
Trata-se do Museu do Sexo Hilda Furac�o, cujo ato de funda��o ocorreu ontem no p�tio do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), embaixo do Viaduto da Floresta. O Museu pretende convergir diversas a��es tanto art�sticas quanto educativas na regi�o e propor uma reflex�o ampla sobre sexo. A funda��o foi durante festa em que os convidados puderam trocar entre si objetos er�ticos, muitos deles expostos no ambiente. “� um museu zona, que � um museu territ�rio, mas a palavra zona � mais apropriada que territ�rio. � algo que prop�e caminhos, tramas simb�licas de Belo Horizonte”, define o coordenador do projeto, o artista visual Francilins.
H� 15 anos ele atua na regi�o bo�mia da capital fotografando e acompanhando o dia a dia das profissionais do sexo. “� uma regi�o que me dava repulsa e, ao mesmo tempo, provocava fasc�nio. Enfrentei e procurei entender do ponto de vista emotivo, sexual, t�til, intelectual, social e antropol�gico”, diz. Na regi�o, trabalham cerca de 3,2 mil mulheres e mulheres trans, em 28 hot�is. Francilins lembra que a ideia de “museu zona” indica a metodologia para a constitui��o do acervo, que sobrep�e uma a malha simb�lica � arquitet�nica da cidade. “O sexo � a coisa mais fundamental da humanidade”, diz. Trata-se de um museu vivo, uma vez que o percurso integra os locais de trabalho das profissionais.
A ideia � possibilitar exposi��es, palestras e outras atividades que tematizem o sexo. A primeira iniciativa ser� a abertura de um edital convocando artistas para resid�ncias art�sticas nos hot�is. Para a presidente da Associa��o das Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig), Cida Vieira, o Museu do Sexo contribuir� para a revitaliza��o da regi�o bo�mia da capital. “Devido ao estigma, muitas vezes, a cultura desses lugares � esquecida. Hilda � um �cone, mas, por l�, passaram muitas pessoas do Brasil e de outros pa�ses”, diz.
Laura Maria do Esp�rito Santo, de 58, h� pelo menos 30 trabalha na regi�o. “As pessoas t�m vergonha de falar sobre sexo. H� muita repress�o. Mas se fizesse parte da educa��o familiar falar sobre sexo – o que � bom, os cuidados –, n�o ter�amos tanto estupro e tantas doen�as”, argumenta. Para ela, embora o sexo seja vital na vida das pessoas, ainda � tabu. “Ao longo dessas tr�s d�cadas, a Guaicurus mudou para melhor. Agora temos mais seguran�a, parceria com psic�logos, dentistas e universidades”, destaca.
Aposentada, Cleuza M�rcia Borges, de 63, criou a fam�lia com o trabalho na Rua Guaicurus. Atualmente, ela � multiplicadora dos cuidados para o sexo seguro. “A maioria das prostitutas n�o assume a identidade”, afirma, lembrando que vai a diversos lugares para falar sobre sexo. A antrop�loga Marina Fran�a, que fez mestrado e doutorado sobre a zona bo�mia, defende que, apesar de muitos trabalhos e reportagens sobre o lugar, ainda � preciso aprofundar a pesquisa sobre a regi�o.