
Por�m, silenciosamente, em perfis de redes sociais, Rodrigo destinava sucessivas mensagens � apresentadora ga�cha. Os posts alternavam elogios e xingamentos. Em uma das diversas contas que mantinha, todas as 64 mensagens foram postadas em maio do ano passado e direcionadas ao perfil de Ana Hickmann. “Eu sempre te tratei com tanto carinho! Sempre te tratei como uma princesa! Sempre quis te trazer um pouco de felicidade! Por que isso?”, postou, em 7 de maio de 2015.
No mesmo dia, ele postou outras mensagens atacando a apresentadora, como se j� tivesse alguma rela��o com ela, o que vem sendo descartado pelos investigadores. “Voc� usa e, quando enjoa, joga fora. Medo de voc�. Eu n�o mere�o ser tratado assim, sou uma pessoa do bem, de bom car�ter. Voc� n�o merece meu amor. Monstro”, escreveu. Logo em seguida, ele publicou v�rias fotos de Ana Hickmann com a frase “Voc� � um monstro”. Em nenhuma das mensagens, a apresentadora ou sua assessoria respondeu. A obsess�o se repetia na conta do Instagram, onde as fotos e textos dirigidos � modelo por Rodrigo se multiplicavam.
Seu irm�o Helisson P�dua – que esteve no hotel para identificar Rodrigo depois que ele foi morto em confronto com o cunhado da apresentadora, Gustavo Henrique Bello – afirmou que familiares descobriram recentemente sua obsess�o por Ana Hickmann. Por�m, segundo ele, ningu�m imaginava que Rodrigo tentaria se aproximar dela. “Ele veio a BH para conhecer a cidade. Minha mulher descobriu que ele se correspondia pelas redes sociais com a Ana Hickmann, mas a gente nunca desconfiou de que isso fosse algum problema. Era uma pessoa boa, estava sem trabalhar, mas nunca teve problema com ningu�m, era um cara normal”, contou.
O corpo do rapaz foi liberado do Instituto M�dico Legal (IML) na manh� de ontem e chegou por volta das 12h a Juiz de Fora, onde ele morava com os pais. O sepultamento est� marcado para hoje, �s 9h. Segundo fonte ouvida pelo Estado de Minas, necropsia no corpo confirmou que Rodrigo levou tr�s tiros. Exame feito na madrugada de ontem no IML indica que os disparos acertaram a nuca. Dois foram feitos � dist�ncia e um, com o rev�lver encostado no corpo.
Helisson afirmou que Rodrigo nunca teve armas de fogo. A pol�cia ainda apura como ele teve acesso ao rev�lver calibre 38, com numera��o raspada, que foi usado para render as v�timas no hotel. Segundo o delegado Fl�vio Grossi, que investiga o caso, as imagens do hotel ser�o analisadas hoje por peritos da Pol�cia Civil e ainda nesta semana devem ser ouvidos familiares de Rodrigo, assim como Giovana Oliveira, assessora da apresentadora, que se feriu no ataque, caso suas condi��es m�dicas melhorem.
“Passagem ao ato” O professor de psican�lise F�bio Belo, coordenador do curso de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, avalia que casos como o de Rodrigo de P�dua s�o marcados pelo que especialistas chamam de “passagem ao ato”, quando algu�m que alimenta alguma ideia delirante toma uma atitude para dar amplitude e colocar em pr�tica seu del�rio. “Essa ideia pode ter um conte�do er�tico e man�aco, do tipo: eu j� te conhe�o, voc� me ama, voc� � minha namorada, minha mulher, mesmo que as pessoas envolvidas n�o tenham qualquer contato”, explica F�bio.
O especialista ressalta que o caso � muito particular e que n�o � comum esse tipo de atitude que leva uma idolatria ou admira��o ao extremo. “� muito incomum algu�m que ama outra pessoa e acaba por atac�-la. A passagem ao ato raramente acontece. Por isso, precisamos afastar a ideia, que muitas vezes � disseminada, do louco perigoso. Em 99% dos casos de psicose n�o ocorrem epis�dios de periculosidade e as paix�es por �dolos n�o levam � viol�ncia.”
Para ele, o caso tem elementos de uma cultura brasileira marcada pela luta de g�nero, em que a mulher deve se submeter � vontade do homem. Segundo o professor, o acesso facilitado ao �dolo por meio das redes sociais, com grande conte�do de imagens dispon�veis sobre a vida dessas pessoas, � mais um aspecto nas rela��es de admira��o dos dias de hoje.
“No entanto, o problema aumenta quando um indiv�duo quer impor sua vontade sobre o outro, uma quest�o que vai al�m da internet. S�o elementos da cultura que acabam justificando essa passagem ao ato. Um homem atacando uma mulher bem-sucedida, emancipada e independente. Aspectos comuns nos casos de viol�ncia de g�nero”, avalia F�bio.
Postagens de uma fixa��o
Rodrigo mantinha v�rios perfis no Twitter (abaixo). Assimo como neles, no Instagram as mensagens direcionadas a Ana Hickmann se sucediam

No twitter
Maio de 2015
@ahickmann Sabe que Deus tira as pessoas ruins de perto de quem � bom? Pois �, ele me tirou de perto de vc. E n�o fique achando que eu sou ruim. Porque quem tem alian�a no dedo � voc�
@ahickmann Eu nunca me senti t�o humilhado como agora. Vc respondeu pessoas que eu nunca vi te escrevendo e me ignorou! O que eu fiz para vc?
F�s psicopatas:
Caso Aim�e
Em Paris, no in�cio dos anos 1930, uma mulher de 38 anos atacou com facadas uma atriz de teatro quando ela entrava em uma casa de shows. O caso despertou grande interesse entre psiquiatras europeus e foi estudado pelo psicanalista Jacques Lacan, que criou o pseud�nimo “Aim�e” para sua paciente. Em entrevistas ao especialista, ela contou que estava sendo perseguida e que atores e atrizes de teatro estavam espalhando boatos sobre ela. No entanto, nunca tinha tido contato com sua v�tima. O caso foi um dos primeiros do tipo a serem estudados profundamente por especialistas em psican�lise.
M�nica Seles
Em 1993, a tenista s�rvia naturalizada norte-americana M�nica Seles foi apunhalada por Gunter Parche, um psicopata obcecado pela tenista rival Steffi Graff. O ataque ocorreu no meio da quadra de t�nis, durante uma partida. Mesmo recuperada dos ferimentos, Seles ficou afastada do t�nis por dois anos. Parche foi condenado, mas n�o ficou preso, uma vez que foi considerado doente mental pela Justi�a alem�. Foi levado para uma institui��o para tratamento psicol�gico.
John Lennon
O cantor e compositor brit�nico foi assassinado com quatro tiros na porta de seu apartamento, em 1980, na cidade de Nova Iorque. O assassino, Mark Chapman, era f� do artista e dos Beatles e tinha pedido um aut�grafo no mesmo dia. Ele alegou ter “ouvido vozes” e disse que visitava a entrada do apartamento de Lennon, em frente ao Central Park, v�rias vezes por dia. Chapman, no entanto, nunca foi diagnosticado como perturbado mentalmente e foi condenado a pris�o perp�tua. Em outros depoimentos, afirmou que matou John porque o ex-Beatle blasfemou ao se dizer maior do que Jesus.