Ou, mais precisamente, “dois patos, um marreco e um ganso”, como detalha o pedreiro Renato Andrade, de 41 anos. Acostumado a pescar til�pias no lago, ele sugere o que muita gente imagina: “H� fam�lias comendo bichos de penas por essas bandas”.
H� quem revele at� ter ouvido – e por v�rias vezes – o desespero dos animais ao serem capturados durante a madrugada. “Escutei os gritos por volta das 4h”, conta Maria de Jesus, de 64, vizinha do lago. Ela mora numa casa a cerca de 300 metros da barragem, pr�ximo a uma das entradas do Morro do Papagaio.
Dona Maria tamb�m costuma pescar no lago. Quase sempre, aproveita peda�os de p�o usados como iscas para til�pias para tamb�m alimentar patos e companhia. “Tinha mais de 60. Tinha muitos, mo�o. Tinha o grand�o, companheiro daquele ali, �. Cade ele? N�o tem mais. S� tem quatro agora”, lamenta a senhora, enquanto arremessa o anzol na �gua.

Ela garante que jamais “pescou” uma ave no lago. Tampouco comeu carne vinda da barragem que n�o fosse de peixe. Mas dona Maria concorda que a captura das aves n�o � dif�cil, pois, � aus�ncia de uma ilha no lago artificial, os patos descansam na beira dos barrancos, tornando-se presas f�ceis tanto para o homem quanto para animais com instinto de ca�a.
Por isso, h� quem acredite que parte do sumi�o das aves esteja ligado ao ataque de c�es. “� verdade. Tem cachorro que come pato mesmo. Mas � claro que o pessoal leva (as aves) para casa”, conclui o bikeboy Gilmar Lopes de Ara�jo, de 41. Ele n�o sabe ao certo quantos patos, marrecos e gansos viviam na lagoa, mas garante que eram dezenas, entre adultos e filhotes. H� cinco meses, por exemplo, ficou encantado ao se deparar com uma ninhada com pelo menos 10 patinhos. Poucas semanas depois, todos sumiram: n�o s� pequenos, mas tamb�m a m�e.

Gilmar se lembra ainda dos “grand�es”: “Eram cinco. Agora, sobrou apenas um”. O ganso a que ele se refere passou parte da tarde de ontem descansando sob a sombra de uma �rvore. Mais um que demonstrou ser uma v�tima f�cil, como avalia o morador da regi�o Marisvaldo Silva, de 51. O homem acredita que a constru��o de uma ilha artificial pode ser fundamental � sobreviv�ncia das aves. “Mas ela tem de ser feita de modo que os frequentadores da orla n�o tenham acesso ao lugar”, acrescentou.
O pr�prio Marisvaldo, que cria galinhas e gatos numa casa no alto do morro, explica o porqu� de sua ideia: “Sou um homem apaixonado pelos animais. S� n�o crio patos no meu quintal porque minha �rea n�o � plana e as aves gostam de terrenos sem morro. Com a ilha, os patos, marrecos e gansos poderiam ficar sossegados. Podem se reproduzir na ilha e n�o mais botar ovos nas margens do lago, onde viram alvos f�ceis das pessoas”.
Enquanto isso
Disputa entre a vara e o bico
A �nica gar�a que vive na Barragem Santa L�cia disputa til�pias com pescadores que passam o dia no lago artificial. Ela bate as asas de um lado para o outro, sem se incomodar com a presen�a dos donos das varas. Tanto que costuma pousar a poucos metros dos pescadores, na esperan�a de que seja presenteada com algum peixe. “Se deixar, ela come o que a gente consegue tirar da �gua”, garante o armador Jo�o Batista de Souza, de 58 anos. Ontem, ele levou mais de um quilo de til�pias para casa. “Tamb�m tem tucunar� na lagoa, mas hoje n�o peguei. Dizem que tem at� carpa, mas nunca vi.”

