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Estado de Minas

Fam�lias usam artimanhas para ter ajuda dos filhos em tarefas de casa

Bilhete de agente de turismo para filha, em que condiciona uso da internet ao cumprimento de tarefas, viraliza na web e abre discuss�o sobre m�todos para educar crian�as e adolescentes


postado em 04/06/2016 06:00 / atualizado em 04/06/2016 09:45

Na casa de Andréa Guimarães, jogos viraram moeda de troca para que filhos cumpram tarefas (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press. Brasil)
Na casa de Andr�a Guimar�es, jogos viraram moeda de troca para que filhos cumpram tarefas (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press. Brasil)

Aos 50 anos, o agente de turismo Paulo Machado, de S�o Paulo, teve direito � fama instant�nea na internet reproduzindo, na p�gina da filha no Facebook, algo de mais �ntimo e pessoal: um bilhete para a “filhota” Catarina, de 17 anos, escrito a m�o em folha branca, caneta esferogr�fica e caligrafia caprichada. “A partir de hoje, todos dias vou mudar a senha do wi-fi de casa. Para receber a senha de hoje, precisas arrumar o teu quarto e lavar a lou�a. Do pai que te adora”. Em menos de 24 horas, o lembrete carinhoso, e ao mesmo tempo, firme, teve mais de 100 mil compartilhamentos, 71 mil curtidas e 12.400 novos seguidores. At� ent�o, o post mais cotado, dizendo que “viajar vicia, mas faz um bem danado � sa�de”, tinha 251 curtidas. Em Belo Horizonte, m�es e pais tamb�m usam artimanhas para garantir a ajuda de seus filhotes nas tarefas dom�sticas, mas h� quem critique o artif�cio.

Quatro pessoas, uma casa grande, muitas tarefas. E apenas uma para fazer tudo. Cama desarrumada, talheres para serem lavados, c�es para serem alimentados e uma briga di�ria para definir qual dos dois filhos toma banho primeiro. Diante de tantos impasses, a dona de casa Celeste Avelar, de 46 anos, n�o teve d�vidas e implantou, h� cerca de tr�s anos, uma rotina rigorosa em casa. Os dias da semana s�o igualmente divididos para que Heitor, de 15, e Rafael, de 14, ajudem nas tarefas dom�sticas.

Segundas, quartas e sextas-feiras s�o os dias em que o mais velho deve arrumar as camas, p�r a mesa do caf� da manh� e dar comida aos cachorros. Ele tamb�m deve ser o primeiro a tomar banho, mas, em compensa��o, tem o direito de andar no banco do passageiro do carro ao lado do motorista. O ca�ula assume essas responsabilidades �s ter�as, quintas e aos s�bados. Domingo h� um revezamento: ora um, ora outro.

Celeste conta que cresceu com cinco irm�os, sendo ela a �nica mulher. “No fim de semana, cabia a mim arrumar a casa. S� podia sair depois de cumprir as obriga��es. Prometi que se tivesse filhos ou filhas, a regra seria a mesma e teriam de me ajudar”, conta. “N�o temos empregada e ningu�m para ajudar. � muito pesado fazer tudo sozinha. Eles reclamam, mas penso que ser� bom para eles no futuro”, acrescenta. Na hora do aperto, sobra para todo mundo. E o marido tamb�m n�o escapa. “Eu tamb�m quero descansar e, se todos colaborarem, isso � poss�vel para todos n�s.” Se algu�m sai da linha, a regra � clara: ficam canceladas brincadeiras, o jogo de futebol e o skate.

Para a psic�loga de Belo Horizonte Paula Mello, o grande erro do seu xar� de S�o Paulo foi impor a troca da senha do wi-fi todos os dias, o que pressup�e que essa seja uma pr�tica comum na fam�lia. “Em vez de cobrar por lavar a lou�a e arrumar o quarto, aqui em casa a gente lida melhor com combinados. Tento valorizar meus filhos. Durante a semana n�o costumo deixar que liguem os eletr�nicos, mas hoje o Jo�o terminou o dever de casa e leu um livro inteiro pela manh�. Mereceu a recompensa de brincar com o X-box, antecipando o ritmo do fim de semana”, explica a m�e, que deixou de trabalhar fora para se dedicar � filha J�lia, que est� adolescendo aos 14 anos, e ao ca�ula Jo�o, de 8.

A jornalista Andr�a Guimar�es, de 39, esperou apenas os filhos Izabela, de 7, e Arthur, de 9, crescerem um pouquinho para, desde cedo, tamb�m p�r ordem na casa e usou de artimanha para o casalzinho dar conta dos afazeres dom�sticos e dos estudos. Nos fins de semana, eles t�m a obriga��o de estender a roupa de cama, retirar copos e pratos da mesa, pegar a roupa suja e p�r no cesto, lavar o prato do lanche e passear com o cachorro. Eles d�o at� mesmo uma for�a para a m�e na cozinha e, na hora de fazer o bolo, l� est�o as crian�as prontas para ajudar. Na contrapartida, est� valendo algo de que os meninos gostam muito: joguinho no telefone celular. “Tenho esperan�a de que mais para frente meus filhos consigam executar as tarefas sem eu ter de fazer chantagem, porque acho isso muito chato”, afirma.

Em entrevista a O Estado de S.Paulo, Machado disse que a repercuss�o mostra como o assunto � preocupante e aflige os pais e a fam�lia do mundo moderno. Ele acrescentou que a rea��o foi muito positiva, tanto da parte dos pais quanto dos filhos. Catarina tamb�m achou a repercuss�o interessante, segundo o pai, e percebeu que � uma preocupa��o n�o s� dos pais dela, mas de milh�es de outras pessoas no mundo inteiro.

Para quem ficou curioso com o desfecho do caso, Paulo Machado contou que a t�tica deu certo, em entrevista ao tabloide Extra, do Rio de Janeiro. Em cerca de cinco minutos, a filha respondeu na mesma moeda: envio ao pai fotos mostrando uma pia sem lou�a e outra do quarto arrumado.


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