
Belo Horizonte teve nos primeiros tr�s dias de junho c�u t�pico de um janeiro chuvoso, com temporais, rajadas de vento e trov�es. Bom para quem curte um friozinho, pois � pren�ncio de um inverno que pode ser o mais rigoroso dos �ltimos quatro anos em Minas Gerais. Melhor para quem j� sentia falta da chuva, depois de um m�s inteiro de seca. Mas nem t�o bom assim para os que enfrentam os conflitos trazidos pelo tempo incomum na sexta-feira de uma grande cidade, como tr�nsito lento, acidentes, quedas de �rvores e falta de luz el�trica. O fen�meno � at�pico para o m�s, mas n�o imposs�vel, segundo meteorologistas. Ontem, a previs�o era bater o recorde de 60 anos da m�dia hist�rica de precipita��es para junho.
O meteorologista Luiz Ladeia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), estava certo de que a marca hist�rica seria ultrapassada, pois, desde a quarta-feira at� as 14h de ontem, j� havia chovido 66 mil�metros. O maior registro, at� ent�o, datava de junho de 1956: 68 mil�metros. Segundo ele, a situa��o se deve ao deslocamento de uma frente fria que estava estacionada sobre o Rio de Janeiro e S�o Paulo. Ventos do Leste predominaram e jogaram a umidade para outras regi�es, incluindo terras mineiras.
Al�m de chuva, o vento � respons�vel ainda por trazer um friozinho ao estado na semana que vem. O fim de semana promete agradar tanto a quem quer curtir a folga quanto aqueles que pretendem se esconder sob o edredom. Isso porque a previs�o � de tempo ainda inst�vel, mas com tr�gua nas tempestades, j� que a frente fria come�a a perder for�a. Em BH, a regi�o com a maior ocorr�ncia de chuva foi a Oeste, de acordo com a Defesa Civil municipal. Foram registrados 41,8 mil�metros at� as 14h. Barreiro, Noroeste e Centro-Sul apareceram na sequ�ncia: 40,3mm, 39,8mm, e 37,6mm, respectivamente.
Na capital, foi preciso tirar sombrinhas e agasalhos do arm�rio, al�m de criatividade para enfrentar a queda de energia em alguns locais. Quem foi ao Restaurante Faminthus, no Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul, almo�ou � luz de velas. Foi a sa�da encontrada pelo dono, Rog�rio Rosas, para iluminar o ambiente e perder menos clientes. Mesmo assim, o preju�zo foi grande, com queda do movimento pela metade, segundo ele. “De vez em quando falta luz aqui, seja pela chuva ou pela falta de poda nas �rvores”, disse.
O jeito foi p�r velas no buf� e nas mesas . “� importante bom senso, calma e bom humor nessas horas. N�o adianta ficar nervoso. Mesmo assim, h� muitos clientes que n�o se sentem � vontade”, disse Rog�rio. Mas alguns, como a universit�ria Lu�za Pereira de Oliveira Santos, de 20 anos, adoraram a ideia. Ela havia tentado outro estabelecimento, mas como estava escuro, procurou uma op��o e se rendeu � luz de velas. “Mandei foto para meus amigos, dizendo que estava em um encontro em pleno almo�o”, contou, bem-humorada.
O clima rom�ntico, mesmo que involunt�rio, tamb�m fisgou o casal Aline Soares, de 28, e Eduardo Paiva, de 35. “Parece at� que antecipamos o Dia dos Namorados. Estou achando �timo, uma maneira de quebrar a rotina e o estresse da semana”, afirmou a administradora. Com a volta da energia, a vendedora D�bora Alves de Oliveira, de uma loja de bombons, comemorou, enquanto aproveitava para lan�ar no computador os neg�cios feitos pouco antes. “Perco muitas vendas de caf�, porque a m�quina � el�trica, de produtos que precisam ser pesados e das empadas, que esfriam”, contou.
Pela cidade, a sexta-feira – dia oficial do happy hour e, para os mais cansados, de tentar chegar mais cedo em casa – com chuva, mais carros pelas ruas, mais queda de �rvores e sem�foros estragados exigiu dose extra de paci�ncia. A BHTrans registrou, at� as 16h30, 15 problemas em sem�foros. Houve ainda quatro acidentes, sendo tr�s sem v�timas e um grave – um atropelamento na Avenida do Contorno, no Bairro Santo Agostinho, Regi�o Centro-Sul de BH.
A empresa de gerenciamento de tr�nsito da capital registrou ainda um alagamento, cinco ocorr�ncias de ve�culos com problemas mec�nicos e tr�s quedas de �rvores, que causaram transtornos e lentid�o no tr�nsito. No Bairro Serra, a fia��o el�trica foi atingida. No Bairro de Lourdes, um carro foi atingido e a Rua S�o Paulo tamb�m ficou interditada. No Belvedere, um galho fechou a Rua Professor Saul Macedo.
Mas nada disso incomodou a estudante Lorena de Azevedo, de 23: “Estou achando �timo ter uma chuva em um per�odo que � normalmente t�o seco. A gente nem pode reclamar, pois recentemente vimos que � melhor ter muita �gua do que ter nenhuma”.
Prepare o
agasalho
Segundo o meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto ClimaTempo, o enfraquecimento do fen�meno El Ni�o, que provocou altas temperaturas na primavera e no ver�o, deve trazer frio intenso ao estado na pr�xima esta��o. As condi��es clim�ticas devem facilitar a passagem de frentes frias pelo litoral. “Consequentemente, teremos pancadas de chuva em julho, agosto, at� o come�o de setembro, com quedas de temperatura. Podemos ter dias at� com a m�xima n�o passando dos 20 graus, dando uma sensa��o de frio. A m�nima deve chegar a 9 graus em BH”, explica Ruibran. “Este inverno pode ser o mais frio dos �ltimos quatro anos em Minas”, diz.