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Estado de Minas

Dupla de amigos faz jornada de 820 quil�metros at� Aparecida, em S�o Paulo

Amigos que se conheceram em peregrina��o v�o percorrer a rota que separa as protetoras de Minas e do Brasil, pelo Caminho Religioso da Estrada Real


postado em 23/05/2016 06:00 / atualizado em 23/05/2016 08:03

Edésio Martinho de Oliveira, de 58 anos, e José Eustáquio de Souza Matos, de 62, partem da Serra da Piedade em direção a Aparecida, em São Paulo(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press )
Ed�sio Martinho de Oliveira, de 58 anos, e Jos� Eust�quio de Souza Matos, de 62, partem da Serra da Piedade em dire��o a Aparecida, em S�o Paulo (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press )
Nas m�os, o cajado. Na mochila, o essencial. E, na cabe�a, a determina��o de percorrer uma rota hist�rica e espiritual de 820 quil�metros, com in�cio na Serra da Piedade, em Caet�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, e t�rmino em Aparecida (SP). A dist�ncia n�o assusta nem um mil�metro, pois “mais vale o caminho do que a chegada ao destino”, asseguram, em sintonia fina, os amigos Ed�sio Martinho de Oliveira, de 58 anos, morador da capital, e Jos� Eust�quio de Souza Matos, de 62, residente no munic�pio vizinho de Vespasiano. Nesta manh�, com sa�da prevista para as 6h, os aposentados se tornam pioneiros nos Passos do Crer (Caminho Religioso da Estrada Real), com 40 dias de viagem previstos – totalmente a p�, � bom ressaltar – pela estrada que une os santu�rios da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, e do Brasil, Nossa Senhora Aparecida.

Ontem, pela manh�, na ermida do s�culo 18 que guarda a imagem da padroeira esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1739-1814), Ed�sio e Jos� Eust�quio, acompanhados das fam�lias, assistiram � missa das 8h e receberam b�n��o especial para a jornada, que tem apoio do N�cleo de Estudos e Pesquisas em Pastoral da Cultura (Nepac) da PUC Minas e do grupo Caminhada Mineira, do qual participam. Para entrar no clima – frio na temperatura e acalorado na expectativa –, a dupla pernoitou na hospedaria no alto da serra e conferiu mais uma vez o roteiro previsto de 37 paradas  em cidades, distritos e pequenas comunidades. Como ningu�m � de ferro, est�o programados cinco dias de descanso e mais dois para solenidades de encerramento. “Estou com a canela co�ando”, brincou Jos� Eust�quio diante da capela envolta na neblina.

A primeira parada, a 28 quil�metros do santu�rio mineiro, ser� no distrito de Morro Vermelho, em Caet�, c�lebre pelo in�cio da Guerra dos Emboabas, nos prim�rdios do s�culo 18. Ao lado da mulher,  Norma Sueli Carvalho, Jos� Eust�quio informa sobre a m�dia di�ria de caminhada, em torno de 32 quil�metros, ou 4,5 km/h. “Se come�armos �s 6h, terminaremos por volta das 2 da tarde. Esta �poca � boa para caminhar. D� para andar com tranquilidade, contemplar a paisagem, enfim, fazer parte da vida, o que � bem diferente de simplesmente ver a vida passar”, conta o paulista de Riol�ndia, que se considera mineiro por morar no estado desde bem jovem.

Nos dois primeiros dias, os peregrinos ter�o a companhia do coordenador da Pastoral Cultural da Arquidiocese, professor Josimar Azevedo. “Nada impede que, durante a caminhada, outras pessoas sigam conosco”, convidam. Para quem quiser ficar informado, Ed�sio e Jos� Eust�quio v�o manter um blog (Di�rio dos peregrinos) no endere�o eletr�nico www.santuarionsdapiedade.org.br e postar fotos e contar as novidades no www.caminhadamineira.com.br. Mas eles avisam que querem dist�ncia do mundo real. “A caminhada � uma volta para casa no sentido de mergulho interior. Significa autoconhecimento e contato com a natureza. � um per�odo de transforma��o”, ressalta Ed�sio, morador do Bairro Jardim Am�rica, Oeste de BH, casado com Ivete e pai de tr�s filhos.

PAIX�O EM MOVIMENTO O amor pela caminhada, e, principalmente, pelas peregrina��es espirituais, surgiu h� cinco anos, quando Jos� Eust�quio se aposentou. No seu curr�culo j� est�o a travessia Caminhos da Luz, de Tombos ao Pico da Bandeira, no Leste de Minas, no total de 200 quil�metros; pela Praia do Cassino, entre Rio Grande-Chu� (RS), com 220 quil�metros � beira-mar; e a Romaria da F�, de Lavras a Aparecida, de quase 300 quil�metros. A amizade entre os dois come�ou no segundo roteiro e foi a� que Jos� Eust�quio comentou sobre o desejo de seguir da Serra da Piedade a Aparecida, algo in�dito, de ponta a ponta, projeto sobre o qual tinha conversado com o coordenador do Caminhada Mineira, Marcelo Pereira, ali presente.

