
Governador Valadares – Conquistar a Am�rica e voltar com os bolsos cheios de “valad�lares”, como os moradores da regi�o se referem � moeda americana, � um sonho que povoa o imagin�rio de um sem-n�mero de fam�lias valadarenses. Mas muita gente da cidade que mais exporta brasileiros para os Estados Unidos paga um alto custo para realiz�-lo. O desejo de voltar da terra do Tio Sam com a vida ganha e ajudar a movimentar a economia da maior cidade do Vale do Rio Doce nem sempre sai como planejado, o que prejudica n�o s� os chefes de fam�lia, sejam pais ou m�es, mas at� o pr�prio desenvolvimento dos filhos.
� o que mostra, entre outras abordagens, o estudo “Conviv�ncia familiar e comunit�ria de crian�as e adolescentes e vulnerabilidades no processo de migra��o internacional”, que rendeu o t�tulo de doutora a Silvana Andrade Pena Knup. A tese, sob orienta��o do professor Duval Fernandes, foi aprovada no Programa de P�s-gradua��o em Geografia: Tratamento da Informa��o Espacial, da PUC Minas.
Muitos adultos planejam viajar sem a companhia dos filhos, para juntar alguma economia, com planos de, em um segundo momento, reunir a fam�lia no estrangeiro. Mas nem sempre isso ocorre no tempo imaginado pelos migrantes. Ainda h� pais que deixam os pequenos sob a tutela de parentes, pois acreditam que conseguir�o retornar antes de a crian�a crescer e com os bolsos cheios de d�lares, podendo transformar sonhos em realidade, como o de comprar a casa pr�pria ou financiar ao descendente uma educa��o de melhor qualidade.
Mas a dist�ncia entre pais e filhos pode interferir na rela��o de afeto. Em sua tese, Silvana cita o psiquiatra John Bowbly, autor da teoria do apego, para mostrar que “os v�nculos familiares dos pais com a crian�a dependem da responsividade do adulto aos apelos desta por contato”. “V�nculos fortes e seguros criados nos primeiros anos de vida preparam melhor a crian�a para suas rela��es ao longo de toda a vida”, escreveu.
Bowbly, continua a doutora, “afirma que, se v�nculos forem criados bem cedo, tanto com a m�e quanto com qualquer outro adulto que se mostre bastante responsivo �s necessidades da crian�a, ela sofrer� um processo de ‘luto’ ao passar por um afastamento, por�m, o v�nculo j� estar� criado”.
‘Voc� n�o � meu pai’
Um dos entrevistados relatou a Silvana que viajou para os Estados Unidos quando a filha tinha 6 meses de idade. Ficou l� por quatro anos e dois meses. “(Depois de que eu retornei), a gente fica vergonhoso na hora de brigar (corrigir) com ela. A gente fica com vergonha, porque ela j� est� grandinha, com 5 anos, e, por ter ficado longe, ela pode falar: ‘Voc� n�o � meu pai’. Agora (ela) acostumou, mas, no come�o, ficava meio assim (…). Meu primo ficou muitos anos l� e, quando ele veio, a menina estava com 10 anos. Hoje, ele j� legalizou, a menina conversa com ele, mas n�o � aquela coisa de pai e filha. � uma coisa mais distante”, relatou Jos� (nome fict�cio).
“Mesmo sentindo muita culpa ao tomar a decis�o dif�cil de deixar seus filhos no Brasil, (pais) fazem essa escolha justificando que os beneficiar�o materialmente e, em muitos casos, subestimam os custos afetivos e emocionais que o processo migrat�rio pode inflingir � crian�a que � afastada tempor�ria ou definitivamente dos seus pais”, avaliou Silvana.
Ela constatou ainda que o adiamento do retorno e a impossibilidade de reunifica��o da fam�lia “podem ter impacto bastante negativo nas uni�es preexistentes, levando � separa��o definitiva de casais e a perdas de v�nculos com crian�as que foram deixadas no Brasil”.