta aos problemas e tomando provid�ncias para reduzir a incid�ncia de criminalidade em Belo Horizonte. Segundo o chefe da assessoria de comunica��o do Comando de Policiamento da Capital (CPC), major Sandro de Souza, j� foi determinada a transfer�ncia de militares da administra��o para o trabalho operacional. Desde janeiro foram 100, e a determina��o � que mais 100 transfer�ncias ocorram at� o fim do m�s.
Al�m disso, os administrativos dever�o ser colocados no m�nimo duas vezes por semana para atuar no trabalho de rua, nos hor�rios de maior incid�ncia de crimes. Na semana passado, o comando determinou ainda que o policiamento a p� fosse refor�ado nas vias identificadas por estat�sticas da PM como mais problem�ticas para inibir a ocorr�ncia de delitos. Policiais de cada batalh�o foram orientados a visitar comerciantes, repassando dicas sobre como prevenir assaltos, al�m de incentivar a forma��o de redes de vizinhos e lojistas protegidos, assim como a participa��o em encontros peri�dicos com a PM.
Sobre efetivo e infraestrutura, a PM informou que os cerca de 900 militares em prepara��o – que se formam em janeiro – j� est�o refor�ando o policiamento nas ruas e um processo de loca��o autorizado pelo governo vai permitir a substitui��o de 602 viaturas das 1.013 que integram a frota hoje. O primeiro lote, com 348 ve�culos, ser� entregue na pr�xima segunda-feira.