“J� tinha feito alguns trechos, mas n�o por inteiro. Ent�o, pesquisei e vi que esse caminho estava sendo estruturado, com a instala��o de t�tens”, explica Jos� Eust�quio, certo da import�ncia de se divulgar o caminho no pa�s e exterior. “Por enquanto, ainda � virtual, mas vamos fazer com que se torne real”, afirma, em um trocadilho com a Estrada Real e o Crer. Entusiasmada, a dupla planeja um livro narrando a experi�ncia, dando dicas e orientando sobre os servi�os encontrados, alimenta��o, monumentos e festas religiosas, j� que fazem parte do roteiro v�rias cidades tur�sticas.

Ao longo da estrada, os dois v�o pernoitar em par�quias, galp�es e casas oferecidas por pessoas das comunidades, tudo previamente detalhado com a equipe do Nepac. Norma Sueli adianta que dar� apoio log�stico: seguir� de carro e estar� nos pontos de chegada, sem interferir no roteiro e nos objetivos do marido e do amigo. Para Marcelo Pereira, a iniciativa � fundamental para dar vida ao Crer. “� preciso, no entanto, que outros grupos de caminhantes sigam o exemplo e divulguem o projeto, para que se torne conhecido internacionalmente”, diz.

BOLHAS E SIL�NCIO A viagem tem mist�rios, segredos e surpresas. No fim de cada percurso, � tarde, o mais indicado � tomar um banho e conferir o estado dos p�s. Depois, vale uma boa prosa. “Carregamos no m�ximo seis quilos na mochila, botas especiais para caminhada e roupas leves, mas todo cuidado com os p�s � pouco”, orienta Ed�sio, mineiro de Rio Vermelho, formado em direito, hoje aposentado. Ele afirma que bolhas sempre aparecem nos pontos de atrito e Jos� Eust�quio acrescenta que j� tem esparadrapos especiais para proteg�-los.

Ed�sio tem uma hist�ria curiosa, que mostra bem a rela��o do caminhante com as bolhas.“Uma vez, tive uma que me tirou do s�rio e n�o sabia o que fazer. Mas, aos poucos, vi que ela estava me dominando, quando deveria ser o contr�rio. Ent�o, passei a ignor�-la e sabe que acabei me esquecendo da dor?” conta o peregrino. O p� na estrada permitiu que Ed�sio se reinventasse. “Quando me aposentei, pensei que os dias seriam mon�tonos, mas enxerguei outro objetivo. Nasci em um lar cat�lico e procuro fortalecer a espiritualidade, a harmonia. A natureza divina est� presente o tempo todo na minha frente durante as caminhadas”, relata, lembrando que procura manter uma alimenta��o balanceada, fazer muscula��o e tomar muita �gua.

Jos� Eust�quio segue as regras da boa sa�de, faz caminhadas di�rias de 25 quil�metros, consultou uma nutricionista e diz que costuma emagrecer nas andan�as mais extensas. “Grande parte desses caminhadas � em estrada de terra. Nas rodovias, � preciso ficar esperto, em especial quando n�o h� acostamento.”

Se a conversa entre os dois parece bem animada, com os dias de caminhada vai minguando. “O sil�ncio � muito importante e vai chegando aos poucos. �s vezes, um vai na frente, outro segue mais distante, cada um no seu ritmo. Afinal, n�o � chegada que queremos, mas a caminhada”, explica Ed�sio. “A gente exercita tamb�m a paci�ncia, a reflex�o, experimenta todos os sentimentos.”

Saiba mais: Caminho Religioso da Estrada Real


Inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, entre Fran�a e Espanha, o Caminho Religioso da Estrada Real (Crer) come�ou a ser planejado pelo governo de Minas, munic�pios e institui��es parceiras h� tr�s anos, para que brasileiros e estrangeiros possam percorr�-lo a p�, de bicicleta ou a cavalo. O trajeto ser� demarcado com sinaliza��o, no sentido de orientar o viajante, j� que muitas partes do percurso s�o em estradas de terra. De acordo com informa��es da Arquidiocese de Belo Horizonte, trata-se de um caminho tur�stico de peregrina��o e medita��o, que abrange 86 munic�pios. Os peregrinos v�o percorrer as 37 cidades que comp�em a rota principal, mas h� outras 49 que formam a �rea de influ�ncia.


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